Com uma média anual de preços quase 50% abaixo dos praticados em 2008, os produtores de feijão terminam o ano vendendo o produto abaixo do custo em algumas regiões e sem perspectiva de melhora até o fim de fevereiro, quando está previsto o término da primeira safra da leguminosa. A forte incidência de chuvas agravou a situação, já que a mesma prejudicou a qualidade dos grãos, o que está colaborando para pressionar ainda mais as cotações.
As manchas e a umidade no feijão, provocadas pelo clima, chegam a desvalorizar o produto em até 30%. Segundo o agricultor paranaense José Raifur, esse tipo de desconto está sendo aplicado na região de Prudentópolis sobre um produto avaliado em R$ 40 a saca - abaixo do mercado.
"A chuva estragou muito o feijão e o preço está muito baixo", disse Raifur. O agricultor ressalta que a situação está ainda mais complicada para o pequeno produtor, que precisa pagar o financiamento do plantio. "A maioria tem que vender para pagar conta e os cerealistas estão se aproveitando porque a qualidade do produto está ruim", afirmou.
No caso de Raifur, o excesso de chuva acabou se tornando uma esperança já que o atraso do plantio está permitindo um tempo maior até precisar intensificar a comercialização. "Quem plantou mais cedo vai ter um baita prejuízo", alerta. "A esperança é que para frente talvez melhore a qualidade do produto e assim, dos preços", completou.
Além da má qualidade do feijão, o mercado baixista é reflexo do excesso de produção estimulada pelo ciclo de preços altos no ano passado. Na safra passada, o aumento de área foi da ordem de 9%, mas com produtividade baixa. Na atual temporada, a área se manteve praticamente estável, mas a produtividade subiu, resultando em um aumento de aproximadamente 5% na produção. Vale destacar que menos de 90% da safra ainda não foi colhida.
De acordo com Rafael Poerschke, analista da Safras & Mercado, o alto volume de oferta deverá fazer com os preços caiam seguidamente nas próximas semanas. "O comprador está em uma posição confortável e a tendência é a de que o mercado continue sem suporte, já que daqui para frente o volume de oferta vai ser ainda maior", avaliou. Segundo o analista, até a primeira quinzena de fevereiro os preços estarão sobre efeito de safra.
O custo médio desta safra é estimado em torno de R$ 65 a saca, o mesmo valor médio negociado pelos produtores de Ivaiporã, no Paraná, nos meses de novembro e de dezembro.
Foi a partir do segundo semestre que a queda nos preços começou a se acentuar. A mesma saca que em junho era negociada a R$ 100 no atacado paulista foi vendida, em média, a R$ 77,50 no mês de novembro, quando a expectativa era a de que, por ser um mês de entressafra, houvesse uma reversão na tendência.
Em dezembro a tendência baixista é ainda maior e a saca da leguminosa está sendo comercializada a R$ 74. Antes desse valor verificado este mês, o menor preço havia sido praticado em janeiro de 2007, quando a saca de feijão foi vendida a R$ 71,95 o que, deflacionado, se aproxima de R$ 74. Para Poerschke, nenhum instrumento é capaz de reverter essa tendência. "O governo não acena nenhum tipo de intervenção e os estoques estão cheios como há cinco anos não se via", destacou.
A situação é preocupante não apenas para a cadeia produtiva como também para o atacado e varejo. Para o setor atacadista, a retração acumulada nos últimos 12 meses encerrados em novembro é de 26%: uma redução de R$ 103,85 a saca em novembro do ano passado para R$ 77,61 a saca em novembro de 2009.
Em apenas uma semana, o preço da saca de feijão caiu R$ 3,25. A saca de 60 quilos, que antes estava sendo vendida em média a R$ 64,25, foi comercializada na semana a R$ 61,00. O valor é 50,2% menor do que o obtido pelos agricultores ano passado.
"Esse valor continua caindo. Em dezembro, a média deverá ser menor. Há uma tendência clara de baixa para curto e médio prazo", alertou Poerschke.
Para os varejistas, a situação é ainda mais delicada tendo em vista que a desvalorização acumulada nos últimos 12 meses, também encerrados em novembro, chega a 53%. Em novembro do ano passado, o quilo do preço do feijão era vendido a R$ 5,34. Em 2008, o quilo do feijão chegou a ser encontrado a R$ 7,62, segundo o Dieese. No mês de novembro deste ano, o preço do saco de 1 quilo de feijão foi comercializado, em média, a R$ 2,50.
"A luz do fim do túnel é o governo acenar para algumas demandas, como os contratos de opção para o feijão, o programa de Aquisição do governo federal (AGF) e o Prêmio Equalizador Pago ao Produtor (Pepro)", afirmou Poerschke. "Os produtores de feijão preto também pedem medidas de cunho protecionista para momentos de importação demasiada do produto", acrescenta o analista de Safras & Mercado.
Poerschke aponta ainda como solução para a queda dos preços do feijão, uma redução de área plantada como ajuste na segunda safra do grão, cuja colheita está prevista para a segunda quinzena de março.
Veículo: DCI