Consumo dá novo impulso a fusões e aquisições em 2009

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Ritmo de negócios acelera-se, com foco no mercado doméstico


 
De olho no consumidor, os negócios de fusões e aquisições ganham novo impulso. Empresas que oferecem produtos ou serviços que os brasileiros estão comprando - desde eletrodomésticos, bebidas e cosméticos a planos odontológicos, passando por medicamentos - atraem tanto o capital nacional quanto o estrangeiro, num movimento crescente de transações, que deve ficar ainda mais forte em 2010.

 

Neste ano, segundo estimativa da consultoria PricewaterhouseCoopers, devem ser fechadas cerca de 640 operações de fusões e aquisições - praticamente o mesmo patamar de 2008, quando foram anunciadas 643. E mais de 50% desse total são negócios envolvendo produtos e serviços de consumo final, com viés no mercado de massa, diz Alexandre Pierantoni, sócio da Price e especialista em fusões e aquisições. Só de julho a outubro, foram 63 operações, em média por mês - um salto de 47% em relação à média mensal do primeiro semestre.

 

De fato, considerados os negócios anunciados recentemente - a compra da maior varejista de eletrodomésticos do país, Casas Bahia, pelo Grupo Pão de Açúcar; a aquisição da fabricante de medicamentos genéricos Neo Química pela Hypermarcas; o fundo de private equity do sul-africano Standard Bank como o novo dono da rede de lanchonetes Casa do Pão de Queijo - o foco é o mercado doméstico, que neste ano foi a principal alavanca para evitar uma recessão prolongada.

 

O Produto Interno Bruto (PIB) caiu por dois trimestres consecutivos (o último de 2008 e o primeiro deste ano), mas a economia parou de encolher em meados do ano e a taxa anualizada de expansão, considerando o PIB do terceiro trimestre, já está na casa dos 8%.

 

Vários fatores explicam o interesse por empresas que operam na ponta final do consumo: a renda do brasileiro aumentou; a confiança em ir às compras é maior, pois o medo de perder o emprego encolheu; o crédito voltou a circular para companhias e para pessoa física; a bolsa de valores mostra-se como fonte interessante de captação de recursos; as multinacionais buscam países emergentes como o Brasil para investir, pois Estados Unidos e a Europa continuam em crise. Há também grandes eventos previstos para o Brasil - a Copa do Mundo, em 2014, e os Jogos Olímpicos, em 2016 -, que jogam mais dinheiro na economia.

 

A consultoria Ernst & Young, em estudo recente, traça um cenário de crescimento importante para o mercado de consumo no país, tomando por base o aumento do nível de escolaridade da população. Este deve subir de 7,5 anos, em média, para 10 anos até 2030. Com mais estudo, o brasileiro deverá receber salários maiores, que cresceriam 2,5% ao ano até 2030, levando o mercado de consumo a aumentar em 3,8% ao ano. Em 2030, o Brasil seria o quinto maior do mundo nesse categoria.

 

"Esse potencial está sendo observado e as empresas estão se posicionando", diz o sócio-líder de contas globais da Ernst & Young, Sérgio Citeroni. Embora a consultoria não tenha um levantamento sobre os negócios de fusões e aquisições fechados no Brasil, Citeroni estima que a maior parte das transações feitas neste ano foram realizadas no varejo e na indústria de bens de consumo. E o foco tem sido operações que envolvam produtos e serviços para a massa, e não para a elite de consumidores.

 

Incorporar a Casas Bahia ao Grupo Pão de Açúcar, por exemplo, aproxima a varejista comandada pelo empresário Abilio Diniz do consumidor de baixa renda. A bandeira de supermercados Pão de Açúcar e mesmo a varejista de eletroeletrônicos Ponto Frio são consideradas marcas não tão populares.

 

A Hypermarcas, que nasceu em 2001, com a marca de palha de aço Assolan, talvez seja o exemplo que melhor espelha a estratégia de expansão por meio de aquisições de produtos destinados ao mercado popular. Nos últimos oito anos, o empresário João Alves de Queiroz Filho já fechou 15 negócios envolvendo aquisições. Somente neste ano, foram quatro: cosméticos infantis, fraldas, preservativos e medicamentos genéricos.

 

Esse quadro anima os negócios das empresas de consultoria. A demanda por serviços visando uma possível fusão, aquisição, ou abertura de capital na bolsa de valores, cresce desde agosto, informa Luís Motta, responsável pela assessoria de fusões e aquisições da KPMG, onde é sócio. "O fundo do poço foi em maio deste ano. Mas desde agosto o interesse voltou e, pelo ritmo, no primeiro trimestre de 2010 teremos mais anúncios de novos negócios", diz Motta.

 

Na Ernst & Young, a equipe de fusões e aquisições, que havia encolhido, com demissões, está chamando de volta os funcionários que emprestados a outras áreas da companhia, como as de consultoria tributária e de auditoria.

 

O que anima os consultores dedicados ao mercado de fusões e aquisições é o fato de o número de negócios sendo fechados nos últimos meses desenhar uma curva ascendente em seus gráficos. Segundo a Price, de janeiro a junho deste ano foram anunciadas 43 transações, em média, por mês. De julho a outubro, essa média subiu para 63 - ultrapassando a média mensal de negócios fechados em 2007, ano recorde no Brasil e no mundo para área de fusões e aquisições.
 

 

Veículo: Valor Econômico


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