Tarifas administradas pelo governo superaram em até três vezes IPCA desde 1995
Tarifas de energia, telefone e planos de saúde têm controles adicionais em relação a outros preços, mas mesmo assim subiram até três vezes mais que a inflação desde 1995, primeiro ano cheio a partir da adoção do real no país. Chamados de preços administrados, esses valores geralmente são relativos a serviços privatizados ou essenciais.
Nos últimos 18 anos, produtos e serviços como combustíveis, energia, telefonia e planos de saúde aumentaram 474,6%, enquanto a variação média de todos os preços ao consumidor foi de 261,3%. Destaca-se a intensidade das remarcações de gás de botijão e telefone fixo, que superaram os 800%, muito acima da recuperação do salário mínimo no período (578%). Como são itens difíceis de evitar ou substituir, o peso no bolso é praticamente irreversível.
– Os maiores reajustes nos preços administrados ocorreram no início das privatizações, para permitir os investimentos que o país precisava. Mas gradativamente foram desacelerando, e a tendência é de que sejam mais amenos nos próximos anos – analisa André Braz, responsável pelo cálculo do IPC da Fundação Getulio Vargas no Rio de Janeiro.
O custo das empresas que fornecem esses serviços são descolados da inflação percebida pelas famílias quando vão ao supermercado ou ao cinema, o que explica por que muitas vezes o reajuste soa exagerado.
Definidos com autorização de agências reguladoras, esses preços representam a sobrevivência de um mecanismo considerado causador de mais inflação, a indexação. Ocorre quando, para definir um novo valor, é usada a alta de preços do período anterior – ou seja, é inflação passada definindo a futura. Serviços são indexados quando, no reajuste, é usado um índice de correção, como indicadores de preços (IPCA, IGP-M, IPC).
Especialistas concordam que a economia do Brasil não é madura o suficiente para que o governo deixe os preços de serviços essenciais fluírem com mais autonomia, como ocorre nos Estados Unidos e na Europa. Debatida no início do governo Lula, essa hipótese perdeu fôlego nos últimos anos, em razão da inflação ter ficado perto do limite estabelecido pelo governo, 6,5% ao ano.
Mansueto Almeida, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), explica que em períodos de inflação relativamente alta, uma permissão para os preços correrem livremente pode levar empresas que forneçam o serviço essencial a elevar exageradamente os preços, por temer aumento dos custos:
– Uma desindexação afetaria outros setores da economia, como os contratos de aluguel e até o reajuste do salário mínimo, alimentando uma alta generalizada de preços. A solução seria que o governo subsidiasse a necessidade de reajuste, mas essa é uma conta cara – acrescenta.
Veículo :Jornal de Santa catarina