O "mundo dos plásticos" está ganhando mais espaço. O aquecimento da economia brasileira em 2010, com crescimento estimado em até 7%, joga os holofotes sobre as indústrias de produtos plásticos, que vivem este ano um do seus melhores momentos. As projeções são de expansão entre 8% e 10%, superando o período mais agudo da crise financeira global durante o fim de 2008 e em boa parte do ano passado, que restringiu a demanda no país.
A recomposição da renda, o que eleva o poder de consumo, os investimentos em infraestrutura no país, a expansão do mercado automobilístico, alimentos e bebidas são alguns dos pilares de sustentação para essas indústrias. São aproximadamente 11,5 mil no país, que deverão obter faturamento de até 15% - estima-se mais de R$ 41 bilhões este ano.
O impulso vem de todos os lados. As empresas preparam investimentos, seja no aumento da capacidade de produção de suas fábricas, modernização de máquinas e até mesmo aquisições. Os aportes este ano podem atingir cerca de R$ 4,1 bilhões, um crescimento de 21% em relação ao ano passado, seja para atender à crescente demanda das indústrias de alimentos e bebidas, construção civil e o setor automobilístico, principalmente.
No primeiro trimestre deste ano, o setor de produtos transformados de plásticos registrou forte recuperação. A produção de laminados cresceu 25,6% quando comparada com o mesmo período de 2009. O desempenho no área de embalagens plásticas foi 17,37% maior e o de artefatos plásticos diversos também subiu 25%, de acordo com dados da Abiplast (Associação Brasileira da Indústria do Plástico). Esse bom desempenho no período reflete uma forte retomada, mas vale lembrar que foi sobre o primeiro trimestre de 2009, que teve uma fraca performance por conta da crise.
A Vitopel é uma das empresas embaladas pelo otimismo. A empresa, uma das maiores da terceira geração do setor petroquímico, pretende fazer uma grande aquisição este ano para elevar sua capacidade de produção no país. Com três fábricas - duas no Brasil, localizadas em Mauá, na Grande São Paulo, e em Votorantim, no interior do Estado, e a terceira em Córdoba, na Argentina - soma uma capacidade para processar 150 mil toneladas por ano de filmes flexíveis para embalagens.
José Ricardo Roriz Coelho, presidente do grupo Vitopel, informou que há conversas adiantadas para fechar uma aquisição. Além disso, a empresa planeja investir em torno de US$ 50 milhões para elevar a produção no Brasil. "Caso a aquisição seja concretizada, vamos deixar esses investimentos para o ano seguinte."
A Europack, uma das maiores empresas da América Latina de filmes stretch (embalagem plástica), acredita em um crescimento de 6% nas vendas em volume este ano. Peter Reiter, presidente da companhia, está otimista com o crescimento do setor, mas teme que a crise na Europa possa trazer efeitos negativos para as indústrias exportadoras.
A produção nacional de transformados de plásticos ficou em torno de 5,19 milhões de toneladas em 2009, com aumento de 1% sobre o ano anterior. A expectativa é de que fique entre 8% e 10% maior este ano. O consumo aparente foi de 5,38 milhões de toneladas, alta de 1,6% sobre 2008, segundo a Abiplast. Boa parte das indústrias desse setor opera com capacidade acima de 80%.
O mês de maio praticamente repetiu a boa performance de abril, de acordo com a consultoria petroquímica Maxiquim. Com exceção das indústrias de refrigerante, que têm impacto negativo com a queda da demanda com a chegada do inverno, todos os setores têm puxado a demanda por resinas plásticas.
O ano de 2008 foi considerado positivo para o setor, apesar da turbulência financeira, sobretudo a partir do terceiro trimestre do ano. O mesmo não se pode dizer de 2009, que teve o pior primeiro trimestre para as indústrias petroquímicas globais. Muitas indústrias do setor começaram a recompor seus estoques este ano e projetam crescimento superior a 2008 neste ano.
Mas o cenário otimista para as indústrias da chamada terceira geração petroquímica do Brasil não é um movimento global. Nos Estados Unidos e Europa, por exemplo, a demanda continua retraída, ainda como um reflexo da crise financeira, segundo analistas ouvidos pelo Valor.
Sul de Minas atrai novos empreendimentos no setor
Aos poucos, as indústrias transformadoras começam a fazer novos investimentos para desgargalar a produção e também planejam novas fábricas para avançar em importantes mercados consumidores.
Minas Gerais, sobretudo na região sul do Estado, tem sediado aportes importantes da terceira geração petroquímica. A cidade mineira de Extrema, que fica próxima a São Paulo, é o exemplo mais recente de atração de novos investimentos.
Além dos benefícios fiscais concedidos pelo governo mineiro, a localização geográfica também tem atraído empresas para o município. Extrema abriga desde empresas de chocolates - o caso mais recente é a Barry Callebaut - a transformadoras plásticas, casos da Zaraplast e Dalka do Brasil, que vão montar unidades na cidade, informa Péricles Mazzi, secretário de Indústria e Comércio da prefeitura de Extrema. Os investimentos das duas empresas devem somar, juntos, cerca de R$ 60 milhões.
A Zaraplast, com nove fábricas, confirmou ao Valor o investimento na nova unidade. O aquecimento da demanda pelas indústrias de alimentos e mercado automobilístico justifica os investimentos da empresa em expansão. A instalação de Minas será para produzir equipamentos higiênicos, como fraldas descartáveis. Procurada, a Dalka não quis se pronunciar.
Otávio Carvalho, da consultoria petroquímica Maxiquim, lembra que Minas Gerais já teve importância no setor plásticos e agora retoma os investimentos. A italiana Mossi & Ghisolfi (M&G) desativou há alguns anos uma de suas fábricas, instaladas no Estado. Com ativos em Pernambuco, a fábrica mineira foi fechada por conta de seu parque industrial desatualizado.
Segundo Adriano Magalhães, diretor do Instituto de Desenvolvimento Integrado (Indi), braço da Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado de Minas Gerais, há várias consultas de empresas do setor interessadas em fazer investimentos no Estado.
Fontes do setor afirmaram ao Valor que muitas empresas instaladas em São Paulo procuraram fazer seus novos investimentos fora do Estado, em busca de incentivos fiscais.
Para José Ricardo Roriz Coelho, presidente da Vitopel, que também está à frente da Abiplast (Associação Brasileira da Indústria do Plástico), a migração de empresas da região Sul do país para outros Estados tornou-se comum. (MS)
Veículo: Valor Econômico