O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 0,20% em março, o que representa uma queda de 0,35 ponto percentual em relação a fevereiro, informou ontem o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A taxa é a menor desde setembro de 2007, quando apresentou alta de 0,18%. Em março de 2008, a alta havia ficado em 0,48%.
O índice do mês passado é inferior ao projetado pelo mercado financeiro (+0,25%), segundo sondagem realizada pelo Banco Central (BC) desta semana. Com esse resultado, a inflação acumulada no primeiro trimestre deste ano atingiu 1,23%, ficando abaixo da taxa de 1,52% relativa ao mesmo período de 2008. Em 12 meses, a alta ficou em 5,61%, também abaixo da taxa acumulada até fevereiro (5,90%).
A dinâmica da inflação em março foi bem parecida com fevereiro, o que limita qualquer preocupação com relação a alta de preços, na opinião de Flávio Serrano, economista-sênior do BES Investimento. Para ele, há uma tendência de que o IPCA convirja para baixo do centro da meta de inflação estipulada pelo governo em 4,5% neste ano. "Aquele processo que o Banco Central conduziu de descompressão da inflação já está refletindo, mas também tem o efeito da desaceleração da economia por influência da crise mundial", avalia.
Segundo Irene Machado, técnica do IBGE, o grupo educação (4,77% para -0,37%) teve uma queda maior que a prevista por conta da redução de mensalidades nas universidade particulares, em especial em São Paulo. "Depois de promover um ajuste nos preços, muitas faculdades decidiram diminuir o valor para conseguir formar turmas ou devido à concorrência."
Entre os alimentos, o destaque ficou por conta da queda nos preços de feijão carioca (-3,35% para -12,01%) e carne bovina (-2,14% para -2,84%). O item carne bovina acumula uma deflação de 4,7% no primeiro trimestre por conta da queda na demanda externa. "Em 2008, o preço da carne vermelha subiu muito devido a falta de animais para abate. Agora, por causa da crise as exportações estão em baixa, o que favorece a oferta para o mercado interno", conta.
Nesse contexto, Serrano visualiza um quadro de acomodação da atividade econômica. "No varejo houve uma desaceleração num ritmo muito menor que na indústria, o que favorece uma redução de preços, entretanto, o brasileiro continua consumindo apesar de alguns setores estarem pressionados pela retração do crédito", disse.
O economista destaca que há um descolamento entre o comportamento dos Índices de Preços Geral (IGPs) e o IPCA. "Houve muita mudança na composição desses dois itens, o que os coloca em trajetórias um pouco distintas. Assim, embora os preços no atacado estejam se retraindo isso não deve se tanto na inflação ao consumidor no curto prazo", prevê Serrano.
Para abril, o reajuste de serviços administrados pode resultar numa inflação maior. Para este mês está previsto o aumento da tarifa de metrô no Rio de Janeiro, medicamentos e também de energia elétrica em várias cidades. "Neste mês teremos o impacto do aumento do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para cigarros, o que deve colaborar juntamente com os preços administrados para uma pressão no IPCA", completa Serrano, que prevê alta de 0,4% em abril. "Um patamar considerado adequado para o período."
Veículo: Gazeta Mercantil