A consolidação do varejo, que se acentuou com a união de Casas Bahia e Pão de Açúcar, e, mais recentemente, a de Ricardo Eletro e Insinuante, mudou o tratamento dado a fornecedores de móveis e eletrodomésticos.
Quem mais reclama é o fabricante de móveis. O aumento do poder de compra do varejista deixou vulnerável a ponta fornecedora, segundo o presidente da Abimovel (Associação Brasileira das Indústrias do Mobiliário), José Luiz Fernandez.
"Sempre teve pressão do varejo por preço baixo, mas, se sua proposta não condizia com o que um deles queria, você ia procurar outro. Hoje é menos flexível", diz Sílvio Pinetti, do sindicato moveleiro de Arapongas (PR).
Numa negociação, a margem de lucro pode cair até 10%, dizem fabricantes que pedem para não ser identificados. Ponto Frio e Casas Bahia são os que impõem condições mais duras, especialmente após a fusão, dizem.
O Pão de Açúcar afirma que "não há consolidação das compras de móveis entre as áreas comerciais do Grupo Pão de Açúcar (Extra) e Ponto Frio, uma vez que as áreas comerciais das duas redes atuam separadamente".
No início deste ano, o Cade assinou um acordo para permitir a integração operacional entre as redes Ponto Frio e Casas Bahia. As empresas podem unir áreas. O departamento de compras, porém, deve permanecer separado, por decisão do Cade.
A negociação com fornecedores pode ser feita em conjunto, mas cada rede deve firmar contrato próprio.
Luiz Carlos Batista, presidente do Conselho da Máquina de Vendas, resultante da união de Ricardo Eletro e Insinuante, admite que, na junção das redes, ganharam escala e podem agora "comprar melhor. A empresa cresceu e passa a ter um poder de barganha maior. Mas temos o mesmo respeito no tratamento com o varejista".
A integração das áreas de compras das duas redes já foi concluída, assim como a do marketing. O próximo passo é integrar a logística, diz Batista.
Fornecedores de eletrodomésticos também confirmam que houve alterações na relação com o varejo após a redução do número de clientes, mas não detalham o que tem ocorrido.
De acordo com um especialista em concorrência, os fornecedores de móveis, que são mais pulverizados em empresas menores, tendem a sofrer mais que os de eletrodomésticos -que, por serem empresas de maior porte, podem rejeitar certas condições nas novas políticas de compras.
Veículo: Folha de S.Paulo