A indústria teve queda de 8,4% nas horas trabalhadas em fevereiro na comparação com o mesmo mês do ano passado, e o faturamento real caiu 10% . O emprego recuou 1,5% em relação ao nível de fevereiro de 2008, consolidando o quarto mês seguido de comportamento negativo do mercado de trabalho. A ociosidade está se disseminando entre os segmentos industriais e apenas a massa salarial teve crescimento de 0,4%.
Os indicadores apurados pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), divulgados ontem, revelam que o faturamento e as horas trabalhadas tiveram um pequeno crescimento em relação à janeiro, já descontados os fatores típicos do período. O economista-chefe da CNI, Flávio Castelo Branco, porém, não considerou as variações de 0,7% (faturamento) e 0,2% (horas trabalhadas) como sinais de recuperação. "Essas pequenas elevações sobre janeiro não têm relevância porque as bases de comparação estão muito deprimidas. Além disso, uma recuperação exige mais intensidade no crescimento e sequência no tempo", disse.
Além das expressivas quedas no faturamento, nas horas trabalhadas e no emprego, em relação a igual período de 2008, a CNI também mostrou que fevereiro manteve a utilização da capacidade instalada (UCI) medida em janeiro (77,8%), que é um dos mais baixos índices da série histórica. Um ano atrás, o uso estava em 83,1%. Se essas marcas forem mantidas em 2009, será um "desastre", avaliou o economista. Nos dados agregados de fevereiro, a redução de 10% no faturamento real (sobre fevereiro de 2008) foi a segunda pior da série iniciada em janeiro de 2003.
"O cenário mundial não piorou, mas ainda é bastante desfavorável com relação ao comércio exterior e ao crédito. Ainda não sabemos quando vai haver uma recuperação. O primeiro trimestre será negativo para a indústria", comentou Castelo Branco. Como os dados de fevereiro foram muito ruins, ele acredita que haverá retração industrial do primeiro trimestre de 2009 em relação ao quarto trimestre de 2008, que já tinha sofrido um forte ajuste.
Em uma avaliação setorial dos indicadores da CNI, muitas quedas foram de dois dígitos na comparação do primeiro bimestre de 2009 com igual período de 2008: metalurgia básica (42,6%), madeira (23,7%), borracha e plástico (22%), químicos (20,7%), máquinas e equipamentos (20,6%), aparelhos e material elétrico (13,8%), produtos metálicos (11,3%), material eletrônico e de comunicação (10,9%) e veículos automotores (10,3%).
No emprego, o recuo de 1,5% - o maior da série - medido em fevereiro sobre o mesmo mês de 2008 - foi a quarta queda consecutiva. Antes da crise, a CNI tinha contabilizado 34 meses consecutivos de expansão do mercado de trabalho. Dois setores industriais tiveram, no primeiro bimestre, quedas de dois dígitos no emprego em relação ao mesmo período de 2008: as empresas de madeira (17,4%) e as de material eletrônico e de comunicação (10,8%).
A redução da utilização da capacidade instalada está se "disseminando", de acordo com a análise da confederação. Dos 19 segmentos medidos, houve diminuição em 16 deles. O nível de 77,8% está entre os mais baixos da série histórica, ficando acima apenas do registrado em julho de 2003 (77,7%). Na comparação com fevereiro de 2008, a queda foi de 5,3 pontos percentuais. Quatro segmentos tiveram reduções de dois dígitos em relação ao nível usado em fevereiro do ano passado: as indústrias de metalurgia básica (20,4%), refino e álcool (16,8%), madeira (15,2%) e veículos automotores (10,7%).
Nas indústrias montadoras de veículos, a UCI era de 90,3% em outubro de 2008, mês de eclosão da crise econômica mundial. Em fevereiro deste ano, essa utilização baixou para 77,8%, o que mostra retração de 12,7 pontos percentuais.
Veículo: Valor Econômico