Demanda leva TNT a comprar 500 caminhões

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Com projeção de o setor de logística crescer 15% este ano, caso o Produto Interno Bruto (PIB) venha a crescer 3% ante o ano passado, a TNT no Brasil é uma das subsidiárias de companhias globais do segmento que têm planos ousados, de abocanhar ainda mais mercado. Prova disso é que a empresa investiu pesado no País no ano passado, quando o mercado ainda convivia com um período de crise econômica global. Na ocasião, a empresa comprou quase 500 caminhões para se preparar para a retomada este ano, além de ter adquirido em 2009 a empresa Expresso Araçatuba.

 

Este ano, o presidente da companhia, Roberto Rodrigues, diz que a meta é fazer a integração dos negócios e fazer com que as empresas operem em uma única plataforma de sistemas e modelo de negócios. Acompanhe a entrevista do executivo aos jornalistas Roberto Müller, do programa "Panorama do Brasil", na companhia de Márcia Raposo, diretora de Redação do DCI, e de Milton Paes, da rádio Nova Brasil FM.

 

Roberto Müller: Levando em consideração que vocês são uma espécie de termômetro da economia, como foi o ano passado para a empresa no Brasil e no mundo, se é que houve diferença de desempenho, e qual é o prenúncio de desempenho para este ano?

 

Roberto Rodrigues: O ano de 2009 foi o ano em que a crise mundial chegou para valer a diversas partes do mundo e ao Brasil, e é claro que houve uma desaceleração forte da economia e do consumo. Nós, que transportamos cargas de um lado para outro, de fato sentimos de imediato essa estagnação da economia, com uma queda acentuada no começo do ano passado. Ao longo do ano, por volta de junho e julho, nós percebemos uma reação, o volume de carga começou a retomar, tanto no Brasil como no mundo, que sentiu o efeito da crise muito antes do que o Brasil, que se deparou com a crise apenas no começo de 2009. No Brasil felizmente a crise veio depois, e já no começo de junho e em julho percebemos uma certa retomada, uma recuperação da movimentação de carga de um lado para outro. É claro que, de um modo geral, o ano passado acabou sendo impactado por esse início de ano muito fraco e ruim. Mas chegamos ano fim do ano passado com uma perspectiva muito otimista em relação a 2010. Vislumbramos um ano bem mais positivo, com crescimento e recuperação da movimentação de carga. A história diz que o mercado de transporte de um modo geral cresce de 2 a 3 vezes o Produto Interno Bruto (PIB), então para nós essa é a referência. Logo, se o PIB crescer 5% a 6%, é de se imaginar que o mercado de carga automaticamente crescerá aproximadamente 15%, então essa é a nossa expectativa para 2010. Confirmando o crescimento da economia, temos esse otimismo: que no mínimo a TNT Brasil acompanhe o mercado.

 

Milton Paes: Eu gostaria que você nos desse uma noção da importância da TNT Brasil dentro dessa estrutura mundial. E eu estou perguntando isto porque vocês fizeram aquisições, e, obviamente, se as fizeram, é porque a matriz vê a TNT Brasil com chance de expansão e de crescimento, correto?

 

Roberto Rodrigues: De fato o Brasil é hoje um dos mercados-chave da empresa no mundo todo. A TNT ao longo dos últimos 4 anos, tem feito vários investimentos em diversos mercados emergentes, como China, Índia, alguns países do Leste Europeu, Chile, e obviamente o Brasil, que dentro da América Sul tem um papel de destaque. É claro que o Brasil é muito importante dentro desta estratégia, exatamente porque a TNT entende e reconhece o potencial que o mercado brasileiro tem. Hoje a economia do País tem princípios bem fundamentados, em um mercado com quase 200 milhões de pessoas, entre classes B, C e D em constante ascensão, o que obviamente deve ao longo dos anos acelerar o consumo, o crescimento de diversos setores da economia - e a TNT vê isso, sim, como um mercado altamente promissor. Mesmo diante de um cenário duvidoso, de crise, a TNT continuou seu plano estratégico de crescimento no Brasil e continuamos investindo em nossa estrutura, fizemos uma outra aquisição em maio do ano passado, exatamente por acreditar que a crise existe, sim, ela está aí, mas é uma crise que deve ser superada, e esperamos que isso seja revertido em 2010.

 

Márcia Raposo: De qualquer forma a crise foi uma oportunidade, certo? Barateou muito o preço dos artigos no Brasil no ano passado, e para quem tinha uma reserva de caixa boa, era hora de comprar. Acredito que vocês o fizeram em uma hora excelente. Tem mais coisas acontecendo, porque o setor de transporte no Brasil é extremamente pulverizado em determinados segmentos, e atualmente pode ser percebido que o índice de concentração é muito grande do ponto de vista dos clientes, como a rede supermercadista que hoje conta com menos players: será que o setor de logística irá acompanhar essa concentração, ou melhor, será que a TNT fará novas aquisições em um futuro próximo, ou a empresa já encerrou a etapa de compras?

