Grupo Pão de Açúcar volta a dirigir atenção para o varejo de alimentos

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Há dois anos sob a gestão do consultor Claudio Galeazzi, o grupo Pão de Açúcar anunciou lucro líquido recorde de R$ 591,6 milhões em 2009, 127,2% maior que o obtido em 2008. O pagamento de dividendos será, igualmente, o maior da história da varejista, que vai distribuir aos acionistas o total de R$ 140,5 milhões. A administração de Galeazzi reconquistou a confiança dos analistas na empresa, que havia decepcionado os investidores entre 2006 e 2007.


"O resultado [no quarto trimestre de 2009] veio acima das nossas estimativas e do consenso de mercado", afirmou a Ativa Corretorasobre o balanço do Pão de Açúcar. O analista Marcel Moraes, do banco Credit Suisse, também divulgou ontem, em seu relatório, que o desempenho da varejista (excluindo Ponto Frio e Casas Bahia) ficou "bem acima" das expectativas.


Mas, justamente no momento em que o Pão de Açúcar exibe a sua melhor forma, o grupo terá de suar novamente a camisa para melhorar o desempenho operacional de suas recentes aquisições: o Ponto Frio, comprado em junho, e a Casas Bahia, cujo controle acionário foi adquirido em dezembro.


Em teleconferência com jornalistas, o vice-presidente de operações do grupo Pão de Açúcar, Enéas Pestana, afirmou que as metas para 2010 e o diagnóstico mais detalhado sobre a fusão do Ponto Frio com Casas Bahia só serão divulgados no fim de março, durante encontro anual com analistas. Pestana não quis revelar as margens da Casa Bahia, que nunca publicou balanços auditados.


A aquisição das duas maiores redes de eletroeletrônicos do país fez com que o Pão de Açúcar deixasse de ser uma varejista predominantemente de alimentos. Pestana declarou, contudo, que o grupo vai dirigir novamente o seu foco para a expansão no segmento alimentar (supermercados e hipermercados) nos próximos dois anos - a companhia já havia anunciado um plano de investimento de R$ 5 bilhões entre 2010 e 2012. Além de abrir lojas do Extra, Extra Perto, Assai e Pão de Açúcar, a aquisição de redes de supermercados regionais também é algo considerado pela empresa.


O varejo alimentar é um território menos acidentado para a companhia que o de bens duráveis. A partir do segundo semestre de 2009, as margens do Ponto Frio começaram a amarrar o desempenho do grupo. E, para que a sua recente aquisição não ofuscasse os vistosos resultados obtidos ao longo do ano, o Pão de Açúcar divulgou ontem o seu balanço do quarto trimestre de 2009 de duas formas: com e sem o Ponto Frio.


Sem a rede, os números seriam bem mais leves. A margem lajida (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) do grupo teria sido de 8,5% no quarto trimestre do ano, 0,8 ponto percentual maior que a obtida em igual período do ano passado. Em todo o ano de 2009, a margem lajida da varejista alcançaria 7,4%, ligeiramente superior aos 7,3% de 2008.


O Ponto Frio, todavia, empurrou a margem lajida para 6,6% no quarto trimestre e para 6,5% em todo o ano de 2009. O lajida do Ponto Frio ficou negativo em R$ 38,8 milhões no trimestre. O desempenho foi prejudicado por provisões e gastos com a reestruturação de R$ 56 milhões. Mas, mesmo sem essas despesas, a margem lajida do Ponto Frio seria de apenas 1,2%.


"Enxergamos muitas oportunidade para elevar as margens do Ponto Frio", disse Pestana, que avalia que a margens lajida da rede podem subir para algo entre 4% e 5%. A fusão com a Casas Bahia, diz o executivo, deve acelerar ainda mais a recuperação ao trazer "expertise" e ganhos de escala para o negócio. O Pão de Açúcar já conseguiu alguns ganhos significativos: as vendas brutas do Ponto Frio cresceram 8,1% em relação ao quarto trimestre de 2008, sendo que as vendas nas mesmas lojas aumentaram expressivos 21,7%.


A reestruturação do Ponto Frio e a união com a Casas Bahia darão trabalho, mas nem de longe vão ameaçar a saúde financeira do Pão de Açúcar. A estrutura de capital da companhia encontra-se ainda mais sólida, o que lhe dá fôlego para novas aquisições. A dívida líquida do grupo equivale a menos da metade (ou 0,44) de sua geração de caixa (lajida) - antes, essa relação era de um para um. Em 2009, o grupo recebeu R$ 600 milhões do Itaú pela quebra da cláusula de exclusividade que o banco havia firmado com a rede. A quebra ocorreu após a união com o Unibanco.


Segundo Pestana, o Pão de Açúcar também negocia parcerias com grandes construtoras para explorar o potencial de seus imóveis.


Veículo: Valor Econômico


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