Alimentos puxam alta do IPCA em março, preveem analistas

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Após forte repercussão nos preços do atacado e nos indicadores semanais de inflação ao consumidor, economistas avaliam que o choque de oferta provocado pelo clima mais seco será a principal pressão sobre o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de março. Antes concentrados nos produtos in natura, os efeitos da estiagem vão ficar mais claros em outros itens do varejo com peso relevante na cesta de consumo, com destaque para carnes, aves e ovos, além de leite e derivados.

Em função do impacto mais disseminado do período sem chuvas sobre as cotações dos alimentos, analistas calculam que a inflação deste grupo superou 1,5% no mês passado e deve ter levado o IPCA a avançar de 0,69% em fevereiro para 0,85% no mês passado, de acordo com a projeção média de 19 instituições financeiras e consultorias ouvidas pelo Valor Data. Se confirmadas as expectativas, esta terá sido a maior alta mensal do grupo alimentação e bebidas desde janeiro de 2013, quando, ainda influenciado pelo choque de grãos no meio-oeste americano, essa classe de despesa subiu 1,99%.

As estimativas para o dado de março, a ser divulgado amanhã pelo IBGE, vão de 0,78% até 0,89%. A inflação mais elevada deve fazer com que o IPCA acumulado em 12 meses supere a marca de 6% - a média de previsões do Valor Data aponta para alta de 6,08%.

O clima atípico deste início de ano também parece ter alterado o padrão dos preços na passagem de fevereiro para março. Normalmente, o IPCA perde fôlego no período, com a saída do indicador das pressões localizadas dos alimentos in natura, que costumam subir no primeiro bimestre devido ao tempo mais chuvoso.

O economista-chefe do banco ABC Brasil, Luis Otávio de Souza Leal, estima aumento de 0,85% para o IPCA de março, projeção que conta com salto de 1,62% em alimentação e bebidas. "Com o choque agrícola, estamos passando por um momento negativo para a inflação", diz Leal, para quem a escalada de grãos ao produtor deve repercutir nos índices ao consumidor ao menos até abril. No mês passado, ele prevê que tubérculos, raízes e legumes ganharam força na inflação, ao mostrarem alta de 21,5%, mas avalia que a maior diferença em relação à medição de fevereiro deve vir das proteínas animais.

Segundo André Muller, da Quest Investimentos, existe uma pressão disseminada dos alimentos, tanto nos produtos in natura como em itens que podem ser comercializados com o exterior, provocada pelo clima mais seco. Muller trabalha com avanço de 0,83% do IPCA no mês passado e de 1,85% no segmento de alimentação no domicílio. Mesmo em abril, ele destaca que as coletas de preços mostram um quadro ainda desfavorável para essa parte da inflação. "Os in natura podem desacelerar, mas os alimentos ainda devem ficar acima de 1% neste mês", diz, puxados principalmente pelas carnes.

Leal, do ABC, estima que as carnes subiram 1,8% em março, após terem marcado estabilidade na leitura anterior do IPCA, enquanto aves e ovos devem deixar deflação de 1,59% para aumento de 1,3%. Além do impacto da valorização dos grãos sobre os preços das rações, o economista observa que o clima mais seco também dificulta a recuperação das pastagens e, consequentemente, a engorda do gado. No caso da parte de leite e derivados, que, nos cálculos de Leal, tiveram alta de 1,5% no mês passado, ele ressalta que uma restrição mundial no estoque do produto também está elevando os preços.

Para Elson Teles, do Itaú Unibanco, a inflação de 1,6% em alimentação e bebidas vai responder, sozinha, por 0,38 ponto percentual do IPCA de março, para o qual projeta aceleração de 0,83%. Teles acrescenta que os transportes serão outra contribuição positiva para o indicador. Nas projeções do Itaú, houve avanço de 1,2% em março, por preços maiores das passagens aéreas e de combustíveis.

