O comércio varejista do Grande ABC registrou queda real (descontada a inflação) de 7,6% no acumulado de 12 meses até abril na comparação com o período entre maio de 2014 e abril de 2015. A retração equivale a uma perda de R$ 2,571 bilhões em um ano – de R$ 34,025 bilhões para R$ 31,454 bilhões, e se equipara à comercialização total de abril. É como se, a cada dia, as lojas da região deixassem de arrecadar pouco mais de R$ 7 milhões em vendas. Os dados foram divulgados ontem pela FecomercioSP (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo) com exclusividade para o Diário.
Nos quatro primeiros meses de 2016, o varejo faturou R$ 10,033 bilhões. Na comparação com o quadrimestre inicial de 2015, quando a receita do setor foi de R$ 10,414 bilhões, a variação é negativa em 3,7%, equivalente a perdas de R$ 381 milhões. No mês, houve retração de 4,2% ante abril do ano passado, de R$ 2,618 bilhões para R$ 2,508 bilhões – R$ 110 milhões a menos.
Mesmo diante do cenário negativo, o economista Guilherme Dietze, assessor da FecomercioSP, avalia que “o fundo do poço já passou”. “Daqui para frente, a tendência é de leve subida, até porque a base de comparação com o ano passado é fraca.” No segundo semestre de 2015, todos os meses registraram redução no faturamento ante 2014.
Dietze acrescenta que o principal fator que demonstra a possibilidade de recuperação do comércio é o nível de confiança do empresariado e do consumidor em geral, que tem aumentado nos últimos meses. “Nossos indicadores ainda estão pessimistas em relação à economia atual, mas já com alguma retomada do otimismo. No ano que vem, deveremos, pelo menos, sair da UTI (Unidade de Terapia Intensiva).”
O economista salienta que o ânimo dos agentes econômicos melhorou após a segunda semana de maio, quando Michel Temer (PMDB) assumiu, interinamente, a Presidência da República. “Os empresários estão dando um crédito ao novo governo. Porém, o que vai impulsionar o consumo e, consequentemente, dar fôlego ao comércio, é o aumento da renda e do emprego”, reconhece. Por outro lado, Dietze avalia que eventual volta de Dilma Rousseff (PT) ao Palácio do Planalto poderá levar o País a uma “catástrofe”, com fuga de capital para o Exterior e volta do clima de pessimismo.
SETORES - O segmento que teve as maiores perdas na região foi o de concessionárias de veículos: 14% no acumulado de 12 meses. Os estabelecimentos do ramo arrecadaram R$ 328,2 milhões em abril, 6,7% de queda ante o mesmo mês de 2015. O setor de vestuário, tecidos e calçados teve retração de 24,6% no mesmo período. No mês, o recuo foi de 29,5%, chegando a R$ 198,9 milhões. Tanto que muitas lojas desses ramos estão, inclusive, fechando as portas. O assessor da FecomercioSP destaca que essas duas áreas são fortemente afetadas pela restrição ao crédito por parte das instituições financeiras e pelos juros elevados.
A situação do varejo no Grande ABC só não foi pior em razão do desempenho dos supermercados: alta de 2,7% no acumulado de 12 meses. Em abril, os estabelecimentos registraram faturamento de R$ 927,3 milhões – o mais alto da região – 2,2% a mais do que no mesmo mês de 2015. Uma das explicações é o fato de que esse tipo de loja trabalha com itens de primeira necessidade e, por esse motivo, são menos atingidos pela crise.
Veículo: Diário do Grande ABC