Copom sinaliza com cautela no juro, por temor da inflação

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A ata do Comitê de Política Monetária (Copom) divulgada ontem pelo Banco Central (BC) aponta, que depois do último corte de 0,5 ponto percentual, a taxa básica de juros deve estacionar em 8,75% ao ano - tendência já especulada pelo mercado. A autoridade monetária também revela que apesar dos indicadores inflacionários terem caído, mantém cautela. "A queda não foi o que o BC esperava", disse Evaldo Alves, professor de Economia da FGV (Fundação Getulio Vargas).

 

"Desde a última reunião do Copom, a mediana das expectativas coletadas pela Gerência- Executiva de Relacionamento com Investidores (Gerin) para a variação do IPCA em 2009 se elevou, de 4,33% para 4,53%. Também para 2010, as expectativas de inflação se elevaram entre as reuniões de junho e julho, passando de 4,30% para 4,41%", revelou o documento do BC. "São detalhes, questões pequenas, porém o Brasil é bastante rigoroso em termos de inflação", acrescentou Alves.

 

Segundo a LC Consultores, "apesar de ter reafirmado reiteradas vezes no documento as suas perspectivas de um cenário inflacionário benigno, o Banco Central atentou para a elevação recente das expectativas de inflação do mercado - que "continuam sendo monitoradas com particular atenção", disse em nota.

 

Para Marcela Prada, economista da Tendências Consultoria, a inflação não preocupa. "O Banco Central trabalha com um cenário benigno", disse. Segundo Prada, a recuperação gradual da economia deverá aproveitar os espaços criados pela capacidade produtiva ociosa. "O Nuci (Nível de Utilização da Capacidade Instalada) caiu bem com a redução da demanda e o Copom cita que as pressões das inflação corrente tem risco baixo e seguem trajetória segura", afirmou.

 

O professor da FGV alerta que não é apenas o aspecto monetário que deve ser observado. Segundo ele, o Brasil está mudando a direção de sua economia. "Perdemos espaço do setor industrial no mercado externo e estamos substituindo isso pelo aumento da demanda interna. Isso pode gerar pressões inflacionárias. A cautela faz parte desse momento", explicou. "No esforço de recuperação da demanda, estamos na primeira fase. Não entramos ainda na segunda fase de consistência dessa demanda".

 

Para o diretor executivo da Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade), Andrew Stofer, o documento divulgado pelo BC mostra que a inflação está tranquila. "Na percepção do BC mesmo com retomada da atividade econômica, não há risco inflacionário, porque a projeção de crescimento está dentro do espaço ocioso da capacidade instalada", afirmou Storfer.

 

Freio na queda

 

Quanto a possibilidade de continuar a trajetória de redução da Selic, os economistas avaliam que o dcumento do Copom aponta um freio no processo de queda. "A ata indicação de Selic estável nos próximos trimestres", disse Marcela Prada. "Na última reunião, parte dos diretores aventaram interromper a trajetória de redução da taxa básica de juro, mas acabaram cedendo para um ajust e residual", contou.

 

De acordo com análise da LCA, o juro básico de 8,75% ficará nesse patamar por um bom tempo. "Não obstante, o Banco Central parece ter tomado o cuidado de adotar, na Ata do Copom, uma redação que não estreitasse a sua margem de manobra nas futuras decisões de política monetária. Vale notar, sobretudo, que a autoridade afirmou trabalhar com um cenário básico de recuperação gradual da atividade econômica, mas que também considera cenários "com viés tanto positivo quanto negativo, sobre o ritmo de recuperação da atividade"", destacou a consultoria.

 

Na mesma linha de estacionar a Selic em 8,75%, segue o diretor executivo da Anefac. Storfer aposta que a taxa básica de juro será mantida no patamar atual até o final de 2010. Segundo ele, o que chama atenção é a curva futura de juros, que continua em patamar alto. "Porque há dúvida no mercado, não sobre a inflação, mas sobre o superávit. O governo precisa aumentar a receita para não comprometer a sua política fiscal", frisou. "Existem algumas maneiras de fazer isso: por emissão de moeda, pouco provável porque tem forte componente inflacionário; aumentando imposto, improvável diante de um quadro de necessidade de estímulo; resta a emissão de títulos, se precisar mais fazer isso mais, vai ter que subir os juros".

 

Na ata, o BC afirmou que, além dos cortes de juros já realizados - que colocaram a Selic no menor nível da história -, é preciso avaliar os efeitos da política fiscal, que desonerou parte da indústria e aumentou gastos.

 


Veículo: DCI


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