Com incentivos, vendas do varejo sobem e ajudam PIB do 2º trimestre

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Uma inflação um pouco mais amena e os incentivos federais ao consumo - seja pela redução de Imposto sobre Produtos Industriais (IPI), seja pelo programa de crédito barato para eletrodomésticos dos beneficiários do Minha Casa - contrabalançaram o efeito negativo da estagnação da massa salarial sobre o consumo das famílias no segundo trimestre. Entre abril e junho, as vendas do varejo apresentaram recuperação em relação ao início do ano, movimento que vai ajudar o Produto Interno Bruto (PIB) do período.

Em junho, segundo divulgou ontem o IBGE, o volume de vendas do varejo subiu 0,5% ante maio, na série com ajuste sazonal, e o varejo ampliado, que considera também as cadeias automotiva e de materiais de construção, avançou 1%. Com isso, o setor (segmento restrito) encerrou o segundo trimestre com alta de 0,5% em relação ao primeiro trimestre, quando havia caído 0,1% em relação ao fim do ano passado. O mesmo aconteceu com o varejo ampliado, que passa de estabilidade para uma alta de 1,4%.

Os números encorparam as estimativas de economistas que já calculavam um segundo trimestre mais forte do que o primeiro, com o consumo voltando temporariamente a ganhar um pouco mais de espaço. "Imaginamos um número mais forte para o PIB do segundo trimestre, com destaque inclusive para o consumo das famílias, que ficou estagnado no primeiro trimestre e agora deve crescer 1,3%", disse Leandro Padulla, economista da MCM Consultores. "Mas vai ser um desempenho mais forte muito baseado em questões pontuais, tanto é que já projetamos um segundo trimestre bem fraco, próximo a zero."

No segundo trimestre, os bens de consumo duráveis (especialmente eletrodomésticos e automóveis) e os combustíveis tiveram melhor desempenho, enquanto as vendas nos supermercados caíram. As vendas de eletrodomésticos, em volume, subiram 2,2% em relação primeiro trimestre, enquanto a alta em automóveis foi de 1,4%, e nos supermercados o recuo foi de 1,1%. "Em apenas um mês foram liberados cerca de R$ 600 milhões pelo programa Minha Casa Melhor, segundo o governo. É um volume muito significativo para um mercado com potencial enorme", disse Flávio Combat, economista da Concórdia Corretora, destacando o programa de crédito para linha branca a juros baixos para os beneficiários do Minha Casa Minha Vida. Segundo o IBGE, o segmento, que vinha desacelerando, deu uma guinada e registrou um aumento de 1,8% no volume de vendas de junho ante maio.

Flávio Serrano, economista do Banco Espírito Santo (BES), concorda que os dados de junho apontam que a demanda das famílias deve ajudar mais a atividade no segundo trimestre do que ajudou no primeiro. Sua estimativa preliminar é de aumento de 0,8% do PIB na passagem trimestral, acima do 0,6% do primeiro trimestre.

Mesmo com um crescimento mais forte no segundo trimestre, nas séries mais longas o varejo continua mostrando perda de força e não reverte as projeções de que encerrará este ano em um nível razoavelmente abaixo do crescimento do ano passado, que foi de 8,4%. No acumulado do semestre, o volume de vendas do varejo restrito cresceu 3% na comparação com o mesmo semestre de 2012, o pior desempenho para qualquer semestre desde a segunda metade de 2005, quando houve queda de 1,9%. Para o fechamento do ano, as projeções variam entre 4% e 5%.

"A renda do trabalhador continua crescendo, mas em um ritmo inferior, enquanto os preços continuam subindo", disse Aleciana Gusmão, especialista da coordenação de serviços e comércio do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ao explicar o semestre relativamente fraco. "Se antes não havia restrição ao crédito, hoje há", completou.

Para os próximos meses, com a inflação já um pouco arrefecida mas, mesmo assim, mercado de trabalho seguindo em marcha lenta, a expectativa é que o setor continue perdendo força. "Não vamos mais crescer como se crescia no ano passado", disse Mariana Hauer, economista do banco ABC Brasil. "Só para se ter uma ideia, o crescimento no primeiro trimestre do ano passado, comparado ao último de 2011, tinha sido de 4,5%. Isso não vai mais acontecer."



Veículo: Valor Econômico


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