Já considerada frágil, a reação da economia na passagem de 2012 para 2013 poderia ser ainda menos expressiva sem a ajuda das supersafras. Excluindo o setor agropecuário, economistas consultados pelo Valor estimam que o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro crescerá entre 1,4% e 1,8% este ano, após expansão de 1% no ano passado, quando as quebras de safra prejudicaram a atividade. Em 2013, por outro lado, as colheitas recorde devem adicionar, no mínimo, 0,3 ponto percentual ao PIB total, no que os analistas calculam como a maior contribuição da agropecuária à economia em pelo menos uma década.
Mesmo com o já garantido impulso do segmento agropecuário, que representa cerca de 5% das contas nacionais, o mercado continua revisando para baixo as expectativas para o crescimento deste ano.
O consenso indicado pelo boletim Focus, do Banco Central, aponta para avanço de 2,3% do PIB em 2013. Há um mês, a mediana de estimativas das cerca de cem instituições consultadas pelo BC era de alta de 2,5%.
O economista-chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges, observa que, embora o PIB agropecuário tenha pouca participação direta no total do PIB, o setor primário pode influenciar por volta de 40% da economia ao se considerar seus efeitos indiretos sobre alguns ramos da indústria, dos serviços e também da demanda, por meio da renda agrícola e das compras de maquinário, segundo cálculos da Confederação Nacional da Agricultura (CNA).
Igor Velecico, do Bradesco, afirma que a mensagem deixada pela análise do PIB sem o setor agropecuário - que, em suas contas, vai aumentar 1,8% em 2013 - é a de que a economia mostra uma aceleração mais fraca e pouco clara no período recente e também este ano, apesar dos estímulos monetários e fiscais concedidos desde meados do ano passado.
Velecico acredita que há um componente estrutural nesse quadro de fraqueza, porque que o ambiente de pleno emprego limita a expansão da atividade. Já para o baixo crescimento projetado para este ano, no entanto, a inflação mais elevada seria uma das principais explicações. Nos 12 meses encerrados em junho, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) furou o teto da meta perseguida pelo BC e subiu 6,7%.
"A inflação sob controle é um elemento essencial para garantir previsibilidade na economia. Quando ela beira os 6%, dificulta a análise de investimentos, além de corroer a renda das famílias e segurar o consumo", diz o economista, que também destaca a depreciação cambial e o cenário externo mais conturbado como fatores de contenção do PIB.
Para Fernando Rocha, sócio e economista da JGP Gestão de Recursos, o PIB total terá expansão de apenas 1,8% em 2013, com impacto de 0,4 ponto da agropecuária, maior contribuição desde 2003, segundo seus cálculos. "O baixo crescimento é, sem dúvida, consequência da má política econômica", sustenta Rocha, que acredita que política monetária mais frouxa e a política fiscal expansionista geraram mais inflação. Em sua visão, o governo também estimulou o excesso de endividamento das famílias, o que, com a alta dos juros, comprometeu ainda mais o consumo.
Na opinião de Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, a forte alta de 10% prevista para o setor agropecuário será uma grande ajuda ao PIB este ano, que vai crescer 2,1% nas projeções da MB. Com variação nula do PIB agropecuário, o avanço da economia seria de 1,6%, diz. Em 2014, contudo, o economista pondera que deve haver uma "certa reversão" do salto da agropecuária, o que corrobora a perspectiva de baixo crescimento no médio prazo.
Vale aponta que as políticas monetária e fiscal, que são importantes para suavizar ciclos econômicos, tem sido usadas pelo governo - sem sucesso - para forçar uma aceleração continuada da economia, enquanto, por outro lado, mina a capacidade de crescimento, afastando investidores por meio de decisões com caráter mais "pró-Estado". "Ainda há muita ingerência em decisões que deveriam ser privadas", diz, referindo-se às discussões sobre as taxas de retorno das concessões de infraestrutura, à revogação de aumentos de pedágio e, ainda, à MP 579, que reduziu a cobrança de encargos sobre a energia elétrica.
Levando em consideração somente o PIB agropecuário "bruto", sem incluir suas influências sobre outros segmentos da economia, Bráulio Borges, da LCA, calcula que a contribuição do setor para o total da atividade econômica brasileira este ano será relevante, de 0,32 ponto percentual - ante uma média de 0,17 ponto observada de 1996 até 2012.
Sem essa ajuda, ele calcula que o PIB irá crescer 2,1% em 2013. Por trás da alta mais modesta, diz, estaria a evolução frustrante dos serviços, que pode estar subestimada. Simulação alternativa da LCA que usa o Índice de Confiança de Serviços (ICS), da Fundação Getulio Vargas (FGV), como principal termômetro da atividade do setor, estima que o PIB total teria crescido cerca de 3,5% em 2011, e não 2,7%. "A trajetória de crescimento continuaria bem moderada em comparação ao passado recente, mas ainda assim estaríamos vendo os serviços crescendo quase o dobro do que o IBGE mostra", diz Borges.
Veículo: Valor Econômico