O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que a economia brasileira não entra em recessão este ano, embora a Confederação Nacional da Indústria (CNI) já trabalhe com a hipótese de haver recessão "técnica" no Brasil no primeiro trimestre. "Estamos vendo uma desaceleração da economia, mas não teremos uma recessão", afirmou ontem o ministro, durante a divulgação do balanço do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), no Palácio do Planalto.
Mantega afirmou que a economia brasileira fechou 2008 com aumento de cerca de 5%, mas reconheceu que deve passar por uma desaceleração em 2009. Em uma demonstração de flexibilidade da meta de crescimento de 4% para este ano, Mantega declarou que o crescimento de 4% "não é um número fatídico, é apenas uma "meta a ser perseguida". Ele lembrou que o Fundo Monetário Nacional (FMI) prevê alta de 1,8% do PIB do Brasil este ano e o mercado já prevê um avanço de apenas 2%. "Vamos perseguir os 4% no máximo. Não poderemos acertar necessariamente na mosca; podemos crescer 3,5% ou um pouco mais", ponderou o ministro.
Ao descartar a hipótese da economia brasileira enfrentar recessão este ano, Mantega destacou que "recessão haverá apenas nos Estados Unidos e União Européia".
Já o presidente da CNI, Armando Monteiro Neto foi categórico ao afirmar que os dados da economia brasileira disponíveis até o momento mostram que a possibilidade de haver recessão no Brasil é real. A CNI já trabalha com a possibilidade de queda do PIB no último trimestre de 2008. "Entendo que o governo deve sempre transmitir uma posição de confiança, mas todas as projeções indicam que a economia brasileira terá forte queda no ritmo de crescimento este ano", disse Monteiro Neto.
A produção industrial apresentou queda de 12,4% de novembro para dezembro do ano passado, segundo dados divulgados na última segunda-feira, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Foi o pior desempenho da indústria desde 1991, início da série histórica da pesquisa do IBGE. Em apenas três meses, entre outubro e dezembro, o setor registrou retração de 19,8%, o que sinaliza, segundo projeções de economistas, uma queda entre 1,8% e 2,3% do PIB entre o terceiro e o quarto trimestre do ano passado.
Mantega avalia que o PIB do primeiro trimestre deste ano deverá crescer menos do que nos primeiros três meses de 2008 e ficar "mais ou menos" parecido com o do trimestre anterior. Armando Monteiro Neto disse que a projeção do Ministério da Fazenda de a economia crescer este ano 4% "não é factível". "A projeção de alta de 4% é mais uma questão de crença do que propriamente a interpretação da realidade econômica", avaliou.
Para Mantega, a possibilidade de a economia crescer 4% dependerá do esforço do governo, o que já está acontecendo, segundo ele que chamou de "momento de ousadia".
O ministro se referiu ao aumento de R$ 142 bilhões dos recursos do PAC até 2010 e o adicional de R$ 100 bilhões para o orçamento do BNDES também até o próximo ano. "Esse é um momento de ousadia. Temos anunciado medidas toda semana", complementou.
O presidente da CNI, entretanto, pediu agilidade na liberação dos recursos. "O que conta não é o tamanho dos recursos do PAC, mas o que são liberados efetivamente para os projetos e programas previstos", disse. E reclamou que "em algumas áreas a execução do PAC (em 2008) é muito mais lenta do que os grandes números anunciados". Do outro lado, Mantega acrescentou que o governo vai utilizar as medidas já anunciadas para estimular o crescimento da economia na maior taxa possível. Além disso, o ministro disse que o governo estuda medidas para estimular a construção civil.
Veículo: Gazeta Mercantil