O eleito de Abilio

Leia em 14min 10s

O que levou Enéas Pestana a ser escolhido para suceder Claudio Galeazzi no comando da maior rede varejista do país.

 


Uma recente temporada de duas semanas de férias na Austrália com a mulher e os três filhos ajudou o executivo Enéas Pestana a deixar para trás dois problemas. O primeiro deles era o cansaço, resultado de um ano intenso de negociações. Como vice-presidente administrativo e financeiro do Pão de Açúcar, ele se envolveu pessoalmente nas aquisições do Ponto Frio, em junho de 2009, e da Casas Bahia, em dezembro - movimentos que fizeram o faturamento do grupo praticamente dobrar de 22 bilhões para 40 bilhões de reais por ano. O outro foi se livrar de um vício antigo que incomodava não apenas o próprio Pestana como também seu chefe, Abilio Diniz, conhecido pelo cuidado obsessivo com a saúde: o cigarro. “Nunca fumei na frente de meus filhos. Agora decidi deixar o hábito de vez”, diz. (Não foi a única influência de Abilio nesse sentido. Desde que entrou no grupo, em 2003, Pestana perdeu 15 quilos se exercitando três vezes por semana.) De volta ao trabalho no dia 11 de janeiro, com um motivo a menos para desagradar o chefe, ele inicia uma nova fase de sua carreira, ocupando o inédito cargo de vice-presidente executivo de operações do Pão de Açúcar. Na prática, trata-se de um período de adaptação para substituir Claudio Galeazzi na presidência a partir de 2011. “Vai ser uma transição intensiva. Estou preparado para enforcar até os domingos”, diz.

 

Aos 46 anos de idade, Pestana é o quarto executivo escolhido para ocupar a posição que pertenceu até 2003 a Abilio Diniz, hoje presidente do conselho de administração. Os dois primeiros - o prata da casa Augusto Cruz e o forasteiro Cássio Casseb - saíram de maneira abrupta. A exceção foi o consultor Galeazzi, que chegou no fim de 2007 com mandato temporário para reorganizar os negócios e encontrar um sucessor dentro do grupo. A nomeação de Pestana encerra o final desse processo, que se tornou a mais cuidadosa seleção da história do Pão de Açúcar. “Depois de experiências interrompidas, percebi que era preciso um processo ainda mais organizado”, disse Abilio Diniz em entrevista exclusiva a EXAME sobre a sucessão.

 

A ESCOLHA DE PESTANA, anunciada no dia 14 de dezembro, traz uma certa sensação de déjà-vu. Assim como ele, Augusto Cruz também trabalhou quase uma década como executivo financeiro antes de assumir a presidência. Também como Cruz, ele é considerado reservado e discreto. A experiência com Cruz durou pouco mais de dois anos (hoje ele é consultor da MCF, especializada no mercado de luxo). Casseb, outro executivo da área financeira, com passagem pelo comando do Banco do Brasil e da Credicard, saiu antes de completar o segundo ano (agora é o consultor sênior do Morgan Stanley do Brasil). Para evitar repetir o enredo, Abilio afirma ter se dedicado mais a conhecer Pestana do que a qualquer outro potencial sucessor. “O problema dos anteriores é que eles tinham uma cabeça estritamente financeira”, diz. “Com o Enéas, estimulamos o raciocínio estratégico há meses.”

 

Ao longo de dois anos, os principais executivos do grupo foram observados de perto com a ajuda de psicólogos e especialistas que analisaram o perfil de cada um deles. (Numa das etapas, Pestana teve de montar um cenário com objetos como clipes e um ferro de passar roupas, um exercício que teoricamente mostraria suas habilidades criativas e lógicas.) Na fase final do processo, Abilio - um fervoroso defensor da terapia - incluiu uma inusitada visita ao analista pessoal de Pestana. Outras conversas estão previstas para este ano. “É o meu jeito de me aproximar dele”, diz Abilio. A preferência de Abilio e Galeazzi tornou-se evidente em meados de 2009, quando Pestana passou a comandar as reuniões da diretoria executiva, realizadas nas manhãs das terças-feiras. Na mesma época, começou a busca por um novo vice-presidente financeiro, que deve ser concluída até fevereiro.

