Empresas elevam a capacidade e as vendas externas

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O cenário para o setor farmacêutico no Brasil tem sido extremamente favorável. O mercado cresce a uma taxa média anual de 12% ao ano - perde apenas para a China -, fatura em torno de R$ 30,2 bilhões e está incrementando as vendas externas, conquistando espaços na América Latina, Ásia, África, Oriente Médio e Europa. Os laboratórios investem na ampliação da capacidade produtiva, com abertura de novas plantas industriais, e avança o processo de consolidação do setor, com aquisições e fusões de empresas. Na definição de Antonio Brito, presidente da Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa (Interfarma), "o nosso potencial de crescimento nunca foi tão grande."


O sentimento no setor é que o Brasil reúne as condições necessárias para assumir papel de destaque no setor farmacêutico internacional. A ascensão econômica das camadas C e D da população e o crescimento das vendas dos genéricos, que custam 65% do preço do medicamento de referência, colaboram para o otimismo geral. Em unidades, os genéricos representam 19% do mercado brasileiro e tendem a ocupar fatia de 50% nos próximos anos, como já acontece em outros países, acredita Nelson Mussolini, vice-presidente executivo do Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos no Estado de São Paulo (Sinduscon), que reúne 120 laboratórios.


Para Brito, da Interfarma, entidade que reúne 31 laboratórios estrangeiros, o ritmo de crescimento do setor farmacêutico poderia sem bem maior se não fossem alguns fatores. Um deles é a baixa participação do governo nas compras do setor para garantir maior acesso da população aos medicamentos. Ao contrário do que acontece em outros países, os consumidores brasileiros bancam 70% dos remédios de que necessitam. O governo desembolsa não mais do que R$ 6,8 bilhões por ano, incluindo importações indiretas, o que representa pouco mais de 20% das vendas da indústria farmacêutica. "Na Espanha, apenas 27% dos remédios são comprados pelos cidadãos."


A falta de recursos financeiros não permite a incorporação de novos medicamentos na lista de compras do governo, diz Brito. Outro fator crítico é o controle de preços. Quase a totalidade dos medicamentos disponíveis no mercado tem seus preços controlados. O preço é livre para apenas uma pequena parcela dos remédios isentos de prescrição médica.


Os valores são definidos com base no menor preço praticado em uma relação de nove países pesquisados pela Agência Nacional de Vigilância Nacional (Anvisa). Além disso, o governo aplica um fator de depreciação denominado coeficiente de adequação de preço (CAP), cujo índice fixado para este ano é de 22,85%.


Na avaliação de Márcio Falci, diretor de PD&I da Biolab Farmacêutica, 95% dos medicamentos poderiam ter os preços liberados em função da quantidade de oferta e da competição. "O controle deveria ser mantido apenas para os medicamentos vendidos com prescrição médica."


O comércio de medicamentos falsificados ou contrabandeados incomoda, assim como o baixo investimento em pesquisa clínica. Segundo Brito, o Brasil absorve apenas US$ 139 milhões dos recursos destinados ao desenvolvimento de novas drogas, enquanto a média aplicada em nível mundial é de US$ 40 bilhões. "Há 29,3 mil pesquisas em andamento no mundo e apenas 461 no país", afirma.


Nada disso, porém, interfere no planejamento da indústria farmacêutica, que inclui investimento em novas unidades industriais e no lançamento de medicamentos no mercado interno. A Sanofi-Aventis, por exemplo, pretende colocar em operação até 2012 uma nova fábrica em Brasília, dedicada à fabricação de hormônio genérico. A iniciativa faz parte do investimento de US$ 100 milhões programado para expansão industrial.


No Brasil, a companhia conta com fábricas nas cidades de Sumaré, Campinas e Suzano que, juntas, produzem 450 milhões de unidades por ano. "Até o final do ano, seremos a maior planta industrial da Sanofi-Aventis fora da França, sede da matriz do grupo", informa Heraldo Marchezini, diretor-geral. O faturamento bruto gira em torno de R$ 4 bilhões e a estimativa é de crescer este ano acima do mercado, ou seja, pelo menos 20%.


Faz parte do grupo a Sanofi Pasteur, fabricante de vacinas fornecidas para o Instituto Butantã. Com a compra da Medley, a Sanovi-Aventis aumentou significativamente a sua presença no segmento de genéricos. A produção desse tipo de medicamentos se concentra na unidade de Sumaré. Este ano, a companhia pretende fazer o lançamento de novos medicamentos no mercado brasileiro. Alguns aguardam a definição de preços pela Anvisa, enquanto outros ainda dependem de registro.


A Sanofi-Aventis tem como estratégia comercializar medicamentos específicos para o mercado brasileiro. Para tanto, conta com um centro de desenvolvimento em Suzano e outro em Campinas, nos quais trabalham 100 funcionários. Em termos globais, a companhia destina 16% do faturamento bruto em pesquisa e desenvolvimento de novos medicamentos.


A Novartis, de origem Suíça, anunciou investimentos entre US$ 300 milhões e US$ 500 milhões, na instalação de uma fábrica de vacinas em Pernambuco, com início de operação previsto para 2014, que abastecerá não apenas o mercado interno, mas também a América Latina, segundo informa Alexander Triebnigg, presidente da companhia.


A Novartis tem uma planta química no Brasil, responsável por quatro das oito etapas necessárias para produção da matéria-prima utilizada nos medicamentos. A produção é destinada ao mercado europeu. "A empresa também importa matéria-prima e produtos acabados, incluindo operações de draw-back, para abastecimento local e da América Latina."


Veículo: Valor Econômico


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