Uma batata desenvolvida na Alemanha tornou-se ontem o primeiro organismo geneticamente modificado em 12 anos a receber aprovação para cultivo na União Europeia, provocando comemorações entre os produtores de transgênicos e indignação entre oponentes. A batata "Amflora" foi desenvolvida pela alemã Basf, para fornecer amido de alta qualidade para uso na indústria, como na produção de papel e de têxteis, e é improvável que vá parar nos pratos dos consumidores.
Defensores e oponentes disseram que a decisão da Comissão Europeia, depois de 13 anos de rixas burocráticas, científicas e jurídicas, marcou o início de uma postura mais acolhedora em Bruxelas em relação aos produtos polêmicos. "Nós esperamos que essa decisão represente um marco para mais produtos inovadores que promovam uma agricultura competitiva e sustentável na Europa", disse Stefan Marcinowski, membro do conselho de diretores executivos da Basf. A empresa planeja começar o cultivo do Amflora neste ano em 250 hectares na República Checa, Suécia e Alemanha.
Marco Contiero, um analista de políticas públicas do Greenpeace, disse: "A UE abriu a porta para os transgênicos".
Apesar de os produtos transgênicos terem sido adotados pelos EUA, Canadá, Brasil e outras potências agrícolas, os europeus continuaram desconfiados, em meio a temores de que eles poderiam representar riscos à saúde e ao ambiente.
Antes do Amflora, só um outro transgênico havia sido aprovado para cultivo na UE - o milho MON810 da Monsanto, em 1998 - apesar de repetidos resultados da Agência de Segurança Alimentar Europeia terem constatado que esses produtos não representavam riscos à saúde. Os produtos transgênicos estão disponíveis na Europa por meio de alimentos importados e ração animal. A comissão aprovou ontem três tipos adicionais de milho transgênico da Monsanto para importação e processamento.
Os produtores dizem que a resistência aos transgênicos ameaça a competitividade dos agricultores europeus e a segurança alimentar de longo prazo da UE.
José Manuel Barroso, o presidente da Comissão Europeia, havia se comprometido a adotar uma atitude mais respaldada na ciência, transferindo a pasta da diretoria de Ambiente - adversária dos transgênicos - ao departamento que fiscaliza assuntos sanitários e de consumo.
John Dalli, o novo comissário para Saúde, disse que "todos os temas científicos" foram "plenamente contemplados". Mas a decisão gerou uma reação furiosa da Itália, onde Luca Zaia, o ministro da Agricultura, ameaçou arregimentar os Estados-membros contra a medida.
Veículo: Valor Econômico