Qualidade de vida é o que leva a terapeuta Márcia Ares, 42 anos, a ir aos sábados à Feira Ecológica e Cultural da Glória, na Zona Sul do Rio, para comprar alimentos orgânicos. Para ela, o maior ganho nesse tipo de alimentação é a satisfação. "São infinitamente mais saborosos e o importante é que, em vez de veneno, você está consumindo alimento de verdade," diz ela. Além de serem considerados alimentos ecologicamente corretos, a produção de orgânicos ajuda na conservação do solo e da água. Não só como produto, processo ou método que respeita tais princípios. Mas principalmente por representar a cadeia de sustentabilidade que há por trás de cada produto orgânico, seja de origem animal ou vegetal. Para manter a harmonia que deve existir entre os setores social, ambiental e econômico, o produtor de orgânicos deve observar uma série de regras. Antes de mais nada, o estrito cumprimento da legislação sanitária que, entre outras normas, estabelece a utilização de solos enriquecidos exclusivamente por processos naturais, e a criação de animais em ambientes livres. Nada de agrotóxico, pesticidas, adubos químicos, sementes transgênicas, hormônio de crescimento e anabolizantes. É preciso também seguir a legislação trabalhista, que garante a todos os trabalhadores os mesmos direitos básicos.
De acordo com o Instituto Biodinâmico (IBC), certificador brasileiro reconhecido internacionalmente, a produção de orgânicos no Brasil cresce em média 30% ao ano. Ocupando atualmente área de 6,5 milhões de hectares de terras, o setor coloca o País na segunda posição entre os maiores produtores mundiais. "As associações e cooperativas de pequenos produtores vêm crescendo e viabilizam a agricultura orgânica em muitas regiões, fixando o homem no campo", diz o IBC, empresa brasileira sem fins lucrativos, que desenvolve atividades de inspeção e certificação agropecuária, de processamento e de produtos extrativistas, orgânicos e biodinâmicos.
Para o comerciante Benedito Leônidas Luz, o que ainda assusta o consumidor é o preço, pois os produtos orgânicos são mais caros que os industrializados: "O que as pessoas não sabem é que cultivar esses alimentos demanda custo bem maior do que uma plantação comum", explica ele.
O selo de certificação que acompanha cada produto é a garantia de que o consumidor está adquirindo orgânicos isentos de qualquer resíduo tóxico. O sistema de cultivo orgânico observa as leis da natureza, respeita as diferentes épocas de safra, e todo o manejo agrícola é baseado na preservação dos recursos naturais. O produtor orgânico de animais Armindo dos Santos explica que o processo de preparo do frango orgânico é natural. "Em sua produção são proibidos antibióticos e hormônios de crescimento. A dieta, além de não apresentar ingredientes de origem animal, é composta unicamente de grãos e vegetais cultivados em sistema orgânico, ou seja, produzidos sem a utilização de defensivos e fertilizantes químicos. São criados soltos, em contato direto com a pastagem, e em observância a um mínimo de 90 dias para serem considerados prontos para o consumo, enquanto a criação convencional utiliza apenas 40 dias", explica Armindo.
Os orgânicos conquistaram também os restaurantes. O chefe de cozinha Christiano Ramalho fala que tais alimentos realçam o sabor da comida: "Às vezes, por causa de um morango ou um tomate com grande quantidade de agrotóxico, você pode vir a sentir um traço, uma diferença que torna o paladar desagradável. Já os orgânicos não, eles têm uma concentração de sabor maior por serem plantados e produzidos dessa maneira."
A nutricionista Fernanda Mendonça recomenda o consumo desses produtos, porque além de não agredirem o meio ambiente e serem mais saborosos do que os industrializados, são mais saudáveis. "Os produtos orgânicos são limpos, cultivados, conservados, transportados e elaborados cercados de todos os cuidados. Por essa razão, protegem nossa saúde de problemas que poderiam ser provocados pela ingestão de substâncias químicas tóxicas. Sem contar que os produtos orgânicos aumentam a nossa imunidade e fortalecem as nossas células. A metabolização da carne contendo nitratos é diferente," afirma a nutricionista. "Vale a pena consumir alimentos orgânicos. Podem ser um pouco mais caros, mas no futuro vamos constatar os benefícios", lembra ela.
"Contamos com 14 produtores de diferentes lugares do Estado do Rio e alguns revendedores. Completamos 15 anos neste ano e estamos crescendo cada vez mais", informa Renato Martelleto, coordenador da feira. "Hoje temos o certificado de qualidade da Associação dos Agricultores Biológicos do Rio de Janeiro (Abio), mas em breve nós mesmos faremos essa fiscalização e cada produtor será responsável pelo outro", completa.
O projeto OrganicsNet, da Sociedade Nacional de Agricultura, aposta na inovação para alavancar o mercado de orgânicos no Brasil. Prova disso foram os recentes lançamentos apresentados na Biofach América Latina, em São Paulo. O primeiro molho orgânico de semente de papaia (Epicuro), o agave - adoçante natural feito a partir de um tipo de cactus do México (Sítio do Moinho) -, a paçoca de castanha de caju (Cultivar Brazil), entre outros, ganharam a atenção do público. Para a coordenadora do OrganicNet, Sylvia Wachsner, "o diferencial que agrega valor ao produto é uma forte estratégia para quem deseja conquistar esse mercado, que não para de crescer."
Veículo: Jornal do Commercio - RJ