 

Roberto Rodrigues: Irei responder esta pergunta em duas etapas. De fato nós vimos essa crise como uma oportunidade, tanto é que ano passado nós compramos quase 500 caminhões, exatamente, para usar esse momento de crise como uma oportunidade e se preparar para uma retomada, ou seja, a empresa hoje está mais preparada para uma alta no mercado que se iniciará em 2010. Em relação as nossas prioridades, nesse momento queremos fazer a integração entre as empresas que já foram adquiridas, nós já tínhamos uma operação da TNT voltada para o negócio internacional há muitos anos, em 2007 nós adquirimos a Expresso Mercúrio, e em 2009 nós adquirimos a empresa Expresso Araçatuba, então temos agora 3 empresas, e a nossa prioridade em 2010 é fazer a integração destes negócios , colocar essas empresas operando em uma única plataforma de sistemas, com um único modelo de negócios, com um único modelo operacional, possibilitando que a TNT tenha uma única cara para o mercado, e que tenhamos um único ponto de contato para o cliente, pois o cliente não quer falar com 3 vendedores, ou 3 empresas, ele quer apenas um ponto de contato, um apoio ou uma pessoa com que ele possa interagir. Então a prioridade no momento é pôr todos esses planos estratégicos que executamos nos últimos 4 anos dentro de um modelo unificado e construir de fato uma empresa única, onde nós possamos, de fato, ter uma cara única perante o mercado.

 

Márcia Raposo: No primeiro momento é um grande aporte de capital, mas logo depois você acaba retomando boa parte desse capital quando você coloca tudo em uma plataforma única, você já calculou esse volume de economia?

 

Roberto Rodrigues: Nós iniciamos no final do ano passado um projeto que durou algo em torno de 5 meses, com uma consultoria especializada nesse processo de integração e fusão de empresas, e nesse exercício em que concluímos, identificamos e mapeamos todas essas oportunidades de sinergia. Grande parte das sinergias, uma vez que compramos empresas que são complementares, não vende necessariamente sobreposição de pessoas.

 

Nós temos muitas oportunidades de sinergia em geração de negócios porque a Expresso Mercúrio era uma empresa que atuava no sul, sudeste e nordeste brasileiros, a Expresso Araçatuba atuava no centro-oeste e no norte, então não existe uma grande sobreposição física, ou de ativos: o que existe é uma complementaridade de atuação de negócios que irá permitir muito em breve explorar o mercado brasileiro como um todo. Eu vou poder ir a um cliente e dizer para ele: 'não importa para onde você irá enviar a sua entrega, eu tenho condições de entregar em qualquer lugar do Brasil, em todos os mais de 5.000 municípios brasileiros, através de uma única empresa, de um único caminhão que vai até sua empresa retirar a mercadoria, de um único sistema pelo qual você possa acompanhar aquela mercadoria, de uma única fatura'. Então a nossa oportunidade de sinergia tem muito mais da exploração de negócios do que necessariamente de sobreposição de ativos ou de recursos.

 

Milton Paes: Vocês hoje têm uma frota de quantos veículos? Dentro dessa estrutura, vocês ainda necessitam de terceirização, pois, na questão do transporte rodoviário, encontramos duas realidades: a primeira é o Estado de São Paulo, com qualidades de rodovias, entre outros benefícios; a segunda é o resto do Brasil, dentro dessa perspectiva, em locais a que o acesso rodoviário é dificultoso em razão dos problemas conhecidos por todos, vocês optam por uma terceirização da frota, ao invés de utilizar os carros próprios, e centralizar a frota da empresa em estradas com mais estrutura?

 

Roberto Rodrigues: Atualmente temos 2.500 veículos.

 

Quanto à terceirização, eu diria que pode haver uma combinação dos dois fatores, a decisão de contratar terceiros não é necessariamente definida pela situação da estrada, ou da atuação geográfica, ela é muito mais por uma questão da demanda, na medida que você tem grandes concentrações de demanda em determinados períodos do mês ou do ano, isso basicamente te obriga a recorrer ao uso de terceiros para complementar a estrutura em determinados momentos.

 

O negócio do transporte no Brasil tem uma sazonalidade gigantesca, até porque nós não fazemos nada a não ser transportar aquilo que nosso cliente produz e vende e o mercado de produtos para o varejo depende de datas: ele vive de Dia das Mães, Dia dos Namorados, Dia da Criança, Natal, então por causa destas datas comemorativas, acaba havendo uma grande concentração de movimentação de carga em determinados períodos. Embora a empresa tenha uma estrutura muito grande, com mais de 2.500 veículos, existem momentos de pico, para atender uma demanda de Natal, ou uma demanda de Dia das Mães, quando você não tem outra opção que não recorrer para uma terceirização, e essa decisão não é diretamente ligada ao tipo de estrada ou à área geográfica, ela é mais ligada à questão de necessidade adicional que você acaba precisando em determinados momentos do ano ou do mês.

