IPCA de abril surpreende e recua para 0,67%

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O ritmo de aumento da inflação deu uma freada em abril, mas ainda não é suficiente para considerar que ela está controlada, na avaliação de especialistas. O aumento de 0,67% no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) surpreendeu o mercado ao vir bem abaixo da mediana das expectativas do Boletim Focus do Banco Central, de 0,80%. No entanto, essa desaceleração frente ao salto de 0,92% registrado em março não tranquiliza o mercado, porque o ritmo de alta do IPCA acumulado em 12 meses até abril foi de 6,28%, acima dos 6,15% registrados até março, o que mostra curva ascendente.

“O resultado de abril foi uma surpresa boa porque veio abaixo das expectativas. Houve uma inversão em relação a março, mas ainda não significa uma acomodação. Os preços dos alimentos aumentaram 1,19%, abaixo dos 1,92%. Apesar de crescer menos, a inflação continua subindo”, disse a gerente de pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Irene Maria Machado. Segundo ela, alimentação e bebidas continuaram pesando fortemente no IPCA, contribuindo com 0,30 ponto percentual da alta do mês. Entre os itens que mais subiram de preço, a batata inglesa foi a campeã, com alta de 22,26% em abril e de 43,50%, no ano. O tomate, por sua vez, teve queda de 1,94%, que não foi suficiente para reverter a alta desde o início do ano, de 29,17%.

Oito das 13 cidades pesquisadas pelo IBGE tiveram IPCA acima da média nacional. Porto Alegre e Recife tiveram o maior aumento: 1,08%. Em Belo Horizonte, puxado pelo reajuste na conta de luz no início do mês, a inflação fechou abril a 0,75%, acumulando alta de 2,95% no ano e de 5,83% em 12 meses. Além dessas, Curitiba, Campo Grande, Goiania, Salvador e Recife registraram aumento da inflação acima da média nacional. Brasília figurou entre as cinco que ficaram abaixo dessa linha, ao lado de Vitória, Belém, São Paulo e Rio de Janeiro.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, em entrevista a uma rede de TV, reiterou ontem que o IPCA não vai ultrapassar o limite de 6,5% no acumulado de janeiro a dezembro deste ano. “Não vamos ultrapassar o teto da meta, assim como não fizemos nos últimos 10 anos”, disse. Especialistas discordam e alertam para o fato de que o IPCA está ficando cada vez mais próximo do teto, o que é arriscado e faz com que a taxa de juros básica da economia (Selic) tenha que continuar subindo, o que poderá inibir o consumo e reduzir a demanda e ajudar a baixar os preços, mas também travará o investimento.

“Infelizmente, nós esperamos que esta situação se deteriore nos próximos meses, mesmo tendo em conta a nossa expectativa de que as leituras mensais devem desacelerar no curto prazo. Esperamos que o IPCA rompa o teto em meados de 2014”, afirmou o economista Flávio Serrano, do BES Investment Bank. “ Embora abaixo das nossas estimativas, o IPCA continuou correndo cerca de duas vezes maior que a taxa mensal compatível com o cumprimento da meta de inflação (ou seja, 0,37% ao mês). Portanto, não vemos motivos para comemorar esse resultado , embora o índice tenha supreendido pelo lado positivo”, afirmou.

No bolso A auxiliar administrativa Paula Di Fini é casada e tem dois filhos e sente o peso da alta do custo de vida no orçamento familiar. Por isso, apesar da desaceleração de preços apurada em abril na comparação com março, ela sente que eles ainda estão subindo. “É um absurdo comprar tomate por R$ 8 o quilo. Na semana passada, o quilo da batata inglesa estava custando R$ 5,99. Os preços estão cada vez mais altos e isso afeta a vida da gente. Poderíamos estar investindo em outra coisa”, diz.

Maria das Graças Santos é dona de casa e queixa-se da alta dos preços das frutas e verduras. “Isso mexe com a vida porque alimentação é um item que não dá para cortar do orçamento. Assim, se os preços sobem, é impossível não gastar mais”, reclama. Já a terapeuta corporal Helen Oliveira diz que em abril os produtos ficaram muito mais caros. “Alimentação é o que mais pesa e aí não dá para fugir. Só é possível mudar de hábitos e selecionar o que comprar”, afirma. Para ela, a cidade de Belo Horizonte entrou num “frisson” de alta de preços porque a vida está difícil e todo mundo quer ganhar.

Para piorar Os dados do Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S), divulgados pela Fundação Getulio Vargas (FGV), mostram que a inflação na primeira semana de maio dá sinais de desacomodação e voltou a subir forte nas sete capitais pesquisadas. Na última quadrissemana, encerrada em 7 de maio, o IPC-S subiu de 0,77% para 0,84%. Alimentos continuaram tendo o maior impacto no indicador, com peso de 0,33 ponto percentual. “Os preços dos alimentos desaceleraram, mas não dá para comemorar. É preciso esperar para ver qual é a tendência. Ainda não podemos comemorar porque itens básicos como pão e batata tiveram aumentos expressivos”, alertou o coordenador da divisão de gestão de dados da FGV em Porto Alegre, Marcio Fernando Mendes da Silva.



Veículo: Diário de Pernambuco


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