Varejo do CE cresce 7% no trimestre; País 2,1%

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O volume de vendas do comércio varejista ampliado no Ceará cresceu 0,2% em março e 7,0% no acumulado do ano - índices superiores aos nacionais, que foram, na mesma ordem, -1,2% e 2,1%. Contudo, observa-se uma queda relevante no cenário do varejo cearense se compararmos o índice de março às variações do mês de janeiro (7,0%) e fevereiro (14,6%). Os indicadores são da Pesquisa Mensal do Comércio, divulgada ontem, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Em análise por atividade varejista, nota-se que a desaceleração aconteceu, principalmente, pela variação negativa no segmento de veículos e motos, partes e peças (-10,8%). O setor de artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos também mostrou queda, menos acentuada, de 3,6%. Já o de hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo, apresentou um tímido crescimento de 0,2%.

Veículos em baixa


Um dos setores mais abalados pelo cenário econômico em todo Brasil, com altos estoques e ameaça de demissões, foi a indústria automotiva, com queda de 16%, nas vendas do varejo ampliado em março, na comparação com 2013. A retração é associada ao menor crédito disponível, o que, segundo analistas, pode pressionar o governo a rever o ciclo de alta de juros.

Este é o pior resultado do setor desde novembro de 2008, em plena crise financeira mundial, que restringiu o acesso ao crédito em todo mundo. Na época, a redução no consumo de veículos chegou a 20,3%, e levou o governo a criar o incentivo fiscal às montadoras. O IPI, entretanto, começou a ser reduzido gradualmente, em janeiro e deverá ser retirado completamente em 2017.

"Os estoques de janeiro e parcialmente em fevereiro ainda eram vendidos com tarifas de IPI mais baixas. Esses estoques não compõem mais uma parcela relevante das vendas nas concessionárias, que já começa a ver a reposição do IPI na questão dos veículos", avalia a pesquisadora do IBGE, Aleciana Gusmão.

Efeito Copa

Fernando Ponte, presidente da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores do Ceará (Fenabrave - CE), também acredita que o recuo na venda de veículos no Ceará, em março último, tenha tido forte influência das expectativas dos consumidores quanto à Copa.

Ele explica que a retração dos bancos, somada às maiores possibilidades de gastar a renda pessoal (com viagens durante os feriados do Mundial, ingressos para os jogos, compra de televisores), pode ter resultado em uma mudança de prioridades, já que o evento mudou a dinâmica do comércio de maneira geral. Além disso, o mês março teve menos dias úteis por conta dos feriados de Carnaval, Dia de São José e Dia da Abolição a Escravatura no Ceará, o que afetou o desempenho de alguns setores.

"Agora no mês de maio, já estamos com 1.933 (veículos) vendidos, contra 2.201 em abril. Isso representa uma queda de 12%. Em Recife, por exemplo, o comércio está fechando as portas. Recebi há pouco informações de um concessionário de lá, estão com expectativa negativa, a polícia em greve. E a gente se pergunta se isso vai chegar aqui. (...) O pessoal está com receio, eu acredito que depois da Copa, a coisa volte a normalidade", analisa Ponte. Ele espera que o feirão que será realizado neste fim de semana, seja um alento, com promoções e taxas mais convidativas para os clientes.

Boca do jacaré

Segundo o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Fortaleza, Francisco Freitas Cordeiro, quando se expande a pesquisa do comércio para o "grande varejo", que inclui o setor de veículos, motos, partes e peças e o de materiais de construção, perde-se um pouco da força de resultados que tem eventos como o Fortaleza Liquida.

"Essa quadra do ano é sempre a pior, historicamente. É a ressaca dos eventos de fim de ano, inadimplência, gastos escolares, o consumidor está de fato de ressaca. Então, entramos com o Fortaleza Liquida. Ele faz uma grande diferença no primeiro trimestre, mas no grande varejo ampliado, ele se perde", explica o presidente, que pontuou um faturamento superior a R$ 270 milhões na edição de 2014.

Cordeiro afirma que, dentre todos os segmentos, o dos lojistas teve sim crescimento. "É o que os economistas chamam de a 'boca do jacaré' que se abre. É o índice de emprego descendo e a linha varejo subindo. Os setores prejudicados são os da indústria, que está patinando, influenciada pelas duas vertentes: a alta do varejo e a elevada taxa de desemprego", explica.

Mais televisores


Os setores que tiveram mais destaque de crescimento no Estado em março último, foram os de equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação (22,2%), móveis e eletrodomésticos (14,4%) e livros, jornais, revistas e papelaria (13,8%). Os móveis subiram 7,3% e os eletrodomésticos, 18,7%, evidenciando a maior procura por TVs no período que antecede a Copa.

"Não tenha duvidas, a venda de televisores vai crescer muito mais, à medida em que vai chegando perto dos jogos. O crescimento foi bem acentuado, o que mostra que na segmentação os resultados são muito diferentes" avalia Freitas Cordeiro

Ranking

Dentre as 27 unidades da Federação, quatro apresentaram resultados positivos na comparação entre março de 2014 e igual período de 2013, no que concerne o volume de vendas do varejo ampliado. Os destaques positivos foram: Alagoas (2,4%); Santa Catarina (0,8%); Maranhão (0,6%) e o Ceará (0,2%).



Veículo: Diário do Nordeste


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