Nos cálculos do Banco ABC, os combustíveis vão acelerar de 0,37% para 1,5%, respondendo ao período de entressafra da cana-de-açúcar, que encarece nas bombas os preços do etanol e também da gasolina, que contém álcool anidro em sua composição.

Nas passagens aéreas, a metodologia do IBGE praticamente repete a variação observada no IPCA-15 do mesmo mês, que, em março, foi de 27%. Para o economista do Itaú, a alta foi influenciada pelo Carnaval. Em igual mês do ano passado, os bilhetes aéreos haviam caído 16%.

Embora em magnitude bem menor do que os transportes e os alimentos, os economistas ouvidos avaliam que os artigos de vestuário vão voltar ao campo positivo em março, após terem recuado 0,4% na medição anterior. Muller, da Quest, estima aumento de 0,15% para o grupo no mês passado.

Já os preços de educação e comunicação devem caminhar em sentido contrário nas projeções do ABC. Com a saída do impacto dos reajustes das mensalidades escolares, o grupo educação deve ceder de 5,97% para 0,5%. O grupo comunicação deve mostrar deflação de 1,4%, devido à redução de tarifas de telefonia fixa.


Taxa de inflação ganha ajuda em abril, mas segue rumo ao estouro da meta



Depois de um março muito complicado, abril começou com bons sinais para a inflação: arrefecimento do ciclo de alta dos preços agrícolas no atacado e possibilidade de menor pressão cambial ao longo do ano.

O Índice Geral de Preços Disponibilidade Interna (IGP-DI) encerrou o mês passado com alta de 1,48%, abaixo do fechamento do IGP-M, que ficou em 1,67%. Isso significa que o nível de inflação nos 30 dias fechados do mês de março já foi inferior ao dos 30 dias entre 20 de fevereiro e 20 de março. Esse nível menor veio dos preços agrícolas no atacado. Eles ainda subiram muito (5,58%), mas menos do que no IGP-M (6,16%). A alta dos preços industriais no atacado também foi menor que no IGP-M: 0,56% ante 0,76%.

Os preços da alimentação ao consumidor continuam em aceleração, mas o ritmo diminuiu. No IPC referente ao IGP-DI, o item alimentação subiu 1,66%, um pouco acima do 1,55% do IGP-M, mas essa alta (0,11 ponto a mais) é bastante inferior à registrada entre o IGP-10 (que mede a inflação entre os dias 10 de cada mês) e o IGP-M, que foi de 0,34 ponto (o item alimentação subiu 1,21% no IGP-10 de março).

A desaceleração da alta no atacado já era esperada pelos pesquisadores do Ibre, responsáveis pelas coletas dos IGPs. Mesmo assim, a confirmação tem ares de boa notícia, porque no boletim Focus as projeções para o IPCA continuam subindo. Passaram de 6,30% para 6,35% na última semana.

Na contramão do mercado, o ex-presidente do BC Francisco Lopes, responsável pelas estimativas da Macrométrica, reduziu sua projeção para o IPCA deste ano de 6,1% para 5,8%. A principal razão é a taxa de câmbio, que ele estima que pode fechar o ano em R$ 2,30, cotação que tem "algum risco de downside". Lopes apoia sua previsão na "determinação do BC em prolongar o ciclo de elevação da Selic" (para a qual projeta mais uma alta de 0,25 ponto em maio). A alta da Selic está tendo o efeito previsível de "derreter" a taxa de câmbio, com as reservas internacionais estabilizadas no patamar de US$ 377 bilhões, aponta Lopes.

Com financiamento externo suficiente para cobrir o déficit em conta corrente e sem perspectiva de surpresas nos cenários externo e interno (a atividade fraca está no preço e a novidade política, se houver, seria positiva para o mercado com eventual melhora da oposição, segundo Lopes), "a especulação contra o câmbio tornou-se muito pouco interessante" diz.

