Sem demanda, leite em pó encalha na indústria

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"Todas as indústrias estão com os estoques lotados". A afirmação é do consultor de mercado interno de leite da trading Alliance Commodities, Carlos Coelho. Sem citar nomes, ele diz que existe hoje empresa com 12 mil toneladas de leite em pó estocadas. Segundo Coelho, nenhuma das grandes do setor teria um estoque inferior a quatro dígitos. O produto que poderia ser embarcado rumo ao mercado internacional está estacionado em solo brasileiro por um simples motivo: a demanda de outrora já não é mais capaz de absorver o leite produzido.

 

O presidente do Sindicato das Indústrias de Laticínios e Produtos Derivados do Estado de São Paulo (Sindileite), Carlos Humberto Mendes de Carvalho, acredita que a produção brasileira deste ano aumentou em 12% em relação ao ano passado, enquanto o consumo não teria subido nem 2%. Há quem diga que a produção cresceu mais de 20% de um ano para o outro. No caso do leite em pó o excedente de produção extrapola essas estimativas, já que ainda de acordo com Carlos Humberto, a capacidade industrial do país foi ampliada para dois milhões de litros ao dia.

 

As fontes do setor consultadas explicam que nos últimos dez anos o aumento de consumo mundial sempre superou o aumento de produção, o que não aconteceu em 2008. "Houve um aumento de preços por conta da demanda. Nunca foi tão motivador produzir leite no Brasil, por causa disso hoje está sobrando leite no mercado interno", analisa Otávio Farias, consultor de mercado externo da Alliance Commodities.

 

Em 2007, o preço do leite atingiu índices históricos, os 27 bilhões de litros produzidos foram vendidos com uma valorização de 200% em relação ao ano anterior. Em 2008, as 33 bilhões de toneladas da bebida que devem ser produzidas por aqui estão cotadas lá em baixo. "Nós chegamos a pagar ao produtor brasileiro R$ 0,90, até R$ 1 pelo litro de leite. Hoje nenhum produtor recebe menos de R$ 0,60, e o custo da produção fica na faixa de R$ 0,70". A tonelada da bebida que já foi negociada a e US$ 4.800 mil, é barganhada hoje por pouco mais de US$ 3 mil.

 

Coelho não tem dúvida de que "a bolha das commmodities lácteas estorou". O auge experimentado pelo setor no final do ano passado impulsionou um aumento substancial da produção e culminou com os atuais e irrisórios preços. "Uma cadeia muito grande é afetada nessa fase de um movimento do mercado de leite , que é cíclico. A lactose por exemplo nunca esteve tão barata no mercado internacional. Nos Estados Unidos o quilo é vendido a US$ 0,11. A Europa está até cogitando produzir biocombustível a partir da lactose. Isso seria interessante pois os preços dos lácteos voltariam a ser decentes. Afinal é um absurdo um litro de leite custar mais barato que o litro de água", pontua o consultor.

 

Jorge Rudez, presidente da Associação de Produtores de Leite do Brasil (Leite Brasil), acreditaque se o mercado, e consequentemente a indústria, continuar pagando pouco pelo leite vai voltar a faltar bebida.. "O produtor não pode acumular um prejuízo por muito tempo. E quem sair da atividade nunca mais volta". Em Minas Gerais alguns produtores já cederam à pressão e abateram vacas leiteiras.
O Brasil, que até ano passado mal sabia o que era exportar leite, hoje exporta para mais de 100 países. O Sindileite estima que esse ano US$ 500 milhões devem ser embarcados. De acordo com números divulgados pela Secretaria do Comércio Exterior (Secex), em agosto, o faturamento com as exportações de lácteos chegou a US$34,0 milhões. Em relação ao mês anterior, houve uma retração nos valores. Cerca de 70% da receita com as exportações referem-se ao leite em pó.

 

Veículo: Gazeta Mercantil


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