A economia brasileira encerrou o último trimestre do ano passado com a maior queda desde os três primeiros meses de 1998, quando os efeitos da crise asiática levaram o Produto Interno Bruto (PIB) a uma retração de 1,8% na margem. Para economistas consultados pela Gazeta Mercantil, o tombo de 12,4% da produção industrial em dezembro do ano passado, mais intenso do que o esperado pelo mercado, aponta para um recuo entre 1,8% e 2,3% do PIB nos três últimos meses de 2008 em relação ao trimestre anterior. Os dados das Contas Nacionais serão divulgados somente no dia 10 de março.
Os analistas divergem, no entanto, sobre a trajetória do nível de atividade no início do ano. Se, por um lado, a recuperação das vendas de veículos de dezembro para janeiro, por exemplo, sugere que a indústria deve ter voltado a crescer, por outro, o segmento de bens intermediários conta com uma demanda externa desfavorável para desovar excedentes domésticos.
O economista-chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges, revisou a projeção de queda do PIB para o último trimestre do ano passado em relação aos três meses anteriores, de 1,5% para 1,8%. Para o consultoria, a retração deve ser puxada pelo declínio de 8,7% nos investimentos. "Se retirássemos isso da conta, o PIB ficaria no zero a zero. O grande baque veio do investimento, impacto pela queda na confiança dos empresários."
Na avaliação de Borges, o grosso do ajuste pode ter se concentrado no final de 2008 e a tendência para este início de ano é de recuperação, sinalizada pelo aumento de 6% nos licenciamentos de automóveis e comerciais leves e de 0,6% no consumo de energia elétrica de dezembro para janeiro. "Os indicadores de janeiro mostram taxas negativas em relação a igual mês de 2008, mas crescimento em relação a novembro", diz. O economista acrescenta que há uma "boa probabilidade" de crescimento de 0,5% do PIB no primeiro trimestre de 2009 na margem. Para o ano, a projeção é de expansão de 2,5%.
Cláudia Oshiro, da Tendências Consultoria Integrada, prevê uma retração maior do PIB no trimestre passado, de 2,3%. A economista concorda que o desempenho do setor automotivo em janeiro pode sinalizar uma retomada da produção industrial, mas aguarda outros indicadores para refazer as projeções de 2009. "O setor automotivo teve um certo ajuste de estoques. Pode ser que a produção tenha aumentado um pouco", diz a analista, que deve reduzir a projeção de crescimento do PIB do ano, atualmente em 2,6%.
O economista-chefe da corretora Convenção, Fernando Montero, também espera uma queda superior a 2% na economia no último trimestre do ano passado. Para os três primeiros meses de 2009, o economista previa inicialmente estabilidade do PIB em relação ao trimestre anterior, mas, com a forte retração da indústria em dezembro, não descarta uma nova queda – o que configuraria um quadro de recessão técnica. "O importante é entender o que acontece com os estoques, mas há alguns sinais de que eles estão aumentando e outros de que estão caindo", diz Montero, que espera que o setor de serviços ajude a sustentar uma expansão de 2,2% do PIB em 2009.
Um sinal que preocupa, na avaliação do economista da Convenção, é o cenário para o mercado externo no início deste ano, que, normalmente, é um canal para a desova de excedente de bens intermediários. "O quadro mundial, no entanto, está longe disso. Hoje, não há o que fazer com esse excedente de oferta. A balança não reage e a produção desaba em segmentos pesados e normalmente rígidos, fazendo um estrago na indústria", diz Montero.
A queda na produção reforça as apostas em um novo corte de um ponto percentual da taxa básica de juros em março. "Vai ser difícil o Banco Central não cortar em mais um ponto", afirma Montero.
Veículo: Gazeta Mercantil