É proibido fumar, mas Souza Cruz comemora melhor ano da história

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Em período marcado pela crise econômica e pelas restrições ao uso do tabaco, receita e lucro foram recordes.

 

Em um ano marcado pela crise econômica e por aumento de preços e das restrições ao consumo de cigarros, a Souza Cruz, maior empresa do setor de fumo do país, conseguiu fechar 2009 com o maior lucro da história - numa base de dados ajustada pela inflação -, somando R$ 1,48 bilhão, com aumento de 19% sobre o ano anterior.

 

A receita líquida de vendas cresceu 9,3%, passando de R$ 5,3 bilhões para R$ 5,79 bilhões.

 

O lucro antes dos juros, impostos, depreciações e amortizações (lajida) alcançou R$ 2,03 bilhões, atingindo pela primeira vez a casa dos R$ 2 bilhões.

 

Historicamente pagadora de dividendos elevados, a empresa informou que a forte geração de caixa permitirá que ela persista "com uma agressiva política de pagamento de dividendos".

 

No entanto, o lucro do quarto trimestre, de R$ 250,1 milhões, foi 37% menor do que o do mesmo período de 2008 - R$ 400,3 bilhões.

 

Dante Letti, presidente da Souza Cruz, atribuiu os bons resultados do ano a uma combinação do aumento de 23% nos preços a partir de abril com um forte trabalho de aperfeiçoamento do portfólio de marcas, maior capilaridade da distribuição e crescimento das vendas no Norte e Nordeste, regiões que tiveram crescimento econômico acima da média nacional.

 

Os bons números financeiros da empresa foram obtidos apesar de uma queda 7,4% nas vendas de cigarros, que somaram 72,8 bilhões de unidades (78,6 bilhões em 2008), o pior resultado pelo menos dos últimos cinco anos. Em 2005 a empresa havia vendido 75,9 bilhões de cigarros. Letti disse que o aumento das restrições ao uso do fumo "é provável que tenha contribuído" para a queda do volume de vendas, mas acrescentou que esse aspecto "deve ter sido o menor de impacto". Segundo ele, "historicamente", é a pressão dos preços, especialmente em períodos de redução da atividade econômica, o maior fator para a redução do consumo. A Souza Cruz praticamente manteve em 2009 sua fatia do mercado, com 62% do total (62,1% em 2008).

 

O aumento dos cigarros no segundo trimestre do ano passado ocorreu em resposta a um aumento da carga tributária imposta pelo governo federal sobre o produto como forma de compensar a redução de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para algumas linhas de bens de consumo duráveis, como automóveis e eletrodomésticos.

 

As medidas tiveram o objetivo de estimular o consumo como forma de compensar a redução da atividade econômica provocada pela crise internacional desencadeada em setembro de 2008. De acordo com Letti, o maior impacto do aumento dos preços ocorreu no segundo e no terceiro trimestre do ano passado.

 

No quarto trimestre, apesar da lucratividade menor, o presidente da Souza Cruz disse ter sidi constatado um aumento das vendas no montante de 1,5 bilhão de cigarros em relação ao trimestre anterior, embora admita que uma parte dela deve-se a fatores sazonais, como férias e festas de final de ano.

 

Letti disse também que no quarto trimestre houve uma forte redução do embarque de fumo para exportação, decorrente de ordens dos clientes para que os estoques fossem mantidos no Brasil, segundo ele, "por fatores econômicos locais" de cada cliente. O executivo afirmou que o comportamento não é pouco usual e ocorre muitas vezes por motivos relacionados com as linhas de transporte marítimo.

 

O fato é que as exportações de fumo da subsidiária brasileira da British American Tobacco (BAT) caíram 11,3% em 2009, passando de 127,8 milhões para 113,4 milhões de toneladas. Ainda assim, a melhoria dos preços em dólares e mais a desvalorização do real no período permitiram um aumento de 10% na receita das exportações que, em moeda nacional, alcançaram R$ 1,46 bilhão (R$ 1,28 bilhão em 2008).

 

Letti disse que a redução dos embarques no final do ano ainda não pode ser considerada como uma tendência. Uma avaliação mais precisa, segundo ele, só poderá ser feita por volta de maio, quando terminam as negociações de volumes e preços com os clientes. Ele admite que as exportações podem vir a sofre impacto negativo por conta de quebra de safra provocada pelo excesso de chuvas no período da colheita.

 

O presidente da Souza Cruz mostrou otimismo para o ano de 2010. Segundo ele, caso se confirmem as previsões de crescimento de 4% a 5% da economia, somada à assimilação dos preços mais elevados por parte dos consumidores, "2010 deve ser um ano muito bom".

 

Como a empresa concluiu seus investimentos na ampliação do parque fabril para os próximos anos, concluindo o parque gráfico de Cachoeirinha (RS), os investimentos em maquinário dos próximos anos deverão ser alinhados com as amortizações (cerca de R$ 150 milhões), permitindo maior geração de caixa.

 

O temor do executivo é quanto ao risco de recrudescimento do contrabando e da produção doméstica ilegal, seja pelo preço mais elevado do produto nacional, seja por causa do novo programa de renegociação de dívidas com o governo federal (Refis) que, no seu entender, pode levar muitas empresas a montar uma pequena fachada de legalidade para vender a maior parte da produção sem pagar os impostos.

 

Veículo: Valor Econômico


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