A restrição ao crédito nas instituições financeiras privadas provocou uma inversão nos planos da empresas do setor de comércio que geralmente utilizavam capital próprio para financiar seus planos de expansão e agora participam de uma corrida rumo às portas do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O objetivo é fugir das altas taxas de juros que comprometem seu capital de giro e obter linhas de financiamento a longo prazo.
A mais nova integrante deste grande time varejista é a Guararapes Confecções S.A., controladora da Lojas Riachuelo, que pela primeira vez encaminhou uma carta de intenções com a proposta de captar até R$ 300 milhões que serão destinados à abertura de 13 pontos-de-venda, ampliação da área de venda de três lojas e a construção da terceira unidade fabril, tudo isso até o final de 2010.
De acordo com Flávio Rocha, vice-presidente e diretor de Relações com Investidores da holding, os principais objetivos com a conquista desta generosa verba é alongar o perfil de financiamento da empresa e reduzir significativamente o custo com capital. "Este projeto é de amplo alcance e gerará muitos empregos no Nordeste, visto que para cada novo posto de trabalho na loja corresponde a outros dois na fábrica", ressalta o executivo.
O balanço apresentado pelo banco de fomento referente aos desembolsos dos últimos 12 meses indica que dos R$ 91,6 bilhões concedidos às empresas, o setor de comércio e serviços abocanhou 8%, valor que corresponde a um crescimento de 13% na comparação com o período anterior. Na avaliação de Eugenio Foganholo, diretor da consultoria de varejo Mixxer Desenvolvimento Empresarial, a necessidade de financiamento é maior entre as companhias que já têm faturamento na casa de R$ 1 bilhão.
"O volume de crédito desembolsado aumentou nos últimos anos e o varejo é um importante condutor deste desenvolvimento. As instituições privadas criam cada vez mais empecilhos para a concessão de financiamentos e o juro praticado por elas é maior frente aos do banco de fomento", analisa Foganholo.
Desta maneira, está nos planos da família Rocha, administradora da Riachuelo investir ainda este ano R$ 30 milhões na abertura da segunda fábrica em Fortaleza (CE) - a outra é localizada em Natal (RN). Desde o final de 2008, a fábrica destina 100% da produção para as araras de 102 lojas, sendo que 51% das peças comercializadas já são fornecidas pela Guararapes.
Grandeza
Até mesmo o Carrefour, maior varejista do País com faturamento anual de R$ 22,4 bilhões, recorreu à instituição para cumprir sua meta de investir R$ 3 bilhões em expansão entre 2008 e 2010, com R$ 664 milhões provenientes do banco estatal e o restante vindo da matriz, na França. A operação brasileira é um dos motores de crescimento do grupo, tanto que ocupa a terceira posição, apenas atrás de França e Espanha. Segundo Jean-Marc Pueyo, diretor superintendente do Carrefour, serão abertas de 70 lojas, além da cadeia serviços, que inclui postos de combustíveis, drogarias, serviços digitais e turismo.
Aumento
Mesmo entre as empresas que já tomavam empréstimo com o BNDES, os valores solicitados para este ano cresceram substancialmente. Um exemplo é a rede de livrarias Saraiva, que um ano após adquirir a concorrente Siciliano assinou contrato para a obtenção de uma linha de crédito de R$ 140 milhões. Com este montante na conta, a empresa vislumbra aumentar o número de lojas, reformar outras e ampliar o catálogo da editora.
A expectativa é que 40% dos recursos sejam depositados este mês e o restante em 2009 e 2010. A última vez que a cadeia negociou uma quantia, há três anos, foram liberados R$ 54 milhões. Igualmente às demais varejistas, o empréstimo será a longo prazo.
Já na esfera atacadista, a multinacional holandesa Makro afirmou que parte do aporte avaliado em R$ 240 milhões virá da receita da companhia no Brasil e do banco. "Olhamos com carinho este empréstimo, que este ano será maior quando comparado aos anteriores", diz Ronaldo Andrade Júnior, diretor financeiro da rede.
Na última sexta-feira, representantes do Instituto para Desenvolvimento do Varejo (IDV) cobraram do ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior mais linhas de financiamento para as empresas brasileiras com participação de capital estrangeiro.
Veículo: DCI