O comando da operação de higiene e beleza do grupo Bertin tem passado por uma situação inusitada nos últimos meses. Tudo por conta do tamanho do assédio à companhia, algo inédito em três anos de história. "Somos a noiva da vez", brinca Moacir Sanini, diretor-executivo da divisão do grupo frigorífico, dono das marcas Neutrox, Francis e Hydratta. "Estão todos de olho na gente". Ciente das informações que circulam no setor a respeito da possibilidade de venda do negócio, que fatura quase meio bilhão de reais ao ano, a companhia resolveu se posicionar pela primeira vez sobre o assunto.
Desde setembro do ano passado, analistas do segmento começaram a questionar a hipótese de o grupo Bertin se desfazer dessa área de atuação após a fusão com o JBS Friboi. A maior interessada na Bertin Higiene e Beleza seria a Hypermarcas.
Com a união dos ativos dos dois frigorificos, a fábrica da Bertin, em Lins, no interior de São Paulo, que produzia a linha de itens para limpeza e cuidados para os pés, passou para a administração da JBS - que controla as marcas Minuano e Albany. Ficou nas mãos da família Bertin a área de itens de beleza, que não foi transferida para a JBS .
Questionado sobre o assunto, Sanini diz que "não existe nada que não seja 'vendável'", fala que tudo tem seu preço, mas ressalta que a Bertin Higiene e Beleza não está à venda. "É claro que se alguém oferece R$ 50 mil pelo seu Corolla, e você não quer vender, não irá aceitar. Obviamente que se oferecerem R$ 100 mil, você vende na hora. Mas no nosso caso, o Conselho [de Administração] não tem pensando em se desfazer da operação".
O interesse da Hypermarcas estaria não só nas marcas como na participação de 50% da Bertin na Unisoap, fabricante da linha Francis, conforme o Valor informou em setembro passado. Segundo fontes do setor, pela unidade fabril, a Hypermarcas ofereceu R$ 50 milhões - a Bertin pagou R$ 30 milhões. "Esse valor de R$ 50 milhões que se comenta no mercado é absurdo. A empresa fatura dez vezes mais", diz Sanini, que não confirma a aproximação da Hypermarcas.
Na avaliação do grupo, recentes mudanças na forma como têm trabalhado trouxeram resultados financeiros positivos - e isso teria despertado a atenção do mercado sobre a Bertin. A companhia cresceu 25% em receita bruta de janeiro a abril e espera manter essa taxa em 2010. Se atingir a meta, o grupo deve alcançar faturamento de quase R$ 588 milhões neste ano - foram R$ 470 milhões em 2009.
A velocidade de crescimento da Bertin Higiene e Beleza é o dobro da média do mercado, que deve crescer de 10% a 12% em 2010 no país, informa a Abihpec, entidade das indústrias do setor. O ritmo de expansão reflete uma decisão estratégica tomada três anos atrás. A Bertin fez uma "limpeza" em seu portfólio e passou a focar as ações em um conjunto menor de marcas mais fortes, que ampliaram a participação de mercado. As vendas da linha Neutrox, por exemplo, cresceram 35% em 2009.
Por conta dessa decisão, o número de itens à venda caiu de 850 para 350 desde 2007. Foram tiradas de linha marcas populares como Capi Vida e Elle e Ella. Outras, como Francis, foram encolhidas. "Foi uma decisão muito difícil e arriscada, mas era preciso fazer algo. Algumas marcas se canibalizavam", diz. "A medida faz todo o sentido e alguns grupos têm tomado esse caminho. É preciso focar investimento em categorias em que a marca pode fazer a diferença", diz Paulo Sérgio Quartiermeister, professor de gestão de marcas da ESPM.
Além disso, a companhia tomou uma decisão incomum nesse segmento. A Bertin parou de fabricar seus produtos em 2007. A produção é totalmente terceirizada, por meio de contratos com nove fabricantes. "Queremos gastar com marca e distribuição", diz Sanini.
Veículo: Valor Econômico