Preço de alimentos orgânicos apresenta diferença de até 115%

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Consumo e oferta de produtos crescem. Feiras especializadas são mais em conta que supermercados

 

A maior preocupação com uma alimentação mais saudável tem impulsionado o mercado de alimentos orgânicos. A oferta desses produtos já é maior em grandes redes de supermercados, feiras orgânicas e lojas especializadas, o que reflete em queda de preços, que atualmente têm uma variação de até 115% nos supermercados e feiras.

 

É o que revela pesquisa feita pelo Instituto de Defesa do Consumidor (Idec) com sete alimentos. Dos sete alimentos levantados, o tomate foi o campeão na diferença de preço em São Paulo. Na feira orgânica, o produto foi encontrado por R$ 5,95 o quilo, enquanto que no supermercado o quilo era vendido por R$ 12,81. A fruta também é a mais contaminada com resíduos de agrotóxicos.

 

Um dos motivos de as feiras orgânicas praticarem preços mais baixos é o fato de que o comerciante quase sempre é o produtor. Sem intermediários, o preço final é mais baixo. Porém, a maior parte da produção já está nas mãos das redes de supermercados.

 

Os números sobre a produção e o consumo de orgânicos ainda são imprecisos, mas quem trabalha no setor aposta no crescimento.

 

Segundo a engenheira agrônoma Araci Kamiyama, ex-gerente da Associação de Agricultura Orgânica, o mercado está crescendo devido à maior preocupação do consumidor com o tipo de alimentação e com a questão ambiental. “É difícil estimar um número, mas a produção não atende a demanda e tem muito a crescer”, disse.

 

Um dos maiores revendedores de produtos orgânicos, o Grupo Pão de Açúcar, estima que as vendas desses alimentos crescem cerca de 40% ano a ano nos supermercados da rede. Somente em 2009, o grupo faturou R$ 58 milhões com a venda desses alimentos.

 

Mas alguns números de São Paulo podem traduzir o consumo desses produtos no país e o quanto ainda pode crescer. Somente na feira orgânica do Parque da Água Branca, na Zona Oeste da capital, são mais de dois mil consumidores todos os domingos.

 

Pelos cálculos de Araci, ao menos, 15% dos paulistanos consomem algum tipo de alimento orgânico com regularidade semanal.

 

Consumidores pagam mais

 

Consumir produtos orgânicos é uma opção para muitas pessoas que procuram manter hábitos alimentares mais saudáveis, mesmo que para isso tenham que pagar mais caro. Esse é o caso do representante comercial Carlos Roberto Arid, de 40 anos, que gasta pelo menos R$ 700 por mês com esses alimentos. “Pagar R$ 7 em um quilo de tomate orgânico realmente é caro, mas não é pelo preço que vou deixar de consumir. Prefiro zelar pela minha saúde”, disse Arid, que há cinco anos mudou a alimentação por “uma questão de consciência ecológica e ambiental”.

 

A dona de casa Maria Helena Jimenez, de 52 anos, sempre consumiu produtos orgânicos por orientação do seu pai, que cultivava alguns alimentos no sítio da família. Ela gasta cerca de R$ 400 por mês com frutas, verduras e legumes orgânicos para preparar uma comida mais saudável para ela e suas três filhas. Porém, investiria mais nesses produtos se o preço fosse mais acessível. “Acho injusto o preço. Consumiria até mais, mas aí ficaria inviável (financeiramente). Além disso, ainda há poucas frutas orgânicas”, disse a dona de casa, que faz questão de comprar pimentão e pepino.

 

A aposentada Tânia Pereira Marques, de 51 anos, passou a consumir alimentos orgânicos quando engravidou, aos 37 anos. “Passei a prestar mais atenção no que comia”, disse. Hoje, também é vegetariana, mas nunca calculou quanto gasta por mês para ter uma alimentação mais saudável. “O produto orgânico ainda é caro, mas evito o não-orgânico, porque minha prioridade é com a minha saúde e da minha família”, afirmou.

 

Custo da produção é alto

 

Alimento livre de agrotóxico ou de fertilizantes é uma forma muito simplista de definir o que é um produto orgânico. A avaliação é da engenheira agrônoma Araci Kamiyama, ex-gerente da Associação de Agricultura Orgânica. Segundo ela, outros fatores são fundamentais para classificar esse tipo de alimento, como o controle do solo para evitar a degradação ambiental, a necessidade de um certificado de qualidade, o respeito ao ciclo das estações do ano, o tratamento natural contra pragas e doenças, além de mão de obra especializada e colheita na época de maturação dos alimentos.

 

Segundo Araci, as particularidades da produção dos orgânicos, aliada à produção em pequena escala, são os principais fatores que elevam o preço desses alimentos. “O custo da produção é muito maior, principalmente se comparado ao dos alimentos não-orgânicos, porque há investimento em mão de obra, nas certificações e no cuidado com o meio ambiente”, afirmou a engenheira.

 

Para a nutricionista Solange de Oliveira Saavedra, gerente técnica do Conselho Regional de Nutricionistas de São Paulo, a escolha por orgânicos está associada ao conhecimento da origem do produto e de estar consumindo um alimento seguro para saúde, além do respeito ao meio ambiente.

 

“Nesse sentido, os alimentos provenientes de uma agricultura orgânica, certificados com o selo de qualidade, apresentam um valor suplementar no plano socioeconômico porque são produzidos segundo um método que respeita o meio ambiente, o produtor e o consumidor”, disse a nutricionista.

 

Site vende cestas de produtos

 

O desejo de ter acesso aos produtos orgânicos com preços mais jutos e saber onde e como são cultivados levou um grupo de consumidores de São Paulo a criar o Sementes de Paz, um empreendimento social que revende esses alimentos de uma maneira bem diferente. Chamada economia solidária, ou de cooperação, a modalidade reúne produtores e distribuidores para venderem cestas básicas de alimentos orgânicos a consumidores associados. O objetivo é reduzir o preço e evitar o desperdício dos alimentos, uma vez que os itens são vendidos semanalmente.

 

Segundo o empreendedor Omar Haddad, de 26 anos, os produtores e distribuidores dos alimentos se organizaram em um sistema de autogestão, onde todos podem opiniar. “Não é uma associação de capital para o trabalho, mas de pessoas para o trabalho. O objetivo é gerar renda, e não lucro”, afirmou Haddad, ao lembrar que o empreendimento tem como objetivo, além do consumo, o crédito para o setor e a educação ambiental.

 

Em 2007, quando iniciou o Sementes de Paz, Haddad vendia cerca de 40 cestas orgânicas por semana. Hoje são mais de 150, mas ainda aposta no crescimento do consumo para aumentar as vendas. São cinco modelos de cestas com legumes, frutas e verduras orgânicas cujos preços vão de R$ 30 a R$ 60 cada. Os itens variam de acordo com a época do ano. O consumidor também pode montar uma cesta com produtos variados com os chamados secos e molhados, com pães, conservas, bebidas, grãos, farinhas e laticínios. Nesse caso, o consumidor pode escolher os produtos. Os pedidos podem ser feitos por meio do site www.sementesdepaz.org após um cadastro. Para entregas, o custo é de R$ 6.

 

Veículo: Diário de São Paulo 

 

 

 

 

 

 

 

 


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