O índice de preço das exportações brasileiras caiu 2,1% no acumulado até maio deste ano, na comparação com igual período do ano passado, em razão de cotações menores dos produtos semimanufaturados e manufaturados. Como essa queda foi mais intensa que o recuo de 1,8% nos preços médios de importação no período, a evolução dos termos de troca voltou a ser negativa neste ano.
Após queda de 5,1% nos primeiros cinco meses de 2012, a relação entre preços de exportação e de importação foi 0,3% menor entre janeiro e maio de 2013, na comparação com igual período do ano passado. Os números são da Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex).
Para Fernando Ribeiro, coordenador do grupo de estudo de conjuntura do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), ao contrário do que ocorreu na década passada, os termos de troca deixaram de inflar o saldo comercial do país. Hoje, a contribuição é praticamente neutra.
Para explicar o déficit de US$ 5,4 bilhões da balança comercial até maio, a evolução do volume de comércio é mais importante, afirma. No acumulado do ano, a relação entre o volume das exportações e importações brasileiras caiu 11% em relação aos primeiros cinco meses de 2012. Parte desse recuo, diz, decorre do registro atrasado de importações de combustível pela Petrobras e por paradas programadas para manutenção de plataformas, que prejudicaram as vendas externas. Até maio, o volume de exportações de combustível acumula queda de 39%, enquanto o quantum de importações subiu 23% em igual período.
Para Ribeiro, apesar dos fatores pontuais que influenciaram o resultado nos primeiros cinco meses do ano, a tendência é de que os saldos comerciais sejam cada vez menores. "Já estávamos vendo que o volume de importações estava aumentando, mas os termos de troca compensavam esse efeito. Agora, as cotações de exportação deixam de contribuir positivamente".
Os termos de troca só não pioraram mais nos cinco primeiros meses de 2013 por causa da alta de 1,8% das cotações de produtos básicos entre janeiro e maio deste ano, sempre na comparação com igual período do ano passado. Nos últimos dois meses, no entanto, as cotações pioraram nessa classe de produtos. Apenas em maio, os preços de produtos básicos caíram 2,6% em relação ao ano passado. Para Rodrigo Branco, economista da Funcex, a alta do minério de ferro no mercado externo ajudou a segurar as cotações de commodities no primeiro trimestre, mas as perspectivas são menos animadoras, já que a demanda na Europa e na China, mercados importantes para o produto, segue fraca.
Em relação às commodities agrícolas, Branco avalia que as projeções são de boa safra nos Estados Unidos, o que tende a jogar preços de grãos para baixo. Confirmadas as expectativas, ainda há cerca de 40% da produção de soja brasileira a ser escoada, que tende a ser exportada em condições de preço menos favoráveis. "A nossa pauta é muito centrada em commodities, e com baixa demanda pelos nossos parceiros globais, não há espaço para ganhos de preço".
A desvalorização recente do real pode acentuar a queda dos preços de exportação de manufaturados, que é de 3,4% no acumulado até maio, caso a indústria passe a renegociar preços para aproveitar o câmbio mais favorável para exportações. Branco, no entanto, acha que esse movimento só seria relevante se a depreciação cambial fosse mais acentuada.
Para Ribeiro, do Ipea, a perda de valor do real em relação ao dólar pode contribuir para algum ajuste na balança comercial, mas será pouco relevante. "O câmbio impacta mais as importações porque as tornam mais caras. Mas no caso das exportações, a demanda global é determinante". O prognóstico não é favorável. A economia chinesa, importante compradora de produtos brasileiros, está perdendo força, assim como mercados importantes para o Brasil na América Latina, como Argentina e Venezuela, diz.
A economia americana, que dá sinais mais consistente de recuperação, perdeu importância como parceiro comercial do Brasil. "Se o crescimento global for de fato concentrado nos Estados Unidos, o efeito imediato aqui tende a ser menor", comenta. Os impactos se dariam mais de forma indireta, por meio da recuperação de outros mercados.
Felipe Tâmega, economista-chefe da Modal Asset, avalia que os anos de bonança para o país acabaram e terão implicações sobre o consumo, já que termos de troca menos robustos implicam dizer que, com o mesmo volume de exportações, o país consegue comprar menos importados. Vamos ver anos de desaceleração da China, e isso vai ter impacto relevante nos preços de commodities".
Ao mesmo tempo, os ganhos recentes de produtividade nos EUA e a revolução energética em curso, com a exploração de gás de xisto, fortalecem a indústria americana. "Isso significa que vamos ter mais competidores no mercado de manufaturas, um cenário bastante ruim para a indústria brasileira".
Veículo: Valor Econômico