Os recentes sinais positivos e a expectativa de recuperação mais vigorosa a partir do segundo semestre não devem ser suficientes para impedir que a economia brasileira tenha crescimento em torno de zero este ano. Esta foi a conclusão quase consensual de analistas e executivos do setor privado que participaram ontem, no Rio, do seminário "Cenários da Economia Brasileira e Mundial em 2009", organizado pelo Valor e pela Fundação Getúlio Vargas. O economista-chefe do grupo Santander Brasil, Alexandre Schwartsman, disse que o crescimento pode ser até negativo, embora a curva deva ser positiva no quarto trimestre.
A análise está alinhada com a previsão do mercado coletada pelo Banco Central em pesquisa semanal. Esta semana, o mercado rebaixou para menos 0,30% a aposta no desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro este ano. O presidente do BC, Henrique Meirelles, último palestrante, não fez previsão para o PIB. Ele ressaltou a gravidade da crise internacional, mas comemorou dados recentes no Brasil, como o aumento do consumo de energia elétrica e a alta na produção e nas vendas de veículos.
Para Meirelles, as medidas tomadas pela autoridade monetária no passado garantem uma margem de manobra maior agora, em um momento de crise mais aguda, Ele lembrou que, ao contrário de outros momentos de turbulência, o Brasil se beneficia de conquistas como o patamar de grau de investimento, a posição de credor líquido em dólar e o acordo fechado com o Federal Reserve para garantir US$ 30 bilhões para as reservas do país em caso de necessidade.
Schwartsman, que foi diretor de Assuntos Internacionais do BC, disse que há espaço para os juros seguirem caindo, chegando a 9% já na virada deste semestre (a taxa atual é de 11,25%), devendo voltar a subir em 2010, acompanhando o movimento de recuperação econômica. O economista do Santander disse que a desvalorização do real sem correspondência na alta da inflação corrobora a tese de que os juros podem cair mais.
O economista Carlos Geraldo Langoni, coordenador do evento pela FGV, disse que, "sem pressão inflacionária" é possível esperar "Selic até abaixo de 9% no final deste ano". Ele avalia que os indicadores mais recentes apontam que o ciclo de queda está sendo substituído por uma "estabilidade próxima à estagnação".
Para ele, há pouco a ser feito agora pelo governo para mudar o quadro, muito impactado pela crise das grandes economias. O governo, diz, deve trabalhar para manter o patamar da dívida pública próximo aos atuais 36% do PIB%. "O desafio é gerenciar a crise sem desconstruir a estrutura macroeconômica construída com tanta dificuldade", disse. Para Langoni, a preservação dos bons fundamentos macroeconômicos permitirá ao Brasil "sair da crise com força".
Esta visão de que o Brasil pode sair da crise fortalecido uniu os pontos de vista de economistas e de executivos que fizeram parte da mesa. Para o presidente do Instituto Brasileiro do Petróleo (IBP), João Carlos de Luca, o setor de petróleo deverá ser um dos motores da retomada do crescimento, especialmente se houver rapidez na definição do marco regulatório que vai definir a exploração do pré-sal, para que os leilões de blocos em mar (incluindo estas áreas) sejam retomados ainda este ano pela Agência Nacional do Petróleo (ANP)
Ele ressaltou que apesar da queda do preço do petróleo e da demanda global, a Petrobras (US$ 161 bilhões) e as empresas privadas (US$ 34 bilhões) investirão US$ 195 bilhões até 2013.
O diretor de Finanças da Vale, Fábio Barbosa, disse que, apesar da queda da demanda e dos preços dos minérios trazida pela crise, a mineradora brasileira terminou 2008 com US$ 12,5 bilhões em caixa e continua com apetite para aproveitar "oportunidades". Em 2006 a Vale comprou a canadense Inco em uma das maiores aquisições do setor mineral nos últimos tempos. Barbosa disse que há sinais de retomada do crescimento mais forte da economia chinesa, país que de 2000 a 2008 respondeu pela maior parte do mercado transoceânico de minério de ferro.
O presidente da distribuidora de energia elétrica Light, José Luiz Alquéres, mostrou dados animadores do consumo de energia em fevereiro e março, ressalvando que o consumo da indústria ainda caiu 20% em março.
Veículo: Valor Econômico