Os consumidores podem não ter se dado conta, mas as varejistas de eletroeletrônicos e móveis estão repassando aos poucos a elevação da taxa de juros desde que a Selic começou a subir nos últimos meses. Os aumentos estão sendo feito a conta gotas para torná-los imperceptíveis e não assustar os clientes das lojas.
Pesquisas feitas pela firma Shopping Brasil, que coleta dados sobre as promoções anunciadas pelas varejistas em jornais e revistas no país, mostram que os juros médios cobrados subiram de 4,3% ao mês em junho para 4,9% ao mês em setembro. A empresa vende essas informações para as próprias redes de eletrodomésticos, que acompanham seus concorrentes.
Uma das armas usadas pelo varejo foi aumentar o número de parcelas para fazer com que o valor da prestação continuasse cabendo no bolso do consumidor. Até junho, cerca de 52% dos planos ficavam entre 9 e 12 vezes. Mas, a partir de agosto, passaram a predominar os planos com mais de 12 pagamentos, que hoje já representam 50% das ofertas, diz José Resende, presidente da Shopping Brasil. A Casas Bahia foi uma das redes que usou desse recurso.
Hector Nuñez, presidente do Wal-Mart do Brasil, admite que o aumento das taxas será inevitável após a elevação no custo do dinheiro. A varejista possui uma parceria com o Unibanco na área financeira e está negociando com o banco a estratégia que será adotada daqui para frente. "Vamos fazer tudo que for possível para que o aumento (da Selic) não tenha impacto para os nossos clientes", disse o executivo. Segundo ele, as taxas cobradas pela varejista não subiram até o momento.
Como as vendas que serão feitas durante o Natal serão pagas ao longo de 2009, as varejistas estão monitorando de perto as taxas nos contratos futuros de juros. Os contratos de DI ( taxa média de Depósitos Interfinanceiros de um dia) para janeiro de 2010 fecharam ontem a 14,7% ao ano.
"Não há como o varejo não ser contaminado pelas pressões da Selic", afirma Thiago Baisch, gerente de marketing da Colombo, maior rede de eletrônicos do Rio Grande do Sul. Segundo ele, a varejista também vem tentando manter as suas taxas "até o limite da capacidade" e não alterou os juros. "Mas podemos ser impelidos a mexer nas nossas no futuro".
Com a profusão de planos oferecidos pelos varejistas, que cobram juros diferentes de acordo com os prazos e as formas de pagamento (cartão de crédito e carnê), está cada vez mais difícil identificar os reajustes.
Veículo: Valor Econômico