Aumento na previsão de safra indiana derrubou as cotações da commodity, mas elas continuam bem acima da média histórica; crescimento do consumo interno ainda impedirá Índia de voltar a exportar nos próximos anos
A queda de 32% nos preços internacionais do açúcar nas últimas seis semanas gerou pânico no mercado, mas os estoques mundiais baixos devem manter um cenário ainda bem favorável para a rentabilidade das usinas brasileiras por pelo menos mais duas safras. A análise é do Rabobank, banco holandês que atua fortemente com o crédito ao setor sucroalcooleiro no Brasil.
Depois de bater recordes históricos, perto de US$ 0,30 por libra-peso, o açúcar despencou para cerca de US$ 0,19 por conta de um aumento de 2 milhões de toneladas na previsão de produção
indiana. Também houve preocupações com um aumento das exportações europeias e a falta de compradores no curto prazo. “O mercado prestou atenção demais à Índia, mas os fundamentos do mercado ainda apontam que os estoques mundiais ficarão abaixo da média histórica em 2010 e em 2011”, afirma Andy Duff, especialista global no mercado de açúcar e
álcool do Rabobank.
Mesmo quando se fala sobre a Índia, o cenário permanece positivo para o Brasil nos próximos anos, apesar da saframaior que a esperada. Esta é a segunda safra que sofre com uma grande quebra na Índia, por conta da falta de chuvas. De segundo maior exportador mundial de açúcar, atrás do Brasil, a Índia se tornou um dos maiores importadores.
Concorrência menor
Mas apesar da recuperação parcial da produção, o Brasil ainda deve ficar por mais alguns anos semesse grande concorrente no mercado internacional de açúcar. “Mesmo que a safra indiana cresça 50% em 2011, como é possível, não vejo o país sendo capaz de voltar a exportar nos horizonte próximo”, afirma Rakesh Bhartia, presidente da indústria de etanol India Glycols. O executivo é ex-presidente da Bajaj Hindustrhan (BHL), maior indústria sucroalcooleira da Índia.
O motivo que manterá a Índia ainda por alguns anos fora do mercado exportador de açúcar é o absurdo crescimento de sua demanda interna. As vendas da Coca-Colano país asiático cresceram 31% no ano passado, e as da Pepsi 32%, segundo Bhartia, mostrando o crescimento nas compras de açúcar dessas indústrias. “A população indiana deve crescer1,5%nesteano, e a economia8%”, complementaBhartia.
Ainda que a produção indiana de açúcar cresça de 16,8 milhões de toneladas na safra 2009/2010 (atual) para 24 milhões de toneladas na safra 2010/2011, e que o consumo fique estável, a Índia não conseguiria ampliar seus estoques para níveis superiores a 5 milhões de toneladas. “Podemos importar menos, mas só podemos exportar com uma produção acima de 28,5 milhões de toneladas”, calcula. No ciclo atual a Índia deve importar 7,2 milhões de toneladas, com um consumo interno de 23 milhões.
Estoques baixos
Os estoques também estão baixos em outros grandes países importadores, como a Rússia, União Europeia e Paquistão, ressalta Duff, do Rabobank. “No açúcar o preço garante boas margens e no etanol apenas 40% da frota brasileira é flex, o que cria ótimas perspectivas para as usinas brasileiras”, afirma o especialista do banco.
Veículo: Brasil Econômico