 


Desde o início do processo, Pestana surgiu como um dos favoritos ao lado de José Roberto Tambasco, vice-presidente comercial e de operações, com 30 anos de casa, e Hugo Bethlem, vice-presidente de suprimentos e tecnologia, há uma década no Pão de Açúcar. Tambasco e Bethlem tinham a seu favor décadas de experiência no varejo de alimentos. Pestana, porém, levou vantagem em pelo menos dois aspectos. Ao lado de Galeazzi, ele foi um dos principais responsáveis pela recente eficiência operacional alcançada pelo grupo. A reestruturação cortou custos, mudou o mix de produtos e reduziu o quadro de funcionários - no auge das mudanças, em 2008, 20 diretores e outros 300 empregados foram demitidos. O impacto apareceu nos meses seguintes. Entre janeiro e setembro de 2009, o lucro cresceu 162% em relação ao mesmo período em 2008. Nas recentes aquisições, Pestana ganhou peso definitivo. Quando a negociação com a Casas Bahia vazou para o mercado, na tarde do dia 3 de dezembro, foi ele quem decidiu telefonar para Abilio, que estava num voo rumo à Europa, para recomendar o fechamento imediato do contrato. “O Enéas era o candidato com o perfil mais parecido ao de Galeazzi, que pôs a casa em ordem. Sua escolha era natural”, diz um executivo próximo ao grupo.

 

A lógica da criação do cargo temporário de vice-presidente executivo de operações é tirá-lo do universo financeiro. Nesse período, Pestana ficará responsável por todas as áreas - exceto a financeira, que se reportará a Galeazzi até a transição final em 2011. “É para forçá-lo a cortar o cordão”, diz Galeazzi. O cordão, aliás, é um bocado antigo. Formado em ciências contábeis, Pestana é filho e neto de contadores. Até agora, passou toda sua carreira debruçado sobre planilhas e relatórios. Antes de ingressar no Pão de Açúcar foi executivo de finanças da rede de laboratório de análises clínicas Diagnósticos da América, do Playcenter e do Carrefour. Para romper a tradição, nos próximos três meses, programou visitas a 85 unidades de todas as sete bandeiras do grupo. O objetivo é se aproximar dos gerentes de lojas e checar desde a decoração das unidades até a organização das prateleiras. Além disso, Pestana vai dedicar pelo menos dois dias por semana a discutir temas estratégicos em reuniões com Galeazzi e Abilio.

 

Uma das questões mais prementes que o eleito de Abilio vai enfrentar é a integração da Casas Bahia. Com a ajuda de 30 funcionários, ele trabalha na identificação de sinergias com a rede da família Klein. “As aquisições exigiram um esforço de integração que deve se arrastar até 2011”, diz Juliana Campos, analista de varejo da corretora Ativa. A partir de agora, para continuar a crescer, a prioridade serão negócios e regiões em que o Pão de Açúcar não é líder - eles devem consumir boa parte do investimento de 5 bilhões de reais previsto até 2012. Uma das oportunidades está na internet. Os sites do grupo, reunidos na empresa Nova.com, têm 22% de participação no comércio eletrônico - menos da metade da líder B2W. Outra frente é a Região Nordeste, onde o Pão de Açúcar enfrenta a concorrência acirrada da americana Walmart. A tudo isso, some-se o desafio de firmar seu espaço perante Abilio Diniz, que aos 72 anos de idade dá expediente a poucos passos da cadeira do futuro presidente. “Certeza de que vai dar certo eu não tenho”, diz Abilio. “Mas estou convicto de que estou fazendo as coisas do jeito certo.”

 


Desde o início do processo, Pestana surgiu como um dos favoritos ao lado de José Roberto Tambasco, vice-presidente comercial e de operações, com 30 anos de casa, e Hugo Bethlem, vice-presidente de suprimentos e tecnologia, há uma década no Pão de Açúcar. Tambasco e Bethlem tinham a seu favor décadas de experiência no varejo de alimentos. Pestana, porém, levou vantagem em pelo menos dois aspectos. Ao lado de Galeazzi, ele foi um dos principais responsáveis pela recente eficiência operacional alcançada pelo grupo. A reestruturação cortou custos, mudou o mix de produtos e reduziu o quadro de funcionários - no auge das mudanças, em 2008, 20 diretores e outros 300 empregados foram demitidos. O impacto apareceu nos meses seguintes. Entre janeiro e setembro de 2009, o lucro cresceu 162% em relação ao mesmo período em 2008. Nas recentes aquisições, Pestana ganhou peso definitivo. Quando a negociação com a Casas Bahia vazou para o mercado, na tarde do dia 3 de dezembro, foi ele quem decidiu telefonar para Abilio, que estava num voo rumo à Europa, para recomendar o fechamento imediato do contrato. “O Enéas era o candidato com o perfil mais parecido ao de Galeazzi, que pôs a casa em ordem. Sua escolha era natural”, diz um executivo próximo ao grupo.

