Estatísticas da Sondagem da Confederação Nacional da Indústria (CNI) sugerem que o ajuste de estoques do setor deve ser longo. A relação entre estoques efetivos e planejados alcançou 56,4 pontos em dezembro, o maior indicador negativo de toda a série histórica iniciada em 1999.
O levantamento, realizado em janeiro, aponta os piores dados trimestrais dos últimos dez anos e revela uma característica diferente das outras crises: as grandes empresas foram as primeiras e mais atingidas pela forte exposição ao crédito e ao mercado externo. Pequenos empreendimentos, geralmente no topo dos abalos em crises anteriores, só agora começarão a sentir os danos .
"A crise veio por fora, prejudicando primeiro as grandes companhias, que dependem mais da demanda externa", disse Renato da Fonseca, economista da CNI responsável pela sondagem. "Para as pequenas empresas, a crise deve se espraiar e ser mais sentida agora, neste primeiro trimestre."
Além de o índice que mede a produção ter ficado abaixo de 50 pontos no quarto trimestre de 2008, o que significa queda, a marca de 40,8 pontos é a menor desde o primeiro trimestre de 1999. O desempenho representa baixa de 17 pontos na comparação com o terceiro trimestre de 2008 e de 18,2 pontos na comparação com a sondagem feita um ano antes.
O economista-chefe da CNI, Flávio Castelo Branco, disse que os dados apontam para "um processo de ajuste num horizonte de, pelo menos, seis meses à frente". Ele destacou a questão do aumento dos estoques, que para alguns analistas pode gerar pressões inflacionárias à frente. "Mesmo com a forte queda na produção, 2008 se encerrou com acúmulo indesejado de estoques." O problema é mais grave entre as grandes empresas, grupo em que o índice de estoque efetivo planejado cresceu 4,9 pontos sobre o terceiro trimestre de 2008, atingindo 60,2 pontos.
Fonseca chamou a atenção para as preocupações sobre o cenário para o primeiro semestre. A queda de demanda ficou em em segundo lugar, logo depois da carga tributária elevada. A inadimplência avançou entre as preocupações de pequenos e médios empresários, enquanto para grandes companhias ganhou relevância a falta de financiamento de longo prazo.
No âmbito do emprego, a sondagem também trouxe números piores. O índice que mostra evolução no número de empregados ficou em 44 pontos, o menor desde 1999. Além de queda de 10,9 pontos ante o terceiro trimestre, a baixa rompe com um ciclo de nove trimestres consecutivos de evolução do emprego industrial. As expectativas também pioraram para os próximos seis meses, o índice em relação ao emprego recuou para 40,5 pontos, o menor em dez anos.
Na consulta às condições financeiras de mercado, a insatisfação dos empresários é latente. O indicador de satisfação com a margem de lucro operacional caiu mais de 4 pontos percentuais, para 40 pontos, e as condições de acesso ao crédito viu recuo de 10,2 pontos, para 32,4 pontos no trimestre. Nas médias e grandes empresas, a insatisfação com o crédito foi mais expressiva - 29,8 pontos e 32,2 pontos, respectivamente.
Para os próximos seis meses, a maioria dos setores espera queda na demanda, nas compras de matérias-primas, no número de empregados e nas exportações.
Veículo: Valor Econômico