Lopes não é o primeiro analista a ponderar que o câmbio pode trazer algum alívio para a inflação ao longo do ano, ainda que a ajuda possa se materializar perto demais das eleições e não impeça que o IPCA, acumulado em 12 meses, ultrapasse o teto da meta de inflação na véspera da eleição presidencial.

Em meados do ano passado, a inflação teve os menores índices do ano, com 0,03% em julho, antecedido por 0,26% em junho e seguido por 0,24% em agosto. Quando esses percentuais forem substituídos pela inflação mais pressionada deste ano, as taxas em 12 meses devem superar o teto de 6,5%.

Semana passada, a mesma possibilidade (de menor pressão cambial) entrou no radar do economista Fabio Silveira, da GO Associados. Os capitais em fuga da Rússia, observou ele, estão se movendo em direção aos demais emergentes, entre eles o Brasil, o que influencia na trajetória de pequena apreciação do real. Silveira pondera que é cedo para reduzir as projeções para o IPCA, porque as commodities continuam pressionadas, e em alta, no mercado global.

Mais do que uma apreciação efetiva, o cenário desenhado pelo câmbio em março e no começo de abril, tira de cena a possibilidade de desvalorização adicional (e mais forte) ao longo do ano. Em 2012, a taxa sofreu desvalorização média de 16,7%, provocando impacto de 0,60 ponto no IPCA, segundo cálculos do BC. Em 2013, a desvalorização média foi de 10,5%, com impacto no IPCA de 0,35 ponto. O câmbio médio do ano passado foi de R$ 2,16. Se a média do ano até o início de abril for mantida, a desvalorização de 2014 será menor que as duas anteriores.


Desvalorização do dólar pode trazer alívio à elevação de preços

Em meio a várias notícias negativas para a inflação neste começo de ano, o Banco Central ganhou uma ajuda inesperada que pode ter impacto favorável sobre os preços no segundo semestre, justamente quando, nas expectativas do mercado, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulado em 12 meses deve ultrapassar o teto da meta inflacionária, de 6,5%.

A apreciação recente do real frente ao dólar, influenciada principalmente pela forte entrada de recursos externos, não estava na conta dos analistas, que trabalhavam com dólar na casa de R$ 2,40 em meados de março e também no começo de abril. Ontem, porém, a moeda americana encerrou o dia a R$ 2,22 e, desde o início do ano, acumulou perda de 5,81% em relação ao real. Economistas já estão revisando para baixo suas estimativas para o câmbio ao fim de 2014, o que também pode acarretar cortes nas projeções para o IPCA.

Segundo o boletim Focus, divulgado ontem pelo Banco Central, o consenso de mercado para a alta da inflação oficial de 2014 subiu de 6,30% para 6,35%. Em sentido contrário, a mediana para a taxa de câmbio no fim do período recuou ligeiramente, de R$ 2,46 para R$ 2,45, enquanto as expectativas para a média do ano diminuíram de R$ 2,42 para R$ 2,40. Tendo em vista a continuidade do fluxo positivo de recursos ao país, alguns economistas já consideram que essa projeção pode estar superestimada.

Para Cristiano Oliveira, economista-chefe do banco Fibra, os números atuais dos analistas dão muito peso aos vetores que tendem a depreciar a divisa doméstica, como o baixo crescimento, por exemplo, mas podem não levar em conta as operações de "carry-trade", que buscam ganhar com a arbitragem de juros e seguem firmes. Como a taxa Selic está em 11% ao ano e, para os analistas do Focus, deve aumentar para 12% em 2015, ele diz que é evidente que existe assimetria vantajosa dos juros no Brasil em relação aos juros de outros países.

Por ora, Oliveira trabalha com câmbio médio de R$ 2,38 em 2014, mas afirma que essa previsão tem viés de baixa. Se a estimativa para o dólar for revista, o economista aponta que sua projeção para o aumento do IPCA no ano, atualmente em 6,6%, também deve ser reduzida. Nos cálculos do Fibra, cada 10% de variação do câmbio tem impacto de 0,52 ponto percentual no IPCA, num prazo de até 12 meses.

