O consumo de lácteos resistiu à crise econômica mundial, de acordo com o Tetra Pak Dairy Index, pesquisa global sobre tendências de consumo na indústria de leite feita pela fabricante sueca de embalagens. Segundo o levantamento, o consumo deve crescer 1,3% este ano, saindo de 259 bilhões de litros em 2008 para 263 bilhões de litros este ano. Menos afetado pela crise mundial, o Brasil ampliou o consumo em 2,5%, para 10,3 bilhões de litros. Só na região Nordeste do país, o aumento foi de 20%, segundo a Tetra Pak.
"A vida foi dura para a indústria este ano, mas a recessão da economia global não afetou o setor de lácteos da mesma forma que afetou outros setores", afirmou Dennis Jönsson, CEO e presidente do grupo Tetra Pak , em teleconferência com jornalistas, a partir de Lausanne, na Suíça. "O consumo de lácteos deve continuar crescendo", previu o executivo.
A pesquisa da fornecedora de embalagens longa vida (UHT - Ultra High Temperatures) leva em conta o consumo mundial de leite e outros lácteos líquidos (como leite flavorizado, evaporado e condensado) refrigerados ou não.
Mesmo nos mercados desenvolvidos, onde a Tetra Pak esperava recuo de 1,2% no consumo este ano, houve aumento de 0,6% na demanda. No Brasil, o avanço está estimado em 2,5%, segundo Eduardo Eisler, diretor de marketing da Tetra Pak no Brasil.
O consumo global não caiu, apesar da recessão, em grande parte porque os consumidores não deixaram de comprar lácteos. Houve o efeito substituição. "Alguns consumidores, por causa da situação, acabaram comprando produtos mais baratos na mesma categoria", afirmou o CEO da Tetra Pak.
Os mercados emergentes, como o Brasil, devem continuar puxando o crescimento do consumo do setor de lácteos, segundo a Tetra Pak. Mas crescer nos mercados desenvolvidos, que representam 31% do consumo global de lácteos, é um desafio. "Os mercados desenvolvidos são mais maduros, é mais difícil continuar crescendo. É preciso focar em inovação para avançar", defendeu Dennis Jönsson.
Enquanto a perspectiva é de que o consumo no Brasil aumente a uma média ponderada de 3% entre 2009 e 2012, a expectativa é de queda de 0,6% nos Estados Unidos e no Reino Unido (dois dos países mais afetados pela crise) e de recuo de 2,3% no Japão. Já para Índia e China, a perspectiva é de crescimento de 2,2% e 7,1%, respectivamente. (ver quadro) Para o consumo global, a previsão da Tetra Pak é de um crescimento a taxa anual acumulada de 2,2% entre 2009 e 2012, conforme estimativas realizadas no início deste ano.
Nos mercados desenvolvidos, afirmou o CEO da Tetra Pak, o consumo per capita de lácteos já é elevado e há uma mudança no padrão demográfico, com a redução no número de crianças.
Situação bem diferente do Brasil, onde o consumo per capita de lácteos está em 60 litros por ano, ou da China, onde é de 19 litros anuais. Só para comparar: no Reino Unido, o consumo é de 114 litros, e na Irlanda, maior consumidor mundial, de 160 litros de lácteos per capita/ano, segundo a pesquisa.
"Há um potencial para o aumento do consumo no Brasil", disse Eduardo Eisler. Para ele, os mesmos fatores que sustentaram o crescimento este ano devem persistir no médio prazo. "Há mais pessoas entrando no mercado, principalmente no Nordeste", afirmou, por conta da melhora na renda. Além disso, há uma recuperação da economia e o investimento das empresas no segmento de lácteos, parte delas, exatamente no Nordeste.
O cenário também melhorou na China, onde a indústria de lácteos sofreu um baque por conta dos casos de contaminação com melamina, em 2007. De acordo com Jönsson, o consumo de lácteos já começa a se recuperar, num ritmo mais rápido do que se esperava, após forte queda. Até novembro deste ano, o aumento foi de 7,1% em relação a igual período de 2008.
A pesquisa da Tetra Pak, que destina 66% das embalagens que produz para a indústria de lácteos, também levanta dados sobre o consumo de leite de soja, de arroz e outros. Nesse caso, o consumo salta para 284 bilhões de litros este ano. A pesquisa mostrou queda de 4,4% no consumo em relação a 2008, devido à recessão. O leite de soja responde por 2,1% do mercado de lácteos.
Veículo: Valor Econômico