São Paulo - Especialistas do mercado financeiro esperam que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a inflação oficial, termine este ano a 2,97%, patamar abaixo do piso estipulado pelo Banco Central (BC), de 3%.
Há uma semana, o Relatório Focus do BC mostrava que a previsão para o indicador para 2017 estava em 3,08%, e há um mês, a expectativa sinalizava 3,46%.
Embora a queda progressiva da inflação já ocorra há certo tempo, a perspectiva baixa, se concretizada, deve ter impacto ainda maior no bolso dos cidadãos.
"Essa inflação abaixo do piso de tolerância tem sido sistematicamente uma surpresa, e isso vai de fato impactar a vida do consumidor. Afeta porque sobra dinheiro no bolso, e alguns mercados vão começar a responder. Com isso, a sensação de alívio também será reforçada. Como temos uma capacidade ociosa muito grande, ainda podemos estimular a economia sem levar essa inflação para cima", avalia o professor de economia da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), João Ricardo Costa Filho.
De acordo com os especialistas, o impacto nos preços deve ocorrer no processo de queda da inflação, e não somente quando (e se) a projeção do IPCA a 2,97% se concretizar no final do ano.
"Quando a gente mede a inflação, vemos o que aconteceu de fato no mercado. Então quando medirmos a passagem da inflação de um período para o outro, quer dizer que as famílias já experimentaram essa queda. É claro que tem diferença entre o consumidor sentir isso e ele achar que vai cair. Ele irá mudar essa expectativa quando perceber, sistematicamente, que os preços estão mais baixos", continua Costa Filho.
Além de ajudar na vida financeira diária dos consumidores e ampliar as suas possibilidades, a inflação mais baixa pode auxiliar na melhora de outros indicadores. "Com a inflação vindo mais baixa, a taxa de juros cai também, e isso, consequentemente, sinaliza um crédito mais barato e maiores probabilidades de investimentos", diz o professor da FAAP.
Ainda que não vejam a queda contínua como uma tendência geral para as próximas previsões, os especialistas consultados pelo DCI não observam o patamar do IPCA se distanciando do piso estipulado pela autoridade monetária.
"A inflação está bem ancorada. E já pode ser próxima dessa previsão do ponto mínimo ao qual ela pode chegar, e depois, é provável que vá retomando um crescimento, ainda que próximo dos 3%. Isso já reflete na prática o consumo, e não vejo grande distorções em relação ao nível atual. As famílias também sentirão bastante a queda da taxa de juros para o consumidor", diz a economista da Coface, Patricia Krauser.
Para 2018, a projeção para a inflação chegou a 4,08%, ante 4,12% há uma semana e 4,20% há um mês.
PIB e juros
O Focus de ontem mostrou também revisão na projeção de crescimento no Produto Interno Bruto (PIB) do País para 2017: +0,68%. Na última semana a previsão era de 0,60% e há quatro semanas estava em 0,39%. Para 2018, a perspectiva também cresceu ligeiramente de 2,20% há uma semana, para 2,30% nesta. Há um mês, os especialistas consultados esperavam incremento de 2,00% no PIB do ano que vem.
"Isso pode significar, sim, uma consolidação da recuperação econômica. É muito positivo, temos um ano que começou ruim e vai fechar melhor. A tendência é que a velocidade da economia também deva aumentar", aponta o professor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (FGV-EESP), Joelson Sampaio.
Já as perspectivas em relação à taxa básica de juros (Selic), divulgada pela pesquisa do BC, foram mantidas em 7% tanto para este ano, quanto para o próximo, um intervalo de estabilidade considerável. "Para o final do ano que vem ainda é muito incerto cravar isso [estabilidade]. Pode ser que chegue a um nível mais alto por conta do cenário político com as eleições, mas não chega a ser um erro continuar a 7%", explica Patricia Krause.
Fonte: DCI São Paulo