 

Roberto Müller: Com relação a esse movimento que a economia brasileira viveu ano passado, quando aparentemente a crise econômica não foi tão forte, e por haver hoje um movimento de transferência de renda, e estímulos oficiais que ajudaram a ascensão de classes, que passaram a consumir mais e entraram naquilo que se chama de a nova classe média brasileira... isso é uma constatação com que a empresa concorda. No setor de logística isso chega a ter algum efeito positivo, levando em consideração que a renda média dos que ascenderam ainda é baixa, podendo prejudicar o desempenho do setor?

 

Roberto Rodrigues: De fato as ações foram tomadas em todo o mundo, e no Brasil não foi diferente, tiveram grande efeito nessa retomada, e nessa recuperação no momento de crise. Aqui no Brasil certamente essas diversas ações foram fundamentais para que a crise passasse de uma maneira rápida; considerando-se que outros países ainda estão em um momento mais complicado, o Brasil de fato conseguiu iniciar uma recuperação rápida. Eu acredito que muitas dessas ações que incentivaram e possibilitaram que alguns segmentos da economia reagissem prontamente, foram acertadas. E em relação ao consumo e ao crescimento desta chamada nova classe média, isso tem uma ligação direta com o nosso negócio, o transporte, ele basicamente movimenta tudo o que sai de um lugar para o outro dentro do País, seja matéria-prima, produtos agrícolas, o produto final que será distribuído para as lojas, a medida em que a economia se desenvolve, que entram mais consumidores nessa cadeia. E é isso que a gente tem percebido ao longo dos anos: que esse crescimento econômico do Brasil obviamente gera uma demanda maior por transporte, que é de onde vem o nosso otimismo em relação aos próximos anos, não apenas em 2010. Nós não apenas visualizamos que, retomando o crescimento do PIB este ano, o mercado de transporte deve crescer de 10% a 15%: nós também imaginamos que ao longo dos próximos anos essa tendência deve permanecer, que a economia deve continuar com bom desenvolvimento - e que o transporte deve acompanhar o ritmo da economia.

 

Márcia Raposo: Neste ano teremos eleições e Copa do Mundo. Para o setor de transporte isso tem algum efeito, com o aumento das vendas de televisores, rádios e outros produtos relacionados?

 

Roberto Rodrigues: Com relação à eleição nós nunca notamos qualquer impacto direto no aumento da demanda. Já a Copa do Mundo sempre gera um impacto; este é um ano, por exemplo, em que se espera um aumento significativo da venda de eletrônicos - aparelhos de DVD, televisores, ou outros equipamentos - porque as pessoas tendem a adquiri-los nestas ocasiões.

 

Márcia Raposo:- Vocês operam a linha São Paulo-Manaus, com a grande linha de produtos eletroeletrônicos que são produzidos naquele local?

 

Roberto Rodrigues: Nós operamos com muitos veículos na linha Manaus-São Paulo e também na São Paulo-Manaus, não somente com carga rodoviária, mas também com carga aérea. Temos muitos clientes que nos entregam a carga em Manaus e nós voamos esta carga até um outro ponto no Brasil a partir deste ponto nós fazemos uma distribuição rodoviária dessa mercadoria.

 

Milton Paes: Quanto representa para a TNT o transporte de carga aérea no Brasil?

 

Roberto Rodrigues: O nosso negócio de carga aérea corresponde hoje a aproximadamente 4% do nosso faturamento, o que mostra que a maior parte do nosso negócio é voltado para o transporte rodoviário; como não temos aviões operando no Brasil, essa carga aérea é movimentada através de parcerias com as companhias aéreas existentes, tanto as de passageiros, nas quais reservamos espaço, quanto as companhias cargueiras.

 

Márcia Raposo: E o efeito internet? Vemos que o comércio eletrônico cresce mais de 70% ao ano no Brasil, claro que ainda é uma base pequena, mas a entrega expressa me parece um negócio rentável. Como é esse negócio para vocês?

 

Roberto Rodrigues: De fato o conhecido e-commerce tem demonstrado um grande crescimento no Brasil ao longo dos últimos anos. E eu li uma matéria esta semana que fala que esse mercado cresceu em torno de 30% no ano passado, mesmo com a crise, que é uma excelente performance se consideramos o ano que 2009 foi. E para nós este é um segmento que tem alavancado mais negócios e colocado um pouco mais de energia: embora seja uma operação expressa, ela é uma operação mais complexa, ou seja, fazer a entrega na casa de um consumidor, em horários às vezes mais complicados, gera também algumas complexidades.

 

Veículo: DCI


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