A piora da confiança dos empresários dos setores de comércio e de serviços em julho veio da mesma combinação: um cenário macroeconômico desfavorável, com elevação da taxa de juros e menor capacidade de consumo das famílias, somado ao clima de incerteza alimentado pelos protestos em todo o País. Na comparação interanual (mês contra igual mês do ano anterior), a confiança no comércio caiu 3,9% em julho, enquanto a do setor de serviços recuou expressivos 8%.
A análise é dos economistas responsáveis pelas sondagens de Comércio e de Serviços, Aloisio Campelo e Silvio Sales, do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Segundo a pesquisa, os segmentos de serviços mais ligados ao consumidor, como restaurantes e cabeleireiros, seguiram a mesma lógica do comércio e tiveram a percepção mais afetada pela situação presente, que embutiu o efeito das manifestações que tomaram conta do Brasil.
As prestadoras de serviços voltadas a empresas foram afetadas tanto no campo do presente quanto na confiança futura.
"Já existia uma trajetória declinante que sofreu com o aumento da incerteza no campo sociopolítico, vinda das manifestações. As dúvidas no cenário macroeconômico se somaram à voz das ruas", diz Sales.
Para os economistas da FGV, os protestos acrescentaram o ingrediente da incerteza ao cenário econômico de inflação em alta, aumento da taxa de juros, desaceleração da massa salarial, menor capacidade de consumo das famílias e as constantes revisões de expectativas para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil e de parceiros comerciais, como a China.
À exceção do setor de construção, a confiança piorou em todas as demais sondagens da FGV em julho, na comparação interanual mensal: serviços (-8%), indústria (-3,4%), comércio (-3,9%) e consumidor (-11,2%).
Segundo Campelo, os resultados das sondagens apresentaram o efeito "passageiro" das manifestações, mas também os efeitos permanentes da economia.
Comércio
Campelo destacou que para o comércio havia uma expectativa de recuperação da confiança após um recuo da inflação para alimentos e bebidas, de certa forma frustrada com o resultado da sondagem de junho. "Uma parte da perda da confiança sobre a situação presente pode se recuperar nos próximos meses, mas o clima menos favorável neste início do segundo semestre está dado. A recuperação sinalizada com a redução de inflação de alimentos perdeu força", afirmou.
A recuperação das vendas do comércio nos próximos meses deve ser mais modesta, acredita Campelo. A piora é mais acentuada na confiança para o comércio de bens duráveis, como automóveis, seja pela elevação de juros, a retirada gradual da redução de IPI para alguns itens, piora nas condições de crédito para compras a prazo, desaceleração da massa salarial e do consumo.
Isso aparece nos números da FGV. Em julho, o Índice de Situação Atual (ISA) para o comércio de Veículos, Motos e Peças caiu 12,2% na comparação interanual mensal, uma piora ante o recuo de 9,5% em junho e também mais acentuada que o indicador do comércio em geral (-7,7%) no mês. O Índice de Expectativas (IE) para o segmento piorou nessa mesma base, caindo 3,9%.
Veículo: DCI