Rede paulista não resistiu às exigências do consumidor gaúcho
Com quatro lojas inauguradas simultaneamente no Rio Grande do Sul em 19 de outubro de 2004, a Casas Bahia chegou a mais de 20 pontos de venda na Capital e Interior nos dois primeiros anos. Até sábado passado, restavam seis. Hoje, nenhuma. A tradicional rede fundada por Samuel Klein em 1952 em São Caetano do Sul (SP) deixou o Rio Grande do Sul sob o argumento de rusgas fiscais com o governo gaúcho.
O desembarque da rede do Estado já era esperado. Meses depois de começar a operar em solo gaúcho eram visíveis os sinais de fadiga da estratégia comercial da rede, tanto que, já no segundo ano, as primeiras unidades do Interior começavam a ser fechadas. Nos anos seguintes, outras foram desativadas, até que restassem as seis que no sábado encerraram as atividades.
A rejeição do consumidor gaúcho à estratégia e à política de comunicação da empresa foi o grande empecilho para a consolidação da marca no Estado. Reportagem publicada pelo Jornal do Comércio em 3 de fevereiro deste ano praticamente antecipava o fim da operação gaúcha (reprodução abaixo). O próprio Michael Klein, então diretor da Casas Bahia, admitia na época que o desempenho ruim das vendas no Estado estava associado a um perfil de comportamento dos gaúchos.
Hoje, a Casas Bahia não pertence mais ao clã dos Klein. No dia 4 de dezembro deste ano, o Grupo Pão de Açúcar comprou a rede. Antes, o megagrupo presidido por Abílio Diniz arrematou o Ponto Frio, que tende a ocupar no Estado os espaços da Casas Bahia. O presidente do Sindilojas, Ronaldo Sielichow, concorda. "O fechamento das lojas pode fazer parte de um planejamento estratégico do grupo Pão de Açúcar que, então, ocuparia as lojas com a bandeira Ponto Frio. São apenas especulações, não tivemos acesso a dados, mas é uma possibilidade."
Oficialmente, em nota distribuída pela assessoria de imprensa, a rede culpa o governo de Estado pela decisão. Segundo a nota, a rede fechou as últimas seis lojas gaúchas - de um total de 27 abertas em 2004 - devido à lavratura pela Secretaria Estadual da Fazenda (Sefaz) de 45 autos de infração com valor de cerca de R$ 52 milhões. A empresa informa que impugnou todos, sendo que dois deles já foram derrubados e somam a quantia de R$ 1,8 milhão. "A atuação da fiscalização do Estado foi arbitrária, constituindo créditos sabidamente indevidos. A rede lamenta ter que tomar tal medida, uma vez que foram exauridas todas as alternativas para se manter no Rio Grande do Sul", afirmou a empresa na nota.
Também por meio de nota oficial, a Sefaz esclareceu que os autos citados referem-se a dois processos distintos, um relativo à diferença de procedimentos das Casas Bahia no uso de cartões de crédito para pagamentos de mercadorias, com incorreções que já estão sendo sanadas administrativamente pelo órgão. O outro diz respeito aos itens que compõem a base para o cálculo do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), com uma divergência que persiste entre a secretaria e a empresa e que, por isso, deve ser resolvida no âmbito judiciário.
Em todo o Rio Grande do Sul, restavam apenas 250 funcionários trabalhando nas seis unidades remanescentes.
Veículo: Jornal do Comércio - RS