A hora da virada

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Claudio Zanão -

 


Diretor presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Massas Alimentícias -

 

O primeiro semestre de 2008 foi bem complicado para os setores que produzem alimentos derivados do trigo. A crise internacional afetou o Brasil de forma direta, já que 70% do trigo consumido no País é importado. O aumento da procura e a queda na produção fizeram com que os preços aumentassem vertiginosamente.


Nos últimos 12 meses, o preço da tonelada do trigo praticamente dobrou e a farinha de trigo teve um aumento de 70%. Mesmo nessa situação, as massas aumentaram apenas 20%, o que significa que as indústrias tiveram que arcar com parte dos custos, para não repassar integralmente ao consumidor final.


Para tentar amenizar esse cenário, o governo brasileiro passou a incentivar a triticultura e isentou a farinha de trigo do pagamento do PIS/Cofins. A primeira iniciativa teve bons resultados e conseguiu deixar o Brasil menos dependente das importações, aumentando a produção de 3,9 milhões de toneladas (2007/2008) para 5,2 milhões (expectativa 2008/2009).


Porém, na questão tributária, os derivados do trigo, entre eles o macarrão, saíram bastante prejudicados, já que não tiveram a mesma isenção. Dessa forma, as indústrias tiveram, mais uma vez, que arcar com os prejuízos. É importante lembrar, nesse caso, que 70% do custo de processo do macarrão são relativos à farinha de trigo.


Nesse contexto, fica difícil ser otimista e pensar em crescimento no setor de massas alimentícias em 2008, correto? Errado. Mesmo com a somatória dos acontecimentos, entre aumento do trigo e a questão tributária, a expectativa do setor é de crescer 5%, passando de um faturamento de R$ 4,5 bilhões em 2007 para R$ 4,8 bilhões em 2008. Sendo assim, quais seriam os motivos de tanto otimismo?


A resposta é mais simples do que possa parecer. No segundo semestre, mais precisamente entre junho e setembro, 70% da safra mundial de trigo são colhidos. Com a chegada dessa nova safra, o preço da farinha de trigo deve sofrer uma queda considerável, o que impactaria diretamente no preço do macarrão. Aliado a isso, temos um aumento natural de consumo no segundo semestre, por conta das festas de final de ano e do 13º salário.


E não é só isso. O setor de massas alimentícias aposta boa parte de suas fichas em uma estatística bem animadora: o macarrão é consumido em 100% dos lares brasileiros. É comum encontrar pessoas que gostem mais de um tipo de molho do que de outro ou que apreciem mais as massas longas às curtas. Porém, todas gostam do macarrão. Segundo levantamento da Abima, essa unanimidade deve-se a diferentes fatores: herança cultural, hábito, elevado valor nutricional e por ser um alimento muito agradável ao paladar do brasileiro, além de fácil preparo.


A questão econômica também interfere. Mesmo com os aumentos que sofreu nos últimos meses, o macarrão ainda continua um produto barato. Para se ter uma idéia, um quilograma de massa seca pode alimentar até oito pessoas, por cerca de R$ 10, ou seja, menos de R$ 1,20 por pessoa. Diante desses fatos, fica fácil de entender o motivo pelo qual as indústrias de massas alimentícias estão tão confiantes na virada do jogo para o segundo semestre. O momento agora é ideal para aquecer os motores e caprichar na produção.

 

Veículo: Jornal do Commercio - RJ


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