A volta por cima do setor têxtil

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Depois de uma das mais longas crises de sua história, indústria de roupa e tecido prevê ano de crescimento



Máquinas a pleno vapor, investimentos que em 2010 deverão Depois de uma das mais longas crises de sua história, indústria de roupa e tecido prevê ano de crescimento recuperar o nível de R$ 1,5 bilhão do período pré-turbulência global, descoberta de novos nichos de mercado, aposta na produtividade, foco no mercado interno. É assim que a indústria têxtil e de confecções no Brasil tenta deixar para trás a mais longa crise de sua história, iniciada com a valorização do real frente ao dólar, que derrubou as exportações do setor e foi agravada pelo avanço das importações e pelo contrabando de tecidos e roupas da China. A retomada deverá garantir um crescimento de 4% ao segmento em 2010, elevando o faturamento para R$ 50 bilhões. Isso equivale a 32% do Produto Interno Bruto (PIB) de um país como o Chile. Não é pouca coisa.



Em janeiro, de acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), a indústria de transformação no Brasil gerou 68.920 vagas, 12% das quais – ou 8.156 – no setor têxtil e de confecção, um recorde. Os planos de investimento para 2010 se multiplicam, outros já foram levados a cabo no ano passado, e já há dificuldade de conseguir mão de obra especializada. A reação conta com um empurrão do Banco Nacional de Desenvolvimento Eeconômico e Social (BNDES), que desde julho de 2009 até meados deste ano está oferecendo linhas de crédito subsidiadas para incentivar a aquisição de máquinas e equipamentos pelas empresas.



Entre julho do ano passado e janeiro de 2010, foram aprovados R$ 425,4 milhões em financiamento nessa linha, fruto de 493 operações. Desse universo, R$ 82 milhões já foram liberados. Isso sem contar que as empresas do setor receberam R$ 195,5 milhões via cartão BNDES. É uma realidade quase cor-de-rosa para um segmento que teve sua taxa de investimento encolhida de R$ 1,5 bilhão em 2008 para R$ 900 milhões no ano seguinte. A Franco Matos, fabricante de malhas que tem unidades em Minas, São Paulo e Ceará, acaba de tomar R$ 5 milhões ao BNDES para comprar máquinas e equipamentos, aproveitando a linha Finame/PSI, com juros subsidiados.



Segundo o diretor-financeiro da empresa, Fernando Filho, a meta é contratar 500 empregados em Minas e em São Paulo. Mas o investimento de peso mesmo foi o do ano passado: a aquisição das operações de malharia da concorrente Vicunha por R$ 50 milhões. “Vejo no horizonte que 2010 pode ser um ano que tem tudo para ser muito bom. Estamos consolidando os investimentos de 2009 e centralizando as plantas. A Copa da Mundo já movimenta o setor de malhas. Além disso, 2010 é um ano de eleições, o que acaba tendo reflexo no setor têxtil”, analisa.



“Em geral, o início do ano é um período ruim para uniformes. Mas este ano, atipicamente, as vendas começaram muito boas. Com a previsão de crescimento de 6% do PIB, esse movimento vai aumentar até o fim do ano”, comemora o diretor-superintendente da Citerol, fabricante de uniformes, Renné Wakil Jr. De acordo com ele, o faturamento de janeiro foi 15% maior do que o do mesmo período do ano passado. “Deveremos fechar 2010 com um crescimento de 15% nas vendas”, avisa. Na Citerol, as máquinas estão trabalhando a quase 100% da capacidade.



Alvo é o mercado interno



Se o BNDES deu o empurrão necessário para que as empresas do setor têxtil e de confecções voltassem a investir, o mercado interno é o instrumento que dará guarida aos novos planos das empresas do segmento. Para alguns empresários, o problema já é administrar a fartura de encomendas. É o que vem acontecendo na mineira Marcel Philippe. “Em janeiro, as compras foram bem melhores do que no ano passado. O problema é que não estamos conseguindo acompanhar a demanda”, diz o proprietário da empresa, Michel Aburachid, que vai investir entre R$ 1 milhão e R$ 1,5 milhão em 2010. “Precisamos de capital de giro. Equipamento a gente tem. Quando a demanda aumenta, temos que comprar mais matéria-prima”, explica.



O presidente da Companhia de Fiação e Tecidos Cedro Cachoeira e da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção, Aguinaldo Diniz Filho, afirma que o mercado interno é o foco das empresas do ramo em 2010, já que em matéria de exportação os produtos têxteis estão em queda. Na opinião dele, a perda da capacidade de exportação é preocupante, uma vez que o déficit na balança comercial do setor é de US$ 2,5 bilhões. “A grande força da retomada da indústria de transformação brasileira está no mercado interno. No atual patamar, o dólar não consegue remunerar a exportação de 98% da indústria de transformação”, sustenta.



Flávio Roscoe, presidente do Sindimalhas e da malharia Colortêxtil, explica que a ampliação dos investimentos no setor é uma questão de sobrevivência para as empresas. A diferença é que, desta vez, na maior parte dos casos, elas estão investindo para aumentar a sua competitividade, mais do que em expandir a produção. Outra aposta, segundo ele, é em nichos de mercado. “Como estratégia, muitas empresas estão buscando oportunidades em mercados alternativos na tentativa de fugir das commodities”, diz. Empresas de malha desenvolvem linhas para sofás e móveis e tecidos de aplicações específicas – e, assim, conquistam os clientes., fechando as portas para os produtos importados. Na Colortêxtil, 76% da produção já é customizada para o cliente. “Iniciamos esse processo há cinco anos e vem dando certo”, frisa Roscoe. 



Veículo: O Estado de Minas


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