A Cosan, maior empresa sucroalcooleira do mundo, lidera uma tendência no setor: aumentar o volume de açúcar protegido em mercados futuros em meio à expectativa de uma produção abundante no Brasil e na Índia, dois principais produtores globais, em 2010/2011.
"A Cosan está seguindo uma tendência inteligente do mercado. É uma estratégia das grandes empresas", diz Paulo Costa, especialista em agronegócios e bioenergia e associado do escritório Buranello Passos Advogados. Costa acrescenta que "empresas como Cosan e Copersucar têm a vantagem de serem flexíveis e acompanhar o mercado."
Em 31 de março, fechamento do ano fiscal da companhia, a Cosan tinha hedge em futuros para um volume de 1,7 milhão de toneladas de açúcar para o ano fiscal 2010/2011, com preço médio de 20,3 centavos de dólar por libra-peso, e para outras 512 mil toneladas para 2011/2012, a um preço médio de 18 centavos de dólar por libra-peso. De acordo com Marcos Lutz, diretor presidente da Cosan, esse volume protegido aumentou.
"A gente tenta fazer algo próximo disso ficar de meio a um ano de produção fixada. Esse número continua evoluindo, porque a gente vem percebendo a grande produção brasileira e indiana para acontecer este ano", afirmou Lutz, sem dar detalhes do volume atual sob hedge.
O volume com hedge em mercado futuro para as duas safras (2010/2011 e 2011/2012) equivalia, no final do ano fiscal da empresa, a mais da metade do que a Cosan produziu em 2009/2010 (3,5 milhões de toneladas).
"A gente tende a acelerar [o hedge] um pouco mais quando a gente vê um mercado mais solto em termos de oferta e demanda. Quando o mercado fica mais apertado, a gente tende a ficar menos avançado e fixar menos", afirmou o executivo.
Lutz ressaltou que, com o aumento do consumo global de açúcar na próxima temporada (2011/2012) e o crescimento da demanda por etanol no Brasil, simultaneamente a uma produção de cana brasileira "não aumentando muito", o quadro ficará mais apertado.
A se confirmar essa estratégia, o hedge na commodity diminuiria em 2011/2012, com o mercado mais apertado. "O que vai acontecer, na nossa visão, é que a outra safra vai ser parecida com o tamanho desta safra, não vemos crescimentos, porque os canaviais paulistas estão menos renovados e o mercado acho que não contabiliza isso ainda", afirmou.
Segundo ele, na próxima safra (2011/2012) o consumo global de açúcar aumentará mais 3 milhões de toneladas, o Brasil elevará em até 3 bilhões de litros o consumo de etanol, "e a safra brasileira não aumenta muito."
Nesta safra (2010/2011), a Cosan observa uma "combinação de estoques muito baixos mundo afora, mas, por outro lado, grande produção acontecendo na Índia que constantemente vem sendo revisada para cima", além de uma safra recorde no Brasil. "No final deste ano, vai começar a ter uma visibilidade mais forte de curva de oferta, e demanda mais apertada", ressaltou.
A Cosan prevê uma safra 2010/2011 mais açucareira, afirmou Lutz, ao comentar os dados do processamento, esperado em até 62 milhões de toneladas de cana, mais de 10 milhões a mais em relação a 2009/2010. "Fizemos investimentos que aumentam a capacidade em cerca de 400 mil toneladas por ano. São investimentos só na fábrica de açúcar, não na capacidade inteira da unidade", afirmou Lutz, lembrando que a companhia aumentou a produção de refinado depois da incorporação da NovaAmérica.
Na semana passada, a Cosan anunciou lucro líquido de R$ 308,7 milhões no quarto trimestre do ano fiscal de 2009/2010, ante prejuízo de R$ 40,2 milhões um ano antes. "A estiagem que comprometeu a safra 2009/2010 de cana-de-açúcar na Índia deve gerar bons lucros a todo o setor sucroalcooleiro brasileiro até 2012", afirma Miguel Biegai, analista da Safras & Mercado. Para ele, a maioria das empresas do setor terá lucro garantido nesta temporada pelo aumento da produtividade, principalmente aquelas que operaram hedge.
A Cosan prevê receita líquida de R$ 16,5 a R$ 18,5 bilhões na nova temporada, ante R$ 15,3 bilhões em 2009/2010.
Veículo: DCI