O sinal dado ontem pelo Fed (banco central americano) de que pode retirar os estímulos à economia dos EUA e diminuir a quantidade de dólares na praça abalou o mercado brasileiro. O dólar fechou o dia a R$ 2,20, alta de 1,29%, e a Bolsa de Valores de São Paulo caiu 3,18%.
O sinal dado ontem pelo Fed (banco central americano) de que pode retirar ainda este ano os estímulos à economia e diminuir a quantidade de dólares na praça sacudiu o mercado brasileiro.Enquanto o presidente do Fed, Ben Bernanke, dava entrevista em Nova York, no Brasil a cotação do dólar disparava e as ações despencavam.
No fim do dia, o dólar fechou a R$ 2,20, alta de 1,29%. É o patamar mais alto desde 27 de abril de 2009. A Bolsa de Valores caiu 3,18% e fechou aos 47.893,06 pontos. É a menor cotação desde abril de 2009, auge da crise financeira global
Com a disparada do dólar e o receio de uma alta na inflação, a taxa de juros também disparou nas apostas no mercado futuro. Até o fim do ano, acreditam os investidores, a taxa básica de juros terá passado dos atuais 8% ao ano para 10% ou mais.
Economistas não enxergam trégua tão cedo. Para eles, o sinal dado pelo Fed dá a certeza que o cenário internacional mudou e que a pressão sobre o Brasil deve continuar - ou aumentar - daqui para a frente.
O diretor de pesquisas para a América Latina do banco Goldman Sachs, Alberto Ramos, afirmou que o Fed sinalizou estar em pleno curso a reversão da política de estímulos à economia. Por isso, prevê a continuidade do fortalecimento do dólar em nível global, o que deve aumentar a pressão sobre a inflação no Brasil, ao elevar o preço dos produtos importados.
"O Banco Central no Brasil provavelmente terá de fazer um aperto monetário mais forte e elevar a Selic (taxabásica de juros) a 10% neste ano."
Ramos disse, porém, que, depois da fase de turbulência, o mercado internacional vai rever a situação do Brasil. Se o BC, disse, confirmar sua disposição em combater a inflação, elevando os juros em 0,5 ponto porcentual em julho, e o governo parar de fazer "experimentalismos" nas contas públicas, os investidores devem voltar, atraídos pela taxa de juros mais alta.
Mais pobres» Para o Coordenador de Economia Aplicada do IBRE/FGV, Armando Castelar Pinheiro, o Fed está começando a preparar o terreno para retirar os estímulos. "Isso acabou fazendo com que as bolsas, que já estavam no zero a zero, começassem a cair, os juros a subir e o real a se desvalorizar", afirmou. A atual desvalorização do real não deve ter o mesmo roteiro de outros momentos turbulentos do mercado, quando parte da alta do dólar era devolvida nos dias seguintes, Agora, segundo Castelar, há uma mudança nas condições externas.
"O BC tem recursos para fazer a coisa andar mais devagar ou mais rápida, mas não tem como impedir (a alta do dólar), e esse aumento pode ser até uma forma saudável de a economia se ajustar", disse. "Mas haverá uma redução da renda e um processo de alta da inflação. A alta do dólar é mais permanente", afirmou o economista.
Para Castelar, se o BC estiver disposto a trazer a inflação para o centro da meta de 4,5%, a Selic deveria ir para 11% "ou mais".
Os desajuste nas políticas fiscal e monetária e a expansão acelerada do crédito pelos bancos públicos trazem mais dificuldades para uma reação da economia brasileira a essa mudança de cenário, disse Castelar.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, que dava entrevista coletiva sobre tarifas de ônibus no momento do comunicado do Fed, considerou a fala de Bernanke "meio enigmática", mas avaliou que a inflação não sairá do controle.
Veículo: O Estado de S.Paulo