Enquanto o mercado de crédito apresentou taxas de crescimento consistentes em julho, com o arrefecimento da crise financeira mundial, o volume de financiamento concedido à pessoa jurídica destoou ao voltar a recuar no período. Dados do Banco Central (BC) divulgados nesta quarta-feira apontaram a que o saldo concedido às empresas alcançou R$ 461,3 bilhões, queda de 0,7% no mês e incremento de 12,8% em relação a julho de 2008.
Miguel de Oliveira, vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac) explicou que as grandes empresas voltaram a captar no mercado externo e abriu-se um espaço neste segmento. "Os bancos devem voltar a assediar as pequenas e médias empresas, uma vez que as linhas externas para empresas como a Petrobras se reabriram. Com esse movimento, a carteira de pessoa jurídica deve voltar a crescer nos próximos meses", disse.
Inclusive o empréstimo de R$ 25 bilhões concedido pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) à estatal petrolífera fez com que o BC elevasse a previsão do nível da participação do crédito total no Produto Interno Bruto (PIB) de 45% para 47% ao final de dezembro deste ano.
Altamir Lopes, chefe do Departamento Econômico do Banco Central, explicou que esse financiamento bilionário inflou os números de julho do mercado. Na comparação entre julho e junho, a carteira total de empréstimos cresceu 2,6%. Sem a Petrobras, a expansão teria sido de 0,7%. Foi graças à essa operação que a participação do crédito no PIB saltou de 43,9% para 45% entre junho e julho. "Sem a Petrobras, o indicador teria fechado o mês passado em cerca de 44,2%", disse.
"O nível de participação do crédito no PIB ainda é pequeno se comparado a outros países com renda per capta semelhante a nossa. Ainda assim, o crescimento visto neste ano é positivo e deve-se a atuação agressiva dos bancos públicos, queda das taxas de juros e a desalavancagem do País", afirmou Alcides Leite, professor de Economia da Trevisan Escola de Negócios.
O saldo total de crédito do sistema financeiro, incluídas as operações com recursos livres e direcionados, somou R$ 1,31 bilhão em julho, com crescimento de 2,6% no mês e de 20,8% em doze meses. A evolução do crédito, em julho, resultou de dois comportamentos distintos. O primeiro foi o crescimento das operações com recursos direcionadas, que somaram R$ 407,8 bilhões em julho, 7,8% a mais no mês e 32,6% em doze meses.
E o segundo comportamento foi o arrefecimento dos empréstimos com recursos livres relativamente ao mês anterior. Ainda assim, o crescimento foi condicionado pelas operações com pessoas físicas que somaram R$ 442,3 bilhões, alta de 1,7% no mês e de 19,7% em doze meses, já que volume concedido à pessoa jurídica recuou no período.
Os spreads e taxas de juros seguiram a tendência de queda observada desde o final do ano passado. O recuo mensal da taxa média de juros das operações que constituem o crédito referencial foi de 0,6 ponto percentual (p.p.), fechando o mês em 36,0%, o nível mais baixo desde dezembro de 2007. A queda da taxa média de juros foi resultado da redução da taxa voltada à pessoa jurídica, de 27,4% para 26,7% em julho, e à pessoa física, de 45,6% para 44,9% no mesmo período. O spread bancário - para pessoa tanto física quanto jurídica - fechou o mês em 26,8%, abaixo do nível registrado em junho, que foi de 27,2%. Esse é o nível mais baixo desde setembro de 2008.
Fato negativo
A taxa de inadimplência (atrasos superiores a 90 dias) para o crédito referencial atingiu 5,9% em julho, alta de 0,2 p.p. no mês e 1,7 p.p. em doze meses. Esta alta é resultado da elevação mensal de 0,2 p.p. da inadimplência calculada para pessoa jurídica, já que nas operações voltadas à pessoa física a taxa de inadimplência permaneceu estável.
"O aumento da inadimplência se deve mais aos efeitos negativos da crise financeira internacional do que à expansão do volume de crédito", afirmou o professor da Trevisan Escola de Negócios.
Se o mercado de crédito geral já mostra sinais de recuperação, os financiamentos a empresas ainda sofrem as consequências da crise financeira. Dados do Banco Central divulgados ontem mostraram que o saldo concedido às empresas recuou para R$ 461,3 bilhões em julho, queda de 0,7% em relação a junho. A inadimplência da pessoa jurídica subiu, passando de 3,4% do total de crédito concedido em junho para 3,8% no mês passado.
Mesmo assim, o saldo de crédito total no sistema bancário brasileiro superou R$ 1,3 trilhão em julho, e chegou a 45% do PIB. O Banco Central espera que este índice chegue a 47% ao final do ano.
Veículo: DCI