Em relatório da consultoria Macrométrica, o ex-presidente do Banco Central Francisco Lopes afirma que a determinação do Banco Central em prolongar o ciclo de aperto monetário está "derretendo" a taxa de câmbio. Lopes espera que a Selic encerre 2014 em 11,25% ao ano.

Lopes avalia que a cotação do dólar chegará ao fim do ano em R$ 2,30. "Esse cenário de evolução relativamente benigno para a taxa de câmbio melhora bastante a perspectiva para a taxa de inflação de 2014", nota o economista, que cortou para 5,8% sua estimativa para o IPCA acumulado do ano.

No cenário de Lopes, não há como evitar o pico em 12 meses a ser alcançado pela inflação em agosto ou setembro, mas, com o atual patamar do dólar, ou, ainda, com alguma valorização adicional do real frente à moeda americana, este pico não deve ficar longe de 6,5%.

No curto prazo, diz Luis Otavio de Souza Leal, economista-chefe do ABC Brasil, o câmbio tende a ajudar o Banco Central a controlar a inflação e pode contrabalançar, ainda que em menor medida, os impactos do choque agrícola sobre os preços. "Pode ser que o câmbio não chegue a R$ 2,50 no fim do ano, que é o teto do meu intervalo inicial de projeções, mas acho que esse patamar abaixo de R$ 2,30 não condiz com a conjuntura atual", pondera, no entanto, o economista.

Leal considera que sua estimativa para o avanço do IPCA em 2014, de 6,2%, pode, contudo, sofrer alguma pequena revisão para baixo, dependendo da trajetória do dólar ante o real daqui para frente.


Pesquisas indicam recuo das vendas no varejo em março



Três pesquisas referentes ao comércio apontam desaceleração no consumo das famílias no mês passado. Em março, caiu o número de consultas ao Serviço de Proteção ao Crédito (SPC), o movimento de consumidores nas lojas e a intenção de consumo, segundo levantamentos divulgados entre a semana passada e ontem.

O número de consultas ao banco de dados do SPC Brasil, que reflete o nível de atividade no comércio para compras parceladas, acompanhou a tendência de desaceleração da economia e recuou 4,83%, em relação ao mesmo período ano passado. Esse é o pior resultado já registrado desde janeiro de 2012. O indicador de vendas é divulgado mensalmente pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e leva em consideração pontos de venda cadastrados nos 26 Estados brasileiros e no Distrito Federal.

De acordo com o Indicador Serasa Experian de Atividade do Comércio, houve recuo de 3,3% no movimento dos consumidores nas lojas de todo o país em março (comparativamente a fevereiro), já descontados os fatores sazonais. Na comparação com março de 2013, a queda foi de 1,6%.

Após avançar 0,5% entre janeiro e fevereiro, o índice de Intenção de Consumo das Famílias (ICF) na cidade de São Paulo caiu 2%, ao atingir os 122,9 pontos em março. Na comparação com março de 2013, o recuo do indicador da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) foi ainda mais significativo - queda de 5,2%.

Nos três indicadores, os responsáveis apontaram o efeito do Carnaval (que caiu em março) sobre o resultado do mês, mas também ponderaram que o ciclo de alta da taxa Selic, o aumento da inflação e a menor oferta de crédito também tiveram impacto sobre o setor no mês passado.

Apesar do março ruim, o resultado do indicador da Serasa aponta alta no primeiro trimestre, influenciado pelos bons resultados de janeiro e fevereiro. A alta foi de 3,3% sobre igual período do ano passado, mas indicando um ritmo de início de ano mais fraco, pois em 2013 a alta foi de 12,9% sobre 2012.



Veículo: Valor Econômico


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