A queda da demanda mundial derrubou o saldo da balança comercial brasileira no primeiro mês de 2009. Em janeiro, o saldo comercial registrou déficit de US$ 518 milhões e reverteu o saldo positivo de US$ 922 milhões de janeiro de 2008. Em dezembro último, o saldo também havia ficado positivo ( US$ 2,3 bilhões), revelou ontem o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic). É o primeiro déficit mensal em oito anos. O último havia sido em março de 2001, de US$ 276 milhões.
O resultado também é o primeiro déficit para os meses de janeiro, desde 2001, quando ficou em US$ 481 milhões. Mesmo assim, o saldo comercial de janeiro ficou abaixo das expectativas do mercado, cuja média era de cerca de US$ 740 milhões. O secretário de comércio exterior do ministério, Welber Barral, disse que o resultado negativo da balança comercial reflete os impactos da crise financeira mundial. Dessa forma, sem fazer previsões numéricas, ele espera resultado "ruim" também em fevereiro. "Janeiro e fevereiro são os ápices da crise", destacou. Barral assegurou que o governo deve anunciar novas medidas para estimular as exportações nos próximos dias.
O economista da LCA Consultores Francisco Pessoa Faria aposta em novo déficit em fevereiro – de US$ de 300 milhões – o que seria o primeiro para meses de fevereiro desde 1998. O economista, que previa déficit comercial de US$ 932 milhões em janeiro, avaliou que o saldo negativo ficou abaixo das expectativas graças a queda das importa-ções acima das estimativas. Isso "atenuou" a queda do saldo.
No mês passado, caíram tanto as exportações como as importações na comparação com igual mês de 2008 e com dezembro. Os embarques somaram US$ 9,7 bilhões, queda de 26,2% sobre igual mês do ano passado e de 29,16% sobre os US$ 13,8 bilhões em dezembro último. Enquanto isso, as importações caíram para US$ 10,3 bilhões, um recuo de 16,5% sobre janeiro do ano passado e de 10,5% Nos últimos 12 meses, o saldo está positivo em US$ 23,3 bilhões, porém já reflete arrefecimento, uma vez que no acumulado de 12 meses até janeiro de 2008 a cifra atingia US$ 38,4 bilhões. Barral disse que o resultado desfavorável da balança comercial deve-se aos reflexos da crise mundial que motivou a queda da produção industrial nos principais países do mundo, como Estados Unidos. Isso afetou a demanda pelos produtos brasileiros. "As exportações brasileiras foram afetadas pela crise mundial, e essa crise não é brasileira, ela é internacional."
A meta do governo para as exportações para 2009 deve ser anunciada apenas a partir de março. Por enquanto, o governo traçou apenas cinco cenários potenciais. O mais pessimista indica exportações de US$ 158 bilhões e o mais otimista, de US$ 202 bilhões. Em 2008, a cifra havia atingido US$ 197,9 bilhões.
Em janeiro, houve retração de venda das três categorias exportadas na comparação com igual mês de 2008. A maior queda foi da vendas dos produtos manufaturados, cuja receita caiu 36,76% para US$ 4,3 bilhões, ante os US$ 6,8 bilhões vendidos em igual mês de 2008. Dentre os produtos, o setor de veículo foi o mais afetado, com destaque para a Argentina, que diminuiu em 48,4% as compras de produtos brasileiras. Segundo Barral, tal resultado é reflexo da produção de veículos no país vizinho que reduziu as importações de peças de veículos do Brasil. Em janeiro, no total, a receita das vendas de veículos de carga recuou 65,7%, influenciada mais pela queda de 57% na quantidade vendida do que no preço, que caiu apenas 18,4%. A receita das vendas de motores veículos encolheu 62%, puxada pelo recuo de 68% do volume e de 18,9% no preço.
As exportações caíram para quase todos os países em janeiro, com exceção dos asiáticos, para onde a média diária das vendas cresceu 14% sobre janeiro do ano passado. Só as vendas diárias para a China subiram 18,2%, em média, sobretudo de commodities. Em sentido contrário, as exportações para os Estados Unidos recuaram 36% na mesma comparação.
O secretário disse que a adoção de licenças prévias para as importações foi interpretada de forma equivocada. O governo recuou da decisão na quinta-feira após críticas de empresários. "Foi uma comédia de Shakespeare, com muito barulho por nada", disse, acrescentando que não houve impacto da medida nas importações em janeiro.
Segundo o secretário, o governo avalia cerca de 6 mil licenças prévias de importação por dia, correspondentes a cerca de 10% do volume total. Na semana passada, esse volume subiu para 49 mil nos três dias em que a medida teve validade. Do total, 17 mil pedidos não necessitavam efetivamente das licenças e foram "expurgados". Já os restantes de 32 mil pedidos foram avaliados sem atraso, na mesma semana.
Veículo: Gazeta Mercantil