A alta na cotação do dólar começou a chegar nos preços ao consumidor e a expectativa dos economistas é que esse movimento pressione ainda mais a inflação neste ano. Bancos e consultorias começam a rever para cima suas projeções para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), diante de sinais de que a valorização da moeda americana tende a ser persistente.
O IPCA-15 subiu 0,16% em agosto, depois de uma alta mais fraca (0,07%) em julho. Eletrônicos subiram 0,9%, computadores, 1%, e mobiliário, 0,46%, entre outros itens cujo preço é influenciado pelo câmbio, e que estavam comportados - ou até registraram queda - nos últimos meses. "Esses avanços são reflexo das altas que ocorreram em maio e junho no dólar. A valorização mais recente ainda não foi capturada", diz a economista da Tendências Consultoria, Adriana Molinari. A moeda americana saiu do patamar de R$ 2 no início de maio para R$ 2,25 no fim de junho, e R$ 2,40 neste mês.
A forte e rápida variação cambial levou o Itaú a elevar sua projeção para o IPCA de 2013 de 5,9% para 6,1%, e em 2014 de 5,8% para 6,0%. O economista-chefe do Bradesco, Octavio de Barros, informou que também vai ajustar sua estimativa de IPCA para este ano de 5,9% para 6,05%. A Tendências ainda mantém sua projeção para o IPCA em 2013 - que é de 5,7% -, mas a consultoria informa que, se a moeda americana permanecer no atual nível, sua previsão para o indicador subirá para 5,9%.
Neste contexto, a Tendências calcula que o impacto do dólar sobre os preços livres neste ano seria de 0,3 ponto percentual. Com o câmbio a R$ 2,40, a expectativa de alta para o grupo em 2013 passaria de 7,2% para 7,5%.
Outros fatores, além do dólar, comenta Adriana, mantêm uma perspectiva de inflação pressionada neste ano, como os serviços, grupo para o qual ela estima alta de 8% no ano. A desaceleração vista em agosto, segundo ela, não muda o cenário para o grupo. O IPCA-15 mostrou que, neste mês, os serviços (sem passagem aérea) subiram 0,64%, menos que a alta de 0,67% de julho. "Os ganhos de renda mais modestos devem promover uma acomodação nos serviços, mas em patamar ainda elevado", afirma a economista.
Neste mês, as quedas de 0,09% nos preços dos alimentos, de 0,30% nos transportes e de 0,12% em vestuário impediram um avanço maior do IPCA-15. Mas o alívio deve ficar por aí. Pelos cálculos dos analistas econômicos, os três grupos voltarão a subir já no IPCA fechado de agosto.
A principal fonte de pressão inflacionária até o fim do mês, de acordo com o economista-chefe da Concórdia Corretora, Flávio Combat, serão os alimentos. Sua expectativa é de avanço de 0,31% no IPCA, com efeito de efeito positivo da entrada de safra de grãos se esvaziando. A escalada do dólar, diz, também deverá influenciar os preços por meio das commodities.
Combat destaca o exemplo da farinha de trigo, que teve sua alta intensificada de 0,17% no IPCA-15 de julho para 2,62% na medição desse mês. "Nas commodities, o efeito do câmbio é imediato", diz. "Quando atinge produtos como o trigo, que tem um grande efeito em cadeia, a alta tende a se disseminar", complementa.
Combat ressalta que a retomada de fôlego da inflação não se deve apenas aos alimentos. O índice de difusão, que mede a quantidade de itens que sofreram aumento, mostra que, mesmo excluindo alimentos da conta, houve avanço entre julho e agosto. O IPCA-15 sem alimentos passou de 59,2% para 63% no período, segundo cálculos do Valor Data. Considerando todos os itens, o índice passou de 55,9% em julho para 60,5% em agosto.
Nos transportes, espera-se que o efeito das revogações nos aumentos das tarifas de transporte público desapareça, ao mesmo tempo em que há a tendência de avanço no preço do etanol conforme se aproxime o período de entressafra. Outra dúvida é se o governo vai elevar o preço dos combustíveis.
A defasagem entre os preços da gasolina nos mercados interno e externo gira em torno de 25%, segundo a Tendências, exigindo, pelos seus cálculos, um aumento de 15% nas bombas dos postos de combustíveis, com impacto de 0,58 ponto percentual no IPCA. A Tendências, porém, não acredita que o reajuste virá, em parte pela preocupação com as eleições.
Veículo: Valor Econômico