Na macrometrópole paulista, área que agrega as regiões metropolitanas de São Paulo, Campinas e Baixada Santista, um item pouco lembrado quando se fala de gargalos de infra-estrutura começa a preocupar o governo. A oferta de água potável hoje é insuficiente para atender ao crescimento da produção industrial, segundo a secretária estadual de Saneamento e Energia, Dilma Pena. "A água pode se tornar um gargalo para o crescimento industrial nessa região, essa é a preocupação", diz ela.
A região, que conta com 28 milhões de habitantes, tem atualmente capacidade para produzir 67 metros cúbicos de água por segundo e distribui cerca de 65 m3/s. A proximidade cada vez maior da demanda em relação à oferta ligou o alerta dentro do governo, que começou neste mês um estudo para buscar novas fontes de abastecimento na região. "É um estudo para assegurar a disponibilidade de água para o desenvolvimento econômico sustentável da região durante 30 anos", diz a secretária. O estudo está sendo realizado pela Companhia Brasileira de Projetos e Empreendimentos (Cobrape), um contrato de R$ 2,98 milhões, custeado com recursos do Departamento de Água e Energia Elétrica (DAEE).
A intenção do governo é investir recursos a partir de 2010 para aumentar em 10 m3/s a produção de água na macrometrópole. O governo estima que serão necessários no mínimo cinco anos para finalizar as obras e iniciar o abastecimento. Até lá, o crescimento do consumo provocado pelo aumento da população deve ser atendido pelo incremento proporcionado pela ampliação da estação de tratamento de água de Taiaçupeba, na Bacia do Alto Tietê. O aumento da demanda tem sido em torno de 0,5 m3/s por ano, e Taiaçupeba vai adicionar 5 m3/s ao sistema, o que atenderia ao crescimento vegetativo da demanda projetado por dez anos.
Além de Taiaçupeba, com obras em andamento e previsão de entrada do abastecimento em 2010, a Companhia de Saneamento do Estado de São Paulo (Sabesp) estuda a viabilidade de produzir mais 4 m3/s de água no Sistema Produtor São Lourenço, no rio Juquiá, ao sul da Grande São Paulo. Após essas investidas, Dilma diz que as alternativas imediatas estão esgotadas.
O estudo sobre novas fontes de abastecimento abrangerá oito alternativas. Por enquanto, a secretária não arrisca fazer projeções sobre quanto será necessário investir nem o volume de água potável a ser produzido em em cada uma das opções avaliadas.
Uma das idéias é explorar melhor a capacidade de São Lourencinho. Segundo Dilma, é a região mais próxima a São Paulo com maior disponibilidade hídrica. A dificuldade nesse investimento está na altura a ser superada para distribuir a água. São 700 metros a serem ultrapassados, o que exige grande gasto com energia para o bombeamento da água, encarecendo o custo do serviço.
A represa de Jurumirim, no rio Paranapanema, a oeste da Grande São Paulo, surge como uma alternativa interessante por ter água de boa qualidade. É uma das poucas que não sofrem com poluição na região. A idéia é fazer o transporte da água por uma adutora paralela à rodovia Castelo Branco e distribuir o recurso para as cidades ao longo de um percurso de 200 quilômetros. "Essa idéia nos agrada muito", diz a secretária. A maior altura a ser transposta nesse caso é de 300 metros. O reservatório já existe e serve à geração de energia em usinas da empresa Duke Energy. O gerenciamento entre os múltiplos usos da represa é um dos pontos a serem abordados pelo estudo do governo.
A utilização do reservatório de Barra Bonita, acima de Jurumirim e que serve à geração de energia da AES Tietê, seguiria um plano semelhante, com a diferença de que a água não está tão limpa.
Uma fonte de água limpa que o Estado estuda ser interessante para suprir as necessidades da região de Campinas é o Aqüífero Guarani, o maior manancial de água doce subterrânea do mundo, situado entre Brasil, Uruguai, Argentina e Paraguai. O local em que as águas estão mais próximas à superfície no interior paulista é a noroeste da macrometrópole. A captação se diferenciaria das demais fontes por ser feita por meio de poços.
Não necessariamente as novas fontes precisam abastecer a Grande São Paulo. No caso da bacia do Piracicaba, por exemplo, será estudada a construção de pequenos reservatórios, nos rios Jaguari, Atibaia e Camanducaia, para suprir a própria região no longo prazo. O aumento da disponibilidade de água no local daria mais condições para gerenciar o conflito em torno da água transposta da bacia do Piracicaba para o Sistema Cantareira. Há muitos anos a população residente na região da bacia do Piracicaba protesta contra a retirada de 31 m3/s para o abastecimento da cidade de São Paulo.
Outra reversão de bacias poderá se dar pela transposição das águas da represa do Jaguari, a nordeste da Grande São Paulo, para o Sistema Cantareira. Na mesma região, poderão ser transpostas águas da represa de Santa Branca e de Paraibuna para o Sistema Alto Tietê. A produção de água no Alto Tietê também poderá ser reforçada por reservatórios localizados na Serra do Mar, nos rios Itatinga e Itapanhaú.
Todas essas alternativas estão em fase inicial de levantamento. O uso compartilhado com o setor elétrico, a viabilidade técnica da captação e os conflitos políticos devem ser considerados na hora de configurar a carteira de projetos que o Estado escolherá para investir.
Não necessariamente a Sabesp será a operadora dessas estações de tratamento. Para viabilizar o investimento serão consideradas as possibilidade de conceder a obra integralmente a uma empresa privada ou fazer uma Parceria Público Privada (PPP). "É preciso pensar em tudo, como será a comercialização dessa água, e o estudo trará sugestão de encaminhamentos", diz Dilma.
Segundo a secretária, por enquanto o problema da oferta apertada de água tem sido gerenciado pela redução de perdas na distribuição. De 2000 a 2008, o investimento de R$ 120 milhões por ano em combate a vazamentos conseguiu diminuir a quantidade de água distribuída em 4,3 m3/s. O volume seria suficiente para abastecer 2 milhões de pessoas por dia. "Isso é muito importante, porque sem isso já teríamos tido falta de água em 2008", diz Dilma. O volume de perdas atual representa 28% da produção da Sabesp. A meta da companhia para 2010 é diminuir esse índice a 25%, e chegar em 2019 com 14% de perdas.
Veículo: Valor Econômico