 

A lógica da criação do cargo temporário de vice-presidente executivo de operações é tirá-lo do universo financeiro. Nesse período, Pestana ficará responsável por todas as áreas - exceto a financeira, que se reportará a Galeazzi até a transição final em 2011. “É para forçá-lo a cortar o cordão”, diz Galeazzi. O cordão, aliás, é um bocado antigo. Formado em ciências contábeis, Pestana é filho e neto de contadores. Até agora, passou toda sua carreira debruçado sobre planilhas e relatórios. Antes de ingressar no Pão de Açúcar foi executivo de finanças da rede de laboratório de análises clínicas Diagnósticos da América, do Playcenter e do Carrefour. Para romper a tradição, nos próximos três meses, programou visitas a 85 unidades de todas as sete bandeiras do grupo. O objetivo é se aproximar dos gerentes de lojas e checar desde a decoração das unidades até a organização das prateleiras. Além disso, Pestana vai dedicar pelo menos dois dias por semana a discutir temas estratégicos em reuniões com Galeazzi e Abilio.

 

Uma das questões mais prementes que o eleito de Abilio vai enfrentar é a integração da Casas Bahia. Com a ajuda de 30 funcionários, ele trabalha na identificação de sinergias com a rede da família Klein. “As aquisições exigiram um esforço de integração que deve se arrastar até 2011”, diz Juliana Campos, analista de varejo da corretora Ativa. A partir de agora, para continuar a crescer, a prioridade serão negócios e regiões em que o Pão de Açúcar não é líder - eles devem consumir boa parte do investimento de 5 bilhões de reais previsto até 2012. Uma das oportunidades está na internet. Os sites do grupo, reunidos na empresa Nova.com, têm 22% de participação no comércio eletrônico - menos da metade da líder B2W. Outra frente é a Região Nordeste, onde o Pão de Açúcar enfrenta a concorrência acirrada da americana Walmart. A tudo isso, some-se o desafio de firmar seu espaço perante Abilio Diniz, que aos 72 anos de idade dá expediente a poucos passos da cadeira do futuro presidente. “Certeza de que vai dar certo eu não tenho”, diz Abilio. “Mas estou convicto de que estou fazendo as coisas do jeito certo.”

 

Desde o início do processo, Pestana surgiu como um dos favoritos ao lado de José Roberto Tambasco, vice-presidente comercial e de operações, com 30 anos de casa, e Hugo Bethlem, vice-presidente de suprimentos e tecnologia, há uma década no Pão de Açúcar. Tambasco e Bethlem tinham a seu favor décadas de experiência no varejo de alimentos. Pestana, porém, levou vantagem em pelo menos dois aspectos. Ao lado de Galeazzi, ele foi um dos principais responsáveis pela recente eficiência operacional alcançada pelo grupo. A reestruturação cortou custos, mudou o mix de produtos e reduziu o quadro de funcionários - no auge das mudanças, em 2008, 20 diretores e outros 300 empregados foram demitidos. O impacto apareceu nos meses seguintes. Entre janeiro e setembro de 2009, o lucro cresceu 162% em relação ao mesmo período em 2008. Nas recentes aquisições, Pestana ganhou peso definitivo. Quando a negociação com a Casas Bahia vazou para o mercado, na tarde do dia 3 de dezembro, foi ele quem decidiu telefonar para Abilio, que estava num voo rumo à Europa, para recomendar o fechamento imediato do contrato. “O Enéas era o candidato com o perfil mais parecido ao de Galeazzi, que pôs a casa em ordem. Sua escolha era natural”, diz um executivo próximo ao grupo.

 

A lógica da criação do cargo temporário de vice-presidente executivo de operações é tirá-lo do universo financeiro. Nesse período, Pestana ficará responsável por todas as áreas - exceto a financeira, que se reportará a Galeazzi até a transição final em 2011. “É para forçá-lo a cortar o cordão”, diz Galeazzi. O cordão, aliás, é um bocado antigo. Formado em ciências contábeis, Pestana é filho e neto de contadores. Até agora, passou toda sua carreira debruçado sobre planilhas e relatórios. Antes de ingressar no Pão de Açúcar foi executivo de finanças da rede de laboratório de análises clínicas Diagnósticos da América, do Playcenter e do Carrefour. Para romper a tradição, nos próximos três meses, programou visitas a 85 unidades de todas as sete bandeiras do grupo. O objetivo é se aproximar dos gerentes de lojas e checar desde a decoração das unidades até a organização das prateleiras. Além disso, Pestana vai dedicar pelo menos dois dias por semana a discutir temas estratégicos em reuniões com Galeazzi e Abilio.

