A última versão da pesquisa de expectativas feita pelo Banco Central mostra que o mercado já acredita que a economia brasileira não só não vai crescer como vai se retrair em 2009. Divulgada ontem, a mediana das projeções colhidas na sexta-feira em bancos e empresas aponta, pela primeira vez, valor negativo (menos 0,19%) para a variação real do Produto Interno Bruto (PIB) este ano.
Pela primeira vez, o mercado também espera que o IPCA fique abaixo da meta do governo em 2010, crença que já havia em relação a 2009. Pelas novas previsões, em vez de 4,5%, o índice de inflação que serve de referência para calibragem da taxa básica de juros subiria 4,46% no próximo ano.
Por causa da crise internacional de crédito e seus reflexos na economia do país, a expectativa de crescimento econômico do Brasil para 2009 vinha caindo pelo menos desde o último trimestre de 2008. Mas até a semana retrasada a mediana não tinha apontado queda real do valor total do PIB. Havia, já, uma crença na retração do PIB da indústria, mas se acreditava, até então, que isso seria compensado por outros setores.
A projeção sobre o comportamento do PIB deteriorou-se diante de uma visão cada vez mais pessimista sobre o desempenho da indústria. Pela sétima semana seguida, a mediana das projeções de crescimento industrial piorou, passando a apontar retração de 3,06% - e não mais de 2,74% como na pesquisa da semana anterior. Para 2010, o mercado manteve a expectativa de crescimento real de 3,5% para o PIB e de 4% para a indústria especificamente. .
A expectativa inflacionária medida IPCA, que já tinha caído abaixo dos 4,5% fixados pelo governo como meta para 2009, recuou ainda mais, pela quinta semana seguida, saindo de 4,32% para 4,26%. Tanto no caso de 2009 quanto no caso de 2010, a queda da mediana das projeções deve-se às previsões sobre os preços livres, pois, para os administrados, a mediana não se alterou.
As projeções relativas ao comportamento de outros dois índices incluídos na pesquisa também apontaram queda da inflação esperada para 2009. No caso do IGP-DI, a mediana recuou pela oitava semana seguida, de 3,16% para 3,03%. Em relação ao IGP-M, o mercado agora aposta em variação 2,71%, ante 3,17% esperados na pesquisa anterior. No que se refere à inflação deste ano, as únicas que aumentaram foram as projeções de variação do IPC-Fipe, cuja mediana passou 4,33% para 4,37%.
Para 2010, a expectativa inflacionária se manteve em 4,5% para IGP-DI, IGP-M e IPC-Fipe (ou seja, todos os incluídos na pesquisa menos o IPCA).
A pesquisa do BC inclui também projeções para a taxa básica de juros. A previsão, nesse caso, é de que a Selic encerre 2009 em 9,25% e 2010 em 9,38% - na semana anterior, previa-se, respectivamente, o mesmo nível para este ano e 9,5% para o ano que vem.
A mediana das projeções relativas à balança comercial do país melhorou e agora aponta saldo positivo de US$ 14,5 bilhões - US$ 500 milhões a mais. Para 2010, espera-se saldo de US$ 13,7 bilhões, inferior ao deste ano, mas superior ao que era previsto na versão anterior da pesquisa, de US$ 12,95 bilhões). A previsão de ingresso de investimentos estrangeiros diretos foi mantida em US$ 22 bilhões para 2009 e US$ 25 bilhões para 2010.
Ainda segundo as novas projeções, o resultado das transações correntes do Brasil com o exterior será deficitário neste e no próximo ano, respectivamente, em US$ 22,6 bilhões e US$ 24 bilhões - em ambos os casos déficit abaixo dos apontados na pesquisa anterior.
Veículo: Valor Econômico