Depois de somar R$ 2 bilhões em aquisições só este ano - a mais recente foi a compra da Neo Química fechada ontem, por R$ 1,3 bilhão -, a Hypermarcas faz planos para crescer organicamente. A empresa vai investir R$ 50 milhões em uma nova fábrica de cosméticos no Estado de São Paulo, a ser inaugurada no fim de 2011. O objetivo é diminuir ao máximo a produção via terceiros (que hoje respondem por 10% do total) e, ao mesmo tempo, dar impulso à verticalização com a produção de embalagens. Outra fábrica e um novo centro de distribuição (CD) vão ser instalados em 2010 no Nordeste, região que até hoje ficou de fora do mapa de produção da empresa. Neste projeto, serão investidos R$ 30 milhões. Para a fábrica do Nordeste, serão transferidas algumas linhas de produção dos itens com maior demanda na região, como as marcas de cosméticos Monange, Paixão e Leite de Colônia, além de fraldas e da lã de aço Assolan.
"Será a nossa primeira fábrica 'multibusiness', reunindo linhas de cosméticos, higiene pessoal e limpeza", afirma o presidente da Hypermarcas, Claudio Bergamo, com exclusividade para o Valor. O executivo aposta que a região Nordeste, que representa 25% das vendas da empresa (só em produtos de consumo, com exceção de medicamentos), pode crescer ainda mais. "Em alguns Estados, como Ceará, Rio Grande do Norte e Piauí, a marca Assolan vende mais do que a Bombril", diz Bergamo, referindo-se à líder de mercado em lã de aço.
Ainda está sendo definido o local para a nova fábrica e o CD. O investimento não será tão alto, segundo Bergamo, porque não haverá compra de maquinário, mas sim transferência de linhas de produção para o Nordeste. "Das oito linhas que temos de Assolan hoje, por exemplo, duas podem ir para lá", afirma. O primeiro passo será a abertura do CD em 2010, enquanto que a fábrica deve entrar em operação no início de 2011. "Se você está próximo, tem condições de atender mais rápido e não corre o risco de venda perdida, ou seja, não ter o produto na prateleira", diz.
A Hypermarcas também decidiu a construção de uma nova fábrica de cosméticos, que deve reunir todas as marcas do seu portfólio nessa área - entre elas, Bozzano, Eh!, Risqué e Monange. "O nosso negócio de cosméticos é o mais disperso, são cinco fábricas espalhadas por São Paulo", diz Bergamo, garantindo, no entanto, que nenhuma das atuais plantas serão fechadas.
O objetivo do projeto, segundo ele, é deixar a produção terceirizada. "Usar terceiros no Brasil não é uma coisa interessante", afirma. "Não é um mercado muito profissionalizado, ainda é incipiente e queremos voltar a ter tudo dentro de casa". De acordo com o executivo, a Hypermarcas herdou a produção terceirizada mantida por companhias adquiridas, de marcas como Bozzano e Eh!. "Também temos observado a importância da verticalização em algumas áreas, especialmente em embalagens, onde é mais vantajoso produzir", diz Bergamo. Segundo ele, em categorias como xampus, 50% do custo do produto é de embalagem.
Em alimentos, a empresa pretende dar novo impulso à marca Etti, tradicional em conservas, com o lançamento de pratos prontos não-congelados e de molhos especiais. "Ela não será uma marca de commodities", diz Bergamo. Recentemente, a marca Finn lançou produtos relacionados à saúde, como cereais e barrinhas.
Em oito das suas nove fábricas, a Hypermarcas trabalha em três turnos, perto do limite da sua capacidade instalada (cerca de 90%), especialmente por conta da sazonalidade. "No fim do verão, podemos reduzir para dois turnos ou manter, para fazer estoque de segurança", diz.
Já a fábrica da Neo Química trabalha em dois turnos, com capacidade ociosa. A empresa da família Gonçalves, sediada em Goiás, foi adquirida por R$ 1,3 bilhão. Metade desse valor (R$ 687 milhões) será pago em três parcelas anuais. A outra metade foi paga em ações. A família passa a deter 12% do bloco de controle da Hypermarcas e dois assentos no conselho de administração da empresa, composto por nove membros. Os principais executivos continuam na administração da empresa. Ficou de fora do acordo a operação de adoçantes da Neo Química, a Línea Sucralose. "Eles têm outro sócio nessa área", diz Bergamo.
Com o negócio, a Hypermarcas, que até agora trabalhava com produtos sem prescrição (OTC), desembarcou no mercado de genéricos e similares que, segundo Bergamo, cresce 26% ao ano. "Com a desaceleração do consumo no mercado internacional, todas as grandes empresas mundiais estão olhando para cá, por isso, precisamos nos fortalecer", diz Bergamo, referindo-se especialmente às gigantes do setor farmacêutico.
A Neo Química deve gerar sinergias, segundo o executivo, de R$ 115 milhões ao ano, dentro de três a cinco anos. Com a aquisição, a relação entre dívida líquida e lajida (lucro antes dos juros, impostos, depreciações e amortizações) da Hypermarcas, que mede a sua capacidade de pagamento, subiu de 1,5 para 2,5. "Podemos chegar até 3", comenta Bergamo. Segundo o presidente, mesmo com todas as compras realizadas este ano, a empresa mantém R$ 500 milhões em caixa para novas aquisições. E pensa em buscar recursos junto ao BNDES, ou captação no mercado por meio de "bonds" (títulos de renda) ou debêntures. "Vamos continuar procurando novas oportunidades, especialmente em medicamentos, higiene pessoal e cosméticos", diz ele.
Um dos maiores investimentos da companhia tem sido em marketing: cerca de 20% da receita. Ao ano, a empresa realiza entre 40 e 45 campanhas. "Só em mídia, vamos gastar R$ 250 milhões este ano", diz Bergamo.
Veículo: Valor Econômico