O panorama para a inflação segue bastante benigno, mostrou ontem o Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna (IGP-DI) de março. Depois de cair 0,13% em fevereiro, o indicador registrou deflação de 0,84% no mês passado, a menor variação desde setembro de 1995. O mergulho dos preços no atacado -e, em menor medida, dos custos na construção - derrubou o IGP-DI, que passou a acumular alta de 5,86% em 12 meses. Em julho de 2008, o indicador subia 14,81% nessa base de comparação. A forte desaceleração da economia é a principal explicação para o quadro inflacionário tranquilo, segundo analistas.
O economista Fábio Romão, da LCA Consultores, ressalta a importância do tombo de 1,46% dos preços no atacado para a deflação do IGP-DI. Os produtos agropecuários no atacado recuaram 2,37%, com destaque para a queda de de 5,35% da soja e de 7,24% do milho. No caso dos produtos industriais no atacado, o recuo foi de 1,16%. "Houve deflação em grupos com grande peso no IPI industrial", afirma Romão, enfatizando os de máquinas e equipamentos (-0,46%), veículos automotores (-1,74%) e alimentos e bebidas (-0,73%) e e metalurgia básica (-3,68%). Incluídos nesse último grupo, os produtos siderúrgicos estão em queda livre. O aço semi-acabado ao carbono, por exemplo, teve queda de 14,33%.
Para a economista Marcela Prada, da Tendências Consultoria Integrada, o comportamento favorável dos preços no atacado indica uma trajetória benigna para as cotações no varejo nos próximos meses, especialmente dos bens comercializáveis internacionalmente (os tradables, influenciados diretamente pelo dólar). "A hipótese de pressão inflacionária via câmbio está cada vez mais afastada", afirma ela.
Marcela também chama a atenção para o fato de que a deflação no atacado é bastante disseminada. Segundo cálculos do Credit Suisse, dos produtos industriais no atacado, apenas 30% registraram alta em março, excluindo do cálculo os alimentos. Em fevereiro, esse percentual tinha sido de 35% e em outubro de 2008, de 60%.
Os custos na construção passaram para o terreno negativo em março, registrando deflação de 0,25%. O grupo materiais, equipamentos e serviços recuou 0,55%. A redução do Imposto de Produtos Industrializados (IPI) sobre materiais de construção, anunciada pelo governo no fim de março, deve ajudar a manter esse segmento em baixa nas próximas coletas do indicador.
Na contramão dos preços no atacado e dos custos na construção, a inflação ao consumidor se acelerou, passando de 0,21% em fevereiro para 0,61% em março. A alta se deveu em grande parte ao grupo alimentação, que subiu 1,25%, depois de ter caído 0,12% no mês anterior. Esse movimento foi bastante influenciado pela elevação de alimentos in natura, que costumam oscilar bastante. O mamão da amazônia, por exemplo, subiu 21,23% e a manga, 30,07%. Em relatório, os economistas do Banco Fator dizem que a alta do IPC, "parece ser pontual, causada por um reajuste nos preços de alguns alimentos". O comportamento favorável no atacado dos preços agropecuários e dos produtos alimentícios industrializados sugere um quadro favorável para o grupo alimentação no varejo, acreditam os analistas. O grupo despesas diversas também mostrou aceleração, com alta de 0,18% em fevereiro e 0,6% em março, impactado pelo aumento de 0,85% dos preços do cigarro.
Veículo: Valor Econômico