 

Uma das questões mais prementes que o eleito de Abilio vai enfrentar é a integração da Casas Bahia. Com a ajuda de 30 funcionários, ele trabalha na identificação de sinergias com a rede da família Klein. “As aquisições exigiram um esforço de integração que deve se arrastar até 2011”, diz Juliana Campos, analista de varejo da corretora Ativa. A partir de agora, para continuar a crescer, a prioridade serão negócios e regiões em que o Pão de Açúcar não é líder - eles devem consumir boa parte do investimento de 5 bilhões de reais previsto até 2012. Uma das oportunidades está na internet. Os sites do grupo, reunidos na empresa Nova.com, têm 22% de participação no comércio eletrônico - menos da metade da líder B2W. Outra frente é a Região Nordeste, onde o Pão de Açúcar enfrenta a concorrência acirrada da americana Walmart. A tudo isso, some-se o desafio de firmar seu espaço perante Abilio Diniz, que aos 72 anos de idade dá expediente a poucos passos da cadeira do futuro presidente. “Certeza de que vai dar certo eu não tenho”, diz Abilio. “Mas estou convicto de que estou fazendo as coisas do jeito certo.”

 


O novo homem forte do Pão de Açúcar

 

Quem é o executivo escolhido para ser o presidente da empresa a partir de 2011 e quais os principais desafios que ele vai encontrar à frente do maior varejista do país, com faturamento superior a 40 bilhões de reais por ano

 

NOME - Enéas César Pestana Neto

IDADE - 46 anos

FORMAÇÃO - Graduação em ciências contábeis pela PUC de São Paulo

FUNÇÃO ATUAL - Vice-presidente executivo de operações do grupo Pão de Açúcar desde dezembro de 2009

EXPERIÊNCIA - Entre 2003 e 2009 ocupou a vice-presidência administrativa e financeira do Pão de Açúcar. Antes de ingressar no grupo, passou pela área financeira do Carrefour, Playcenter e Dasa.

Integrar as operações da Casas Bahia,
Uma equipe de 30 funcionários está mapeando sinergias com a rede da família Klein, em áreas como tecnologia, logística e compras. A ideia é estar com um plano de integração pronto, à espera do aval do Cade.

Ampliar as vendas pela internet
Segundo maior varejista pela internet do país, com participação de 22% no mercado, o Pão de Açúcar vai reunir todos os sites de eletroeletrônicos na Nova.com, e estuda a abertura de capital da empresa.

Ganhar espaço no Nordeste
Apenas 135 das 1 800 lojas do grupo estão na região que mais cresce do país. As bandeiras mais promissoras para aumentar a participação nos próximos anos são Casas Bahia e Assai, focados nas classes C e D.

Fazer crescer novos negócios
O grupo tem 78 postos de gasolina e 147 farmácias, e está estudando possíveis aquisições nesses setores. Outro foco são investimentos em imóveis, a cargo da GPA Malls & Properties.

 

 

Veículo: Revista Exame


Veja também

Bertin negocia sua divisão de beleza

O grupo Bertin, que recentemente fundiu sua operação de carnes com o JBS-Friboi, negocia agora a venda de ...

Veja mais
O império das marcas

Com investimentos de 5 bilhões de reais e uma gestão tipicamente brasileira, o empresário Joã...

Veja mais
Preços de verduras e legumes seguem em alta

As chuvas intensas que atingem o Estado devem continuar puxando os preços de verduras e legumes - mais suscet&iac...

Veja mais
Rede Walmart se antecipou à lei

Parecia uma resposta ensaiada. Questionadas sobre a intenção de tirar seis meses de licença-materni...

Veja mais
Vendas da Barbie dão novo impulso à Mattel

As vendas da boneca Barbie impulsionaram os resultados da Mattel, que registrou lucro de US$ 328,4 milhões no qua...

Veja mais
Fabricante catarinense estima nova queda nas exportações este ano

As indústrias têxteis de Santa Catarina projetam para 2010 um resultado bastante tímido nas exporta&...

Veja mais
Philco planeja produção de TV em Manaus

Eletroeletrônicos: Fabricação de TV de tubo e LCD faz parte de estratégia que inclui publicid...

Veja mais
À espera da Kraft, Cadbury investe em chiclete de leite

"Há pelo menos cinco anos me perguntam quando a Cadbury vai lançar chocolate no Brasil", diz Oswaldo Nardi...

Veja mais
GP sai mas deixa sua marca na gestão da BR Malls

Varejo: Metas são exigidas dos 35 shoppings do grupo, que competem entre si em busca do melhor resultado   ...

Veja mais