A perda projetada no consumo global devido à retração nos Estados Unidos é de US$ 1 trilhão, de acordo com dados debatidos no Fórum Mundial de Economia, realizado em Davos (Suíça) na semana passada. A questão, agora, é saber como e onde as empresas compensarão esse rombo nas vendas.
Até a crise financeira global explodir de vez, e aprofundar a recessão, quase 25% do consumo global vinha dos Estados Unidos. Os 300 milhões de consumidores americanos têm gastos três vezes maiores do que os 2,3 bilhões de consumidores da China e da Índia combinados, anualmente.
Ian Davis, diretor da McKinsey, nota que a poupança nos EUA chegou a um ponto tão insustentável que só resta aos americanos "serem mais frugais" nos próximos 10 a 20 anos. Os mercados emergentes tenderiam, nessa análise, a aumentar sua demanda doméstica. Seria inevitável, então, que recursos limitados repartidos por mais consumidores levem a uma restrição no modo de vida dos países centrais, concordaram executivos em Davos.
Mas Zhu Min, vice-presidente do Banco da China, afastou expectativas de que os chineses comecem a substituir os EUA. O consumo americano é de US$ 10 trilhões e a redução projetada é de US$ 1 trilhão, calculou ele. Os consumidores chineses gastam apenas US$ 1,5 trilhão, e mesmo com enormes estímulos ao consumo, a China não tem como fazer a diferença.
Foi no cenário de recessão global que as empresas examinaram seus desafios para 2009, conforme relatos de reuniões setoriais ocorridas em Davos. Kendall Powell, presidente da General Mills, diz que o setor de alimentos continua bem. Mas aponta mudança no comportamento dos consumidores, especialmente nos EUA, onde descobrem as pequenas lojas e cozinham em casa, em vez comerem em restaurantes ou em redes de "fast food".
Azim H. Premji, presidente da empresa de telecomunicações indiana Wipro, diz que a sensibilidade global está empurrando mais empresas a investir em eco-sustentabilidade, e que o setor terá "imensas oportunidades". Na mesma linha, Mark Parker, CEO da Nike, sugeriu que as empresas foquem em questões críticas como a da sustentabilidade.
Representando o setor de cuidados com a saúde, o americano George Halvorson, CEO da Kaiser Permanente, acha que a tecnologia pode transformar essa indústria, especialmente na gestão de doenças crônicas.
Feike Sijbesma, CEO da Royal DSM, da Holanda, estimou que entre 400 e 500 fábricas químicas não estão operando no mundo porque os clientes nos setores de construção, eletrônicos e automotivos sofrem com a crise.
Presidente da Agility, empresa de logística do Kuwait, com US$ 6 bilhões de faturamento no ano passado, Tarek Sultan Al Essa, disse que o setor está na "defensiva" e espera uma redução na capacidade da indústria naval. Há menos demanda por navios e há menos crédito para continuar sua produção.
No setor de minerais, Patrice Motsepe, presidente da African Rainbow Minerals, da Africa do Sul, joga suas esperanças no plano da China de gastar US$ 500 bilhões em infraestrutura nos próximos anos. Considera o curto prazo difícil, mas o longo prazo promissor.
James E. Rogers, CEO da Duke Energy Corporation, dos EUA, disse que todas as projeções mostram que a demanda por energia vai continuar aumentando, e portanto não há como frear investimentos agora.
James S. Turley, presidente da Ernst & Young, resumiu a posição do setor de serviços profissionais, que prevê novas regulamentações. Considera que isso é bom para a transparência.
Veículo: Valor Econômico