Moeda dispara após fala de Bernanke, mas reduz valorização no fim do dia e fecha em R$ 2,177; BC não intervém
Cresce aposta de economistas em alta de juros, o que deixa títulos americanos mais atraentes a investidor
ANDERSON FIGO COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A indicação do presidente do banco central americano, Ben Bernanke, de que os estímulos econômicos no país podem ser totalmente retirados até o ano que vem derrubou aplicações consideradas de risco nos EUA e em países emergentes, como o Brasil.
O índice Dow Jones, da Bolsa de Nova York, terminou o dia em baixa de 1,35%, e o Nasdaq, de 1,12%.
A Bolsa brasileira fechou em queda de 3,17%, no menor nível desde abril de 2009 (47.893 pontos).
E o dólar à vista --referência para as negociações no mercado financeiro--, que chegou a bater R$ 2,22 logo após o pronunciamento de Bernanke, encerrou os negócios em R$ 2,177, o maior preço desde abril de 2009, em alta de 0,67%.
Apesar da depreciação do real, o Banco Central não interferiu no mercado para conter a alta do dólar.
A sinalização da autoridade monetária americana de retirar progressivamente os estímulos econômicos --recompra mensal de títulos públicos-- tem efeito negativo sobre os mercados de risco porque reforça a aposta em aumento do juro básico dos EUA, atualmente quase zero, no médio prazo.
A perspectiva de juro mais alto torna os títulos públicos americanos, remunerados pela taxa e considerados de baixo risco, mais atraentes aos investidores globais do que aplicações em Bolsa, principalmente em mercados emergentes.
"O mercado se assustou com a proximidade do corte dos estímulos", diz André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos.
O especialista destaca que, embora não tenha definido uma data exata para começar a reduzir suas compras de títulos, o banco central americano disse que deve concluir esse processo na metade do ano que vem.
"Está perto. Ele basicamente disse que vai deixar de injetar cerca de US$ 1 trilhão na economia americana, e consequentemente na global, em um prazo de 12 meses", acrescenta o economista.
ESTRANGEIROS
Pedro Galdi, analista da SLW Corretora, ressalta que a Bolsa brasileira tem grande participação de estrangeiros.
"Caso haja uma fuga desses investidores, o mercado ficará com menos volume de negócios e muito mais suscetível a oscilações bruscas."
O analista Gabriel Ribeiro, da Um Investimentos, porém, acredita que os juros dos EUA não devem subir já no próximo ano, apesar do corte nos estímulos.
"Se o Fed já anunciou que vai começar a reduzir estímulos, é improvável que suba os juros tão cedo", diz.
Veículo: Folha de S.Paulo