Apesar da leve alta de 0,67% registrada pelo Ibovespa ontem - com ligeira subida no preço de algumas ações de empresas abertas de consumo - a maioria voltou a fechar em queda ontem, ampliando ainda mais a perda de valor de mercado das companhias de varejo e consumo nas últimas semanas. Desde o dia 29 de maio, quando os papéis do setor começaram a cair em bloco, as 32 empresas do setor com ação em bolsa perderam R$ 60,4 bilhões em valor, caindo de R$ 500,9 bilhões no fim de maio - soma recorde no ano - para R$ 440,5 bilhões ontem, segundo cálculos do Valor Data.
Pelos números de ontem, a metade das 32 empresas registra queda em suas cotações - entre elas, Magazine Luiza, Hypermarcas, Natura e Raia Drogasil. A Ambev, empresa com o maior valor de mercado do setor, registrou no último dia 13 de junho o seu pior patamar de valor, em R$ 238 bilhões, desde o início da queda em bloco das ações do setor, em 29 de maio. Desde então, ou seja, nas últimas três semanas, a Ambev perdeu R$ 27 bilhões em valor, mas reagiu nos últimos quatro pregões.
Apesar das perdas, ontem, pela primeira vez nas últimas três semanas, seis papéis fecharam em alta, o melhor número desde o fim de maio, incluindo B2W e Lojas Renner. Mas ainda há dúvidas no mercado de que o momento de inflexão dessa tendência de queda esteja próximo, especialmente porque não há sinais, a curto prazo, de que novos dados macroeconômicos positivos, e ligados ao setor, possam ser anunciados.
Segundo o Valor Data, o valor de mercado das 32 companhias, que foi a R$ 487,3 bilhões ao fim de março e R$ 487,7 bilhões ao fim de abril - atingiu R$ 500,9 bilhões em 28 de maio - valor recorde para o ano - e desde então, só cai, até atingir ontem R$ 440,5 bilhões.
Pelos dados registrados nas últimas três semanas, as empresas que registram as maiores quedas acumuladas no intervalo são B2W, seguido de Lojas Marisa, BR Pharma, Magazine Luiza e Arezzo. Algumas quedas se intensificaram. A empresa de comércio online dos sócios da Lojas Americanas, a B2W, com desempenho mais volátil que outras varejistas, acaba sendo mais atingida nesses momentos, segundo especialistas. "Quem já não estava sendo muito bem avaliado pelo mercado, sente mais a perda porque a sua capacidade de reação, em condições econômicas adversas, tende a piorar", disse Antonio Coriolano, sócio diretor da RetailConsulting.
O primeiro movimento de queda em bloco dos papéis veio das expectativas menos otimistas geradas após o anúncio, em 29 de maio, do decepcionante crescimento do PIB de janeiro a março (alta de 0,6%). Praticamente não houve expansão no consumo das famílias no primeiro trimestre. Foio pior desempenho desde o terceiro trimestre de 2011, quando caiu 0,2%. Depois disso, novos sinais de uma posição do governo favorável a novas altas no juro básica (Selic), que afetam a demanda doméstica pois encarecem a compra a crédito, ganharam força. A saída de investidores nacionais e estrangeiros de posições em carteiras com empresas de consumo acabou sendo quase natural dentro desse cenário, disse um estrategista de banco de varejo.
A escalada do câmbio - que eleva preços internos e ajuda a comprimir o poder de compra do brasileiro - tem reforçado os sinais de que as vendas no varejo podem crescer de forma mais tímida no segundo semestre do ano.
Conforme o Valor informou neste mês, a área de estratégia de renda variável do HSBC, que tinha uma posição em redes de vestuário em 2012, começou a reduzi-la neste ano e, mais recentemente, praticamente saiu do setor. Esses movimentos tendem a abrir oportunidades específicas, as chamadas "pechinchas", mas a avaliação dos consultores é que uma eventual demanda maior por papéis mais baratos não deve recuperar o preço de forma considerável. "Mesmo quem acha que está barato, só vai comprar com sinais mais claros de estímulos para o crescimento do setor", diz Coriolano. "A linha de financiamento do programa "Minha Casa Minha Vida foi importante, mas não decisiva para recuperar o ânimo dos investidores".
Veículo